Lançado documentário sobre os 15 anos da cooperação do Brasil com o sistema de saúde do Haiti

O Brasil acaba de lançar um documentário especial, que marca a conclusão de 15 anos de iniciativa de cooperação bilateral do país em apoio ao fortalecimento do sistema de saúde do Haiti, no quadro da Cooperação Sul-Sul, com a participação dos seguintes órgãos: Ministério da Saúde do Brasil, em estreita parceria com o Ministério das Relações Exteriores, por meio da Agência Brasileira de Cooperação (ABC) – encarregada de coordenar e impulsionar projetos de cooperação para o desenvolvimento –, com a inestimável colaboração das instituições homólogas e amparo do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). A cooperação foi marcada por investimentos, reconstrução de infraestruturas hospitalares e qualificação de profissionais médicos e paramédicos no país caribenho.

A iniciativa compreendeu em essência dois projetos: um, intitulado “fortalecimento da Autoridade Sanitária do Haiti”, executado entre 2010 e 2018, do qual resultou a construção de hospitais, de unidade de órteses e próteses, de estrutura de armazenamento de vacinas e do Centro Nacional de Ambulâncias – CNA (equivalente ao nosso SAMU); outro, para “fortalecimento da gestão dos serviços e do sistema de saúde no Haiti”, implementado entre 2017 e 2024, com subsequente aprimoramento da capacidade administrativa local de estabelecimentos médicos, ademais da construção de unidade de concentração de oxigênio. Em ações correlatas, o Brasil doou insumos médicos básicos, sobretudo durante a pandemia de Covid-19, dentre os quais equipamentos de proteção individual (EPIs).

Segundo o Embaixador do Brasil no Haiti, Luís Guilherme Nascentes da Silva, “testemunho, com satisfação, o legado positivo dessa ampla iniciativa do Brasil em matéria de saúde, cujas ações multidimensionais foram muito além da construção de hospitais e da qualificação de especialistas no Haiti”. Para o Embaixador Luís Guilherme, “a cooperação se distinguiu por ter permitido a apropriação de competências por parte dos haitianos, que passaram a ter maior autonomia de gestão e resiliência para lidar com os permanentes desafios no setor da saúde”. E conclui: “Claro que ainda há e sempre haverá muito o que fazer nessas e em outras áreas. O Brasil permanece à disposição para analisar novas perspectivas de cooperação com o Haiti, de maneira não condicionada, com base em demandas e prioridades locais, como fazemos tradicionalmente na cooperação para o desenvolvimento praticada pelo Brasil”.        

Já para o coordenador de projetos do Ministério da Saúde, Paulo Rodopiano, tal iniciativa brasileira foi essencial para ajudar a reconstruir parte do setor de saúde do Haiti. “O Presidente Lula foi muito assertivo a respeito, com o grande espírito humanitário que lhe é peculiar, ao dar o primeiro passo para essa cooperação, lá em 2010, imediatamente após a destruição causada pelo devastador terremoto. Não fosse tal abrangente cooperação do Brasil, não teria havido resultados estruturantes tão promissores e longevos”, avaliou. 

O documentário tem duração de 10 minutos e está disponível na plataforma Youtube do Ministério da Saúde, da ABC e do PNUD.  

Cooperação em saúde entre Brasil e Haiti 

Embora o Brasil já contribua há décadas com o Haiti em diversas frentes, tal iniciativa específica em saúde teve início em 2010, após o impactante terremoto que assolou o país. Mediante aportes do Brasil, foram ali construídos três hospitais (Hospital Dra. Zilda Arns; Beudet; e Carrefour), além do Instituto Haitiano de Reabilitação, que passou a contar com laboratório próprio de órteses e próteses. As ações correspondentes também permitiram capacitar 1.500 profissionais de saúde haitianos, distribuir 100 mil doses de vacinas, oferecer 400 toneladas de medicamentos e adquirir – e manter – 40 ambulâncias equipadas. 

A continuidade dessa cooperação foi assegurada por financiamento parcial do então Fundo de Reconstrução do Haiti (FRH). Dos mais de 400 milhões de dólares que compunham esse fundo internacional, encerrado recentemente, cerca de 20 milhões foram destinados àquela iniciativa em saúde do Brasil, que, aliás, chegou a despontar como segundo maior doador do FRH, com 55 milhões de dólares. 

Ao longo desses 15 anos, o Brasil e o PNUD trabalharam em estreita articulação com as autoridades haitianas, consultadas continuamente para identificação precisa das demandas locais e eventual readaptação dos projetos às necessidades no terreno. Houve, inclusive, a aplicação de 97% dos recursos previstos para tais ações em reforço a serviços públicos de saúde no Haiti, com avanços qualitativos e quantitativos na estrutura de atendimento à população. 

Outro resultado digno de nota foi a transferência ao Haiti da gestão dos três hospitais mencionados, bem como do Instituto de Reabilitação, após intenso trabalho de formação e capacitação de profissionais locais por especialistas brasileiros. A melhoria significativa do Centro Nacional de Ambulâncias (CAN) foi outra conquista dessa cooperação, com reforma de oficina de viaturas; fornecimento de peças; reparos estruturais; modernização; e treinamento para utilização e gerenciamento daquela unidade. 

A iniciativa brasileira também contribuiu para o robustecimento da resiliência e da capacidade de resposta do Haiti a emergências sanitárias e climáticas, recorrentes nesse período. Após a passagem do Furacão Matheus, em 2018, que destruiu parte do Hospital Santo Antônio, o Brasil auxiliou na reconstrução de seus três centros cirúrgicos, em prazo exíguo de seis meses. Em 2021, quando de novos terremotos em Porto Príncipe, o Centro Nacional de Ambulâncias (CAN) e o Hospital Dra. Zilda Arns foram particularmente providenciais no atendimento a vítimas. Já durante a pandemia de Covid-19, o Brasil logrou redirecionar parte dos recursos de um dos projetos para doar máscaras, EPIs, termômetros e equipamentos de oxigenação. 

Mesmo após ressurgimento de quadro de instabilidade no Haiti, notadamente a partir de 2022, equipes técnicas do Brasil e do PNUD ainda assim conseguiram efetuar missão de campo em 2023 para finalização de atividades dessa extensa iniciativa em saúde, mediante instalação, por exemplo, de sistemas de GPS em viaturas do Centro Nacional de Ambulâncias (CAN). 

Em suma, essa bem-sucedida iniciativa em saúde se inscreve no dinâmico e amplo contexto da cooperação do Brasil para o desenvolvimento do Haiti, em que sempre se procurou contemplar várias outras ações concomitantes e paralelas, em diversas frentes.     

Dentre estas, desponta mais recentemente a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, lançada em novembro de 2024, na Cúpula do G20 no Brasil, que a propôs e ajudou a concebê-la. Com abordagem inovadora, a Aliança busca acelerar o progresso em direção aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODMs 1 e 2), com apoio coordenado de seus membros a políticas e programas nacionais.  

Em vez de países competirem pela atenção de doadores com propostas fragmentadas, a Aliança induz processo estruturado em que os governos elaboram planos estratégicos de implementação para programas baseados em políticas públicas com êxito comprovado, como ora sucede com o Haiti.  

O Haiti logrou ingressar na Aliança – já com mais de 200 membros –, com respaldo do Brasil, que o auxiliou no processo de adesão à respectiva Iniciativa ´Fast Track`, bem como em avançar seu “plano nacional”, anunciado na Primeira Reunião de Líderes da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, em Doha, em novembro de 2025. Na ocasião, o Haiti demonstrou contar com linhas de ação concretas e consistentes para efetivar medidas contra a fome e a pobreza, em alinhamento com múltiplos parceiros em torno de prioridades nacionais. 

O Brasil se orgulha em ser parceiro do Haiti e fará de tudo a seu alcance para continuar a contribuir para seu desenvolvimento.