Notícias
Exposição celebra 34 anos do Candomblé no Amapá
Exposição celebra 34 anos do Candomblé no Amapá
A exposição “Os Deuses Africanos e os Processos Civilizatórios” do artista plástico Valter Vieira reúne artefatos, vestes e peças pertencentes a religiões de matriz africana. As peças podem ser vistas a partir desta terça feira (12) ás 14 horas, no Museu de Arqueologia e Etnologia do Amapá (MAE), no Centro de Macapá.
O artista e historiador Valter Vieira é especialista em saberes africanos e realiza a exposição em parceria com o Grupo de Estudos de Religiões de Matriz Africana na Amazônia (GERMAA) da Universidade Federal do Amapá (Unifap) e o grupo de pesquisa da Universidade do Estado do Pará (Uepa). O artista paraense explica que o objetivo da exposição é mostrar a religiosidade nos terreiros de Candomblé, apresentando ao público as vestimentas e as tradições que compõe a religião de matriz africana.
A exposição “Os Deuses Africanos e os Processos Civilizatórios” celebra os 34 anos do Candomblé no estado, a entrada é franca e a mostra ficará disponível até o dia 17 de maio.
Quilombola recria contos e lendas da Amazônia em vídeos de animação
Histórias, lendas e contos de uma comunidade quilombola no município de Barcarena, no nordeste do Pará, foram transformados em vídeos de animação no Trabalho de Conclusão de Curso da professora Maria do Carmo Freitas , concluinte do curso de Licenciatura em Artes Visuais da Universidade Federal do Pará (UFPA), por meio do Plano Nacional de Formação de Professores (Parfor) .
A família de Maria do Carmo é oriunda da comunidade quilombola Gibrié de São Lourenço , na zona rural de Barcarena, onde ela atua como professora da Educação Básica. Maria do Carmo conta que sempre teve a intenção de trabalhar com a história e a cultura da comunidade.
“Estas narrativas, estas contações de histórias que meu povo tem fazem parte da minha vida e do meu repertório histórico e cultural, porque era uma cultura nossa sentar ao redor da fogueira, enquanto os mais velhos contavam histórias à noite” , diz a professora.
Linguagem contemporânea – A iniciativa de apresentar o conhecimento tradicional de sua comunidade em uma linguagem contemporânea como a animação foi elogiada pela professora Ida Hamoy, coordenadora do curso de Artes Visuais no Parfor. “ É uma geração jovem que começa a perceber o quanto essas novas tecnologias podem trazer de volta uma linguagem que talvez estivesse esquecida” , destaca Ida Hamoy.
Segundo a coordenadora, a retomada do patrimônio cultural dos municípios é um dos objetivos trabalhados durante as aulas do curso no Parfor. “Os alunos são instrumentalizados para fazer esse mapeamento e devolver para a comunidade uma resposta de tudo aquilo que foi recebido” , explica.
Ida Hamoy também foi a orientadora do trabalho de Maria do Carmo e celebra o impacto imediato que o Parfor provoca, interferindo diretamente na educação dentro dos municípios que recebem turmas do programa.
“O Parfor é uma intervenção imediata na escola, porque os alunos do programa já são professores. Vários trabalhos que desenvolvíamos em nossas disciplinas eram imediatamente aplicados pela Maria do Carmo com as crianças aqui, do quilombo, e, no semestre seguinte, ela já trazia os resultados” , relembra Ida Hamoy.
Produção –
Após mapear as histórias entre os habitantes mais velhos da comunidade, a professora Maria do Carmo optou por reproduzir os contos de visagem por meio de narrativas gráficas. A ideia de transformar os contos em vídeos de animação veio após entrar em contato com a técnica de
stop-motiondurante
as aulas da disciplina Laboratório de Animação, ministradas pelo professor Márcio Lins de Carvalho.
“Sempre procurei aliar o que aprendia dentro da Universidade com a minha prática pedagógica dentro de sala de aula. Fui ressignificando minha prática à medida que eu ia absorvendo os conhecimentos. Decidi contar essas histórias e convidar minha turma para fazer esses vídeos” , conta Maria do Carmo.
Para produzir as animações, formou uma equipe de cinco alunos, que participaram com ela da coleta das histórias, da elaboração dos roteiros, dos storyboards e dos cenários das animações, além de captarem todas as fotografias que compõem os vídeos animados em stop-motion .
Pedro Lucas, de 11 anos, foi um dos alunos que mais se empenharam na produção dos vídeos e chegou a instalar aplicativos de stop-motion no telefone celular da mãe para produzir vídeos caseiros. “É importante que muita gente fique sabendo das histórias. Se os idosos que contavam essas histórias não contarem mais, elas vão morrer” , diz o aluno.
Comunidade –
Após produzir os primeiros vídeos, a professora Maria do Carmo deu sequência ao projeto, e mais alunos puderam participar. Atualmente, o canal da professora no
YouTube
conta com oito vídeos produzidos em parceria com os alunos.
“Eu queria fazer com que eles (os alunos) se apropriassem dessas histórias, dessas narrativas e passassem a reproduzir. Acredito que tenham se apropriado, tanto da técnica (stop-motion) quanto dessas narrativas” , conta a professora.
Uma prévia dos vídeos foi apresentada no encontro de comunidades quilombolas de Barcarena, e a iniciativa foi aprovada pelos moradores das comunidades. “ Para nós, foi um ganho muito grande e muito importante. Nossos contos estavam sendo todos perdidos, pelo fato de não terem sido registrados” , conta Mário Assunção, coordenador da comunidade Gibrié de São Lourenço.
Os vídeos de animação representam cenas que fizeram parte da vida de moradores da comunidade, como a história da “Matinta Pereira que assustava a Tia Carlota”, moradora mais velha da comunidade. Ela garante que a Matinta Pereira ainda transita à noite pela região, assoviando pelas estradas de terra do quilombo.
Mara Ferreira é moradora da comunidade quilombola e atua há 21 anos como professora na zona rural de Barcarena. Ela passou a usar as animações em suas aulas.
“É uma ‘sementinha’ — cabe a eles, agora, passar pra frente. Se eu soubesse o tanto de riqueza que havia naquelas histórias que meu avô contava, eu teria escrito ou gravado”
, afirma a professora.
Para Osmarina Santos, de 80 anos, as animações lhe permitiram relembrar a juventude. “Eu tinha uns 10 anos quando tudo isso era contado, era visto: Matinta Pereira, Mãe do Mato, Curupira. Fico pensando: ´Meu Deus! Será que isso é verdade?’ Hoje ninguém acredita mais em nada, é uma descrença que não tem tamanho. Mas as minhas histórias são verídicas, isso aconteceu” , diz dona Osmarina Santos.
Armando Freitas, de 72 anos, também foi um dos contadores de história do projeto e acredita que falar sobre os encantamentos e as entidades da floresta é uma forma de repassar a importância de respeitar a natureza. “É uma coisa para os adolescentes entenderem qual a diferença do mundo de hoje para o mundo de antigamente. As crianças aprenderem essas histórias é uma forma de respeitar a natureza, porque a gente morre e a história fica” , diz Armando.
As histórias de visagem também encantam os moradores mais novos da comunidade, como Maria Helena, de 7 anos. “ Agora, as histórias vão ficar famosas na internet e todo mundo vai querer conhecer as pessoas que viram as visagens e contaram as histórias. Se a gente não contar essas histórias, quem vai contar?” , pergunta Maria Helena.
(CLIQUE AQUI) e acesse o canal da professora.
Texto e fotos: Alexandre Nascimento
Assessoria Parfor
Há 55 anos acontecia a Marcha de Selma a Montgomery
Há 55 anos, a Marcha Pelos Direitos Civis marcou um momento histórico na luta do povo negro americano, onde cerca de 600 pessoas marcharam de Selma , cidade do Alabama, até a capital Montgomery , para reivindicar direitos básicos e fundamentais.
O movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos teve início em 1955 para garantir a luta dos negros estadunidenses e abolir a segregação racial no país. A situação da população negra nos EUA retratava a inferiorização a qual o povo negro estava submetido em relação ao povo branco . As leis de Jim Crow institucionalizaram a separação entre negros e brancos, utilizando o lema ”Separados, mas iguais”. As l eis proibiam por exemplo, casamentos inter-raciais e separação de escolas, parques e prisões.
Em 1° de dezembro de 1955, em Montgomery, Rosa Parks entrou para a história quando se recusou a se levantar para que um homem branco sentasse em seu lugar no ônibus e acabou sendo presa, julgada e condenada. O caso de Parks e o surgimento de outros movimentos impulsionaram a luta pelos direitos civis nos EUA. Um dos primeiros atos realizados foi o boicote ao transporte público de Montgomery, que ficou a beira da falência devido esta manifestação. Além deste episódio, o movimento pelos direitos civis nos EUA ficou conhecido por outros momentos importantes como a Marcha de Washington, que reuniu cerca de 1 milhão de manifestantes e foi liderada por Martin Luther King . Os manifestantes marcharam até a capital do país para protestar em favor da igualdade de direitos.
No dia 7 de março de 1965, manifestantes negros caminhavam pacificamente de Selma até Montgomery reivindicando o direito dos afro-americanos irem às urnas, direito esse que foi retirado por conta da segregação racial. A multidão acabou bloqueada perto da Ponte Edmund Pettus sobre o Rio Alabama e a polícia agrediu violentamente os participantes do protesto, no episódio que ficou conhecido como Domingo Sangrento .
Os estudantes realizaram marchas em Selma que quase sempre acabavam em violência policial e até prisões dos manifestantes, com a intensificação das manifestações jovens que integravam a Ku Klux Klan eram chamados para perseguir os ativistas.
Os negros representavam metade da população de Selma, mas apenas 2% da população era registrado como eleitor, e essa característica se repetia em vários estados no Sul dos EUA.
No dia 9 de março intitulada de “Terça-feira da reviravolta” os manifestantes tentaram novamente atravessar a ponte, desta vez com a presença de Martin Luther King, onde manifestantes e polícia ficaram frente a frente mas para evitar um novo confronto, King convenceu os militantes a não seguir adiante naquele momento. A terceira tentativa ocorreu em 16 de março, os manifestantes em sua maioria negros, mas alguns asiáticos e latinos marcharam ao lado de King até serem cercados por dois mil soldados americanos, membros da Guarda Nacional e agentes do FBI; os manifestantes avançaram 16 quilômetros pela “Rodovia Jefferson Davis” . Finalmente, em 24 de março chegaram a Montgomery e a Câmara Legislativa do Alabama em 25 de março.
No dia 7 de Agosto de 1965, o presidente Lyndon Johnson assinou a Lei que dava o direito ao voto, uma importante conquista que representou a vitória da Marcha de Selma. Essa manifestação revelou a força da convicção de centenas de afro-americanos pela luta por direitos humanos básicos.
Em 2015, Amelia Boynton Robison, uma importante ativista defensora dos direitos civis nos EUA e figura de grande importância durante a marcha em defesa do direito ao voto em Selma foi conduzida em sua cadeira de rodas pelo ex presidente Barack Obama durante uma celebração para lembrar ao momento histórico de 7 de março de 1965.
A história da Marcha pelos direitos civis foi contada no filme “Selma, uma história pela igualdade” lançado em 2014, que retrata a luta do ativista Martin Luther King e dos militantes pelos direitos civis da população negra nos EUA.
Fontes:
Por muito tempo na história ‘‘Anônimo’’ foi uma mulher
Virgínia Wolf
Hoje, 8 de março, é o dia de comemorarmos, em todo mundo, as conquistas sociais, políticas e econômicas das mulheres. Ao longo da história, as mulheres transformaram o mundo, na ciência, na tecnologia, na literatura, nas artes. Enquanto guerreiras, por séculos repeliram invasões estrangeiras e defenderam suas terras. Como esquecer dos feitos das ‘‘Amazonas do Daomé’’, bravas guerreiras da África Ocidental que inspiraram as Dora Milaje do filme Pantera Negra, ou da Rainha Nzinga Mbandi que durante quatro décadas representou a resistência dos reinos de Ndongo e Matamba, atualmente parte de Angola, ao colonialismo português.
Ainda hoje, meninas e mulheres precisam lutar para terem garantido seus direitos básicos – direito à vida, à educação, ao seu corpo, às suas escolhas, à equidade de gênero. Cotidianamente, buscam o empoderamento, a presença em espaços de tomadas de decisão, a participação na vida pública. Hoje, podemos também abordar as desigualdades de gênero que ainda assolam o mundo, sobretudo o Brasil; os crescentes níveis de feminicídio; as disparidades salariais entre homens e mulheres, apesar destas estarem em maior número nas Universidades. Entretanto, lembremos as meninas, as mulheres, os coletivos femininos que lutam para modificar as estruturas desiguais as quais as sociedades estão construídas. Lembremos a jovem paquistanesa Malala Yousafzai, Prêmio Nobel da Paz de 2014 pela sua luta pelo direito das meninas paquistanesas estudarem; Wangari Maathai, queniana, ativista política e Nobel da Paz de 2004 pela sua luta pela conservação das florestas e do meio ambiente.
Em 2019, a ONU Mulheres elegeu como tema global para o Dia Internacional das Mulheres: ‘‘Pensemos em igualdade, construção das mudanças com inteligência e inovação’’, obviamente, sem esquecer as estruturas desiguais da sociedade no quesito gênero e raça, mas centrando as reflexões nas formas inovadoras para a defesa da equidade de gênero, da justiça e do empoderamento feminino. As mulheres, no Brasil e em diversos países, ainda precisam lutar pelos seus espaços, sobretudo quando pertencentes a grupos étnico-raciais entendidos como minorias, como o caso de mulheres indígenas. Neste sentido, lembremos Joênia Wapichana, deputada federal eleita por Roraima e primeira indígena eleita para o Congresso. Na ‘‘casa do povo brasileiro’’, o Congresso Nacional, na atual legislatura, temos o maior percentual de mulheres em 30 anos, com 77 deputadas, mas ainda assim apenas 15% dos parlamentares, número bem inferior ao mínimo de candidaturas femininas estipulado em lei, de 30%, e à proporção de mulheres na população, de 51%.
O dia 8 de março nasceu da luta feminina no início do século XX, da luta de mulheres operárias por melhores condições de trabalho e de salário, condições de criarem seus filhos e manterem suas famílias. As pautas do século XXI não são muito diferentes daquelas postas pelas mulheres da indústria têxtil e por isso, enquanto a equidade de gênero não for uma realidade, bem como o respeito à vida e a dignidade da mulher nos quatro cantos do mundo, o Dia Internacional da Mulher se manterá como um dia de luta, reflexão, resgate histórico e memória às mulheres que ao longo do tempo ousaram mudar o cenário.
Quilombhoje: espírito de quilombo nos dias de hoje. Desde 1980 colocando mais africanidade na literatura brasileira
Hoje, 28 de fevereiro, marca os 39 anos de criação do Grupo Quilombhoje Literatura que, em 1980, abriu espaço para que escritores negros pudessem fazer e discutir literatura. Mas, qual a importância de um coletivo que reúne escritores negros? Entenda a importância social e política do Quilombhoje e de outros grupos e editoras com temática racial.
A ideia de brasilidade foi construída no século XIX e a literatura teve papel importante nesta construção. Como expressa a professora Drª. Florentina Souza, intelectuais do século XIX fizeram da literatura veículo de construção e transmissão de ideias e valores que compuseram os discursos oficiais sobre o Brasil, os quais José de Alencar, Machado de Assis, Joaquim Nabuco, entre outros. Neste sentido, políticos e intelectuais elegeram quais símbolos ou grupos enaltecer ou esquecer nesse processo de construção identitária e, o elemento negro, ora era invisibilizado, ora, retratado a partir de estereótipos racistas. Algumas obras alçadas à condição de clássicos literários corroboram com esta perspectiva. A Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães, apresenta a heroína escravizada com características brancas a fim de ressaltar a humanidade desta. No romance O Cortiço, de Aluísio de Azevedo, nos deparamos com a bestialização com a qual foi retratada a ‘‘escrava Bertoleza’’ e a erotização da ‘‘mulata Rita Baiana’’.
Entre os séculos XIX e século XX, alguns autores proeminentes negros buscaram trazer à tona as condições impostas aos escravizados e seus descendentes, entretanto, muitos destes autores ficaram à margem do cânone literário brasileiro, tendo sido resgatados na contemporaneidade. Entre estes autores, destacamos Luís Gama, filho de uma africana escravizada e um português; Lima Barreto, neto de escravizados; Solano Trindade; Maria Firmina dos Reis que, em 1859 publicou Úrsula, o primeiro romance de temática abolicionista no Brasil; José do Patrocínio; André Rebouças e Cruz e Souza, escritores negros que retrataram o negro enquanto sujeitos de suas próprias histórias.
Inseridos em um contexto de exclusão social e racial e de séculos de silenciamento, as vozes literárias negras ganharam força a partir grupos, jornais e associações no início do século XX. A partir destes encontros, como lembra Florentina Souza, promoviam confraternizações, cursos e festas na tentativa de romper as barreiras da política cultural da época; O Clarim da Alvorada, o Jornal Quilombo, dirigido por Abdias do Nascimento, o Teatro Experimental do Negro, Jornal do Movimento Negro Unificado, os Cadernos Negros, entre outros grupos da imprensa, arte, política, literatura foram exemplos de grupos que reuniam artistas e intelectuais negros.
Na luta contra a exclusão e o silenciamento, a população negra, especificamente no campo da literatura, tem feito uso de coletivos como forma de fortalecimento, resgate da história e da cultura afro-brasileira, de inclusão político-social, mas também como forma de superar as dificuldades mercadológicas. O grupo Quilombhoje, que nesta data comemora 39 anos de criação, é uma das vozes dessas expressões.
O Quilombhoje foi fundado em 1980 por Cuti, Oswaldo de Camargo, Paulo Colina, Abelardo Rodrigues e outros escritores com o objetivo de discutir e aprofundar a experiência afro-brasileira na literatura, incentivar o hábito da leitura e promover a difusão de conhecimentos e informações sobre literatura e cultura negra. Em 1982, com a entrada de Esmeralda Ribeiro, Márcio Barbosa (atuais coordenadores), Miriam Alves e Oubi Inaê Kibuko, o grupo assumiu a organização dos Cadernos Negros (coletânea publicada anualmente desde 1978), que tornou o grupo conhecido nacionalmente.
O Grupo publica autores negros e incentiva outros a seguirem o exemplo, fomentando a produção literária negra, historicamente excluída das grandes editoras. É importante ressaltar que a escritora Conceição Evaristo foi revelada na década de 1990, nos Cadernos Negros. Conceição Evaristo, em 2018, foi candidata a ocupar a cadeira nº 7 da Academia Brasileira de Letras, lugar, até então, nunca ocupado por uma escritora negra.
Pesquisa realizada pela professora Drª Regina Dalcastagnè, em 2005 e que resultou no livro “Literatura Contemporânea – Um Território Contestado” (2012), revelou o cenário literário e editorial brasileiro. 93,9% dos autores e 92% dos personagens, numa sociedade onde 54% da população é negra, são brancos. 7,9% dos personagens são negros e só 5,8% destes sãos protagonistas, dos quais, ainda, 20,4% eram bandidos ou contraventores, 12% empregados domésticos e 9,2% escravizados.
Para minimizar e combater os efeitos desta modalidade de racismo institucional, editoras com recorte racial têm se tornado uma importante ferramenta de inclusão. As editoras Malê, Ogums, Nandyala, bem como o grupo Quilombhoje têm constituído caminhos para a publicação de autores negros, na contramão do cenário editorial brasileiro, seguindo e atualizando a herança de Luís Gama, Cruz e Souza, Lima Barreto, Solano Trindade e Carolina de Jesus. Esta, ainda tímida mudança no cenário, tem feito com que eventos, feiras e bienais literárias foquem em temas como diversidade e convide autores de diversos segmentos sociais e étnico-raciais, especificamente negros e indígenas. Esta mudança, no entanto, ainda não é observada nas livrarias Brasil a fora, onde a presença de autores negros é mínima.
E você, quantos autores e autoras negras já leu?
Para saber mais:
Site Quilomhoje: https://bit.ly/2EEUPkQ
Florentina Souza – Literatura Afro-Brasileira: algumas reflexões: https://bit.ly/2BVvxNk
Conheça o Bitonga Travel – Um projeto que tem objetivo democratizar viagens entre mulheres negras
O projeto Bitonga Travel tem como objetivo democratizar viagens entre mulheres negras, incentivando-as a conhecer não só suas respectivas cidades, mas outros lugares no Brasil e no mundo.
Bitonga é uma língua da família bantu de tronco nigero-congolês, que traz traços fonológicos semelhantes aos sons do português brasileiro e muito falada na região do Inhambane, em Moçambique.
A idealizadora do projeto, Rebecca Aletheia se reuniu com cerca de quatorze viajantes e influenciadoras negras para discutir a questão da negritude feminina no espaço turístico. Durante a apresentação do projeto que ocorreu na praia da Guaiuba no Guarujá, litoral de São Paulo, uma questão recorrente entre todas as participantes foi a de que mulheres negras não se sentem representadas pelo turismo, sendo muitas vezes excluídas e desconsideradas em várias áreas do setor turístico.
Atualmente a rede é composta por 65 correspondentes brasileiras, dominicanas, peruanas, angolanas e moçambicanas e os encontros ocorrem em São Paulo, mas também são realizados on-line.
Para encorajar ainda mais as mulheres negras a viajarem, o projeto tem parceria com agências de viagens geridas por mulheres negras; além disso, organiza viagens coletivas a fim de retratar a história e a cultura negra através dos destinos escolhidos.
“Reunir mulheres negras viajantes da América Latina e do Caribe tem muito significado para outras mulheres. Muitas vezes elas se vêem sozinhas no espaço de viagem. Isso acontece porque é difícil encontrar mulheres negras viajando por conta da própria economia. Uma mulher negra recebe menos que uma mulher ou homem branco, elas estão nas periferias, não têm acesso ao centro da cidade, cuidam das casas, dos filhos, da família, da mãe, pagam aluguel, ou seja, são vários os fatores que impedem”, explica Rebecca Aletheia que conheceu cerca de 22 países.
O Bitonga Travel reforça a importância de viajar não apenas se deslocando para o exterior, mas buscando vivências na própria região como o centro da cidade onde se vive e compartilhando experiências para inspirar outras mulheres negras que não se sentem representadas nas mídias, a viajarem.
Você pode encontrar mais informações sobre o projeto em sua página no Facebook (CLIQUE AQUI E ACESSE)
E também no canal do projeto no Youtube (CLIQUE AQUI PARA ASSISTIR)
Comunidade Quilombola de Mesquita recebe visita de alunos da Escola Municipal do Lago Azul
Nesta quinta feira (15), alunos e professores da Escola Municipal do Lago Azul, localizada no entorno de Brasília, visitou a comunidade Quilombola de Mesquita – GO. O intuito da vista faz parte do planejamento de disciplina do professor de história Thales, que está trabalhando com seus alunos o tema regularização fundiária.
Mesquita é uma comunidade quilombola localizada a 50 km da capital federal. Com mais de 250 anos de história, existência e resistência, esse quilombo é berço de uma vasta cultura herdada dos ancestrais escravizados. Com um território bem localizado e de fácil acesso, Mesquita se torou uma das principais rotas de turistas do entorno de Brasília.
Na chegada à comunidade, os alunos foram recepcionados no espaço Ponto de Memória do Quilombo Mesquita. O museu foi montado na primeira igreja de Mesquita, uma pequena construção da arquitetura goiana do século XX, erguida pelos moradores mais antigos. Depois de conhecer o museu, os estudantes estiveram no Santuário de Nossa Senhora da Abadia, onde ocorrem missas aos domingos de manhã e novenas, que são rezas praticadas por pessoas da comunidade.
Nossa senhora da Abadia é a padroeira do Quilombo Mesquita, contam os mais velhos que a santa foi doada para o senhor Malaquias, morador da comunidade. Seguindo a tradição católica de que “todo santo tem que ter uma casa” , os quilombolas construíram uma igreja pequena e aconchegante feita de madeira, tijolos de barro amassado (adobe) e telhas feitas nas coxas . Já o Santuário de Nossa Senhora da Abadia foi construído também pelos quilombolas; as obras iniciaram nos anos 2000 e estão sendo concluídas aos poucos. Para arrecadar fundos para a nova construção, foi criada a Festa do Marmelo, que celebra a colheita do fruto que é cultivado no território, onde toda renda é aplicada na finalização da nova casa da santa. Em agosto, é celebrado o dia da Abadia, com pousos de folia e novenas durante 15 dias.
Em seguida, os jovens e professores conheceram o viveiro do Quilombo, que é um espaço onde são produzidas mudas de árvores nativas do cerrado. Nesse momento, foi explicado mais sobre o território quilombola: Mesquita surge quando essas terras foram doadas para três mulheres escravizas, aqui elas deram início a geração atual. São mais de 250 anos de história, de cultura e resistência preservada e passada de pai para filho. Mesquita foi certificado e reconhecido pela Fundação Cultural Palmares em 2006, o
Relatório Técnico de Identificação e Delimitação
(
RTID
) foi publicado em 2015.
Finalizando a visita, todos conheceram o casarão antigo do século XVII que se encontra no Quilombo Mesquita. “Foi muito importante essa visita a esse quilombo que fica tão perto de Brasília, mas muitos não sabem da grande história que aqui tem. Foi muito enriquecedor para os alunos, pois eles tiveram a oportunidade de conhecer a história de um povo fora dos livros” relata o professor Thales.
Bloco Afro Ilê Aiyê elege a ‘Deusa do Ébano’ 2019
Um dos blocos afro mais antigos do carnaval de Salvador, Ilê Aiyê elegeu neste sábado (16) a ‘Deusa do Ébano 2019’. Daniela Nobre, de 33 anos foi a vencedora do título.
Daniela Nobre é secretária executiva por formação e empreendedora na área de consumo sustentável e esta é a oitava vez que ela participa do concurso. Para levar o título de Deusa do Ébano de 2019, se preparou por seis meses e concorreu com outras 15 finalistas.
“A Beleza Negra não é uma briga pelo primeiro lugar, é pelo empoderamento feminino. Todas somos belas, mas esse título enaltece a mulher. Não é financeiro nem nada. É apenas o reconhecimento de ganhar um concurso em um lugar onde minha beleza é aceita. Não preciso ter nariz afinado, nem a pele clara, nem bunda grande, muito menos expor meu corpo. Eu fui aceita e me tornei Deusa pelo conjunto, pela minha dança, pela minha beleza, pelo meu nariz amassado. É surreal. ” Afirma Daniela.
A Noite da Beleza Negra do Ilê Aiyê promove a exaltação da beleza da mulher negra elegendo a Deusa do Ébano (Rainha do Ilê) que tem como missão, durante o ano, levar ao público o encanto e o empoderamento sobre autoestima e cultura. A 43ª edição do concurso teve o Afrofuturismo como tema principal, além de homenagear a yalorixá Mãe Hilda, figura importante que contribuiu para a linha filosófica de trabalho do Ilê Aiyê. O evento foi comandado pela Banda Aiyê e a apresentação da canção “Ilê Aiyê” foi feita pelo cantor e compositor Lazzo Matumbi.
Em 1º de novembro de 1974 o Ilê Aiyê foi fundado com o objetivo de preservar, valorizar e expandir a cultura afro-brasileira. O Ilê nasceu no Curuzu, região localizada no bairro da Liberdade, periferia de Salvador e, em 2019, completa 45 anos. Sua trajetória é marcada por homenagens a países africanos, revoltas negras e personalidades que contribuem para o processo construção da identidade étnica do povo negro.
O presidente da Fundação Cultural Palmares, Erivaldo Oliveira, que esteve presente no evento, declarou que:
“ Nesses 45 anos de resistência O Mais Belo Dos Belos tem preservado a cultura original com belíssimo desfile de homens e mulheres negras enaltecendo nossas raízes. A maravilhosa saída do bloco é no sábado de carnaval com rituais do candomblé. A noite da Beleza Negra é um importante evento para eleger a Rainha do Ilê Aiyê e exaltar a beleza da mulher negra. A festa contou com a participação de artistas renomados e autoridades. Um evento simplesmente maravilhoso ”
Filhos de Gandhy celebram seus 70 anos de existência
Nesta segunda feira (18), o tradicional afoxé Filhos de Gandhy completou 70 anos de criação. O bloco é símbolo das festividades de Salvador, pois tem trazido, todos estes anos para a rua, as tradições das religiões de matriz africana, ritmadas com cantos iorubas.
O bloco surgiu em 1949, em um contexto de crise gerado pela Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Os estivadores do porto de Salvador (homens que arrumavam as cargas nos navios), preocupados com o possível cancelamento de alguns blocos, decidiram colocar o afoxé nas ruas da cidade. Durval Marques, conhecido como “Vavá Madeira”, foi o responsável por dar o ponta pé inicial, convencendo os demais colegas a participarem da fundação dos “Filhos de Gandhy”. O nome escolhido foi em homenagem ao líder hindu, Mahatma Gandhi, que foi assassinado em janeiro do ano anterior.
Naquela época, o sindicato dos estivadores estava sendo observado pelo governo e, para evitar repressão da polícia, como disfarce, alteraram o nome do Líder Gandhi, substituindo o ‘i’ por ‘hy’ ficando “Gandhy’’. No dia 18 de fevereiro daquele ano, o bloco desfilava com apenas 36 pessoas.
Desde a sua fundação até os dias atuais, o Afoxé vem às ruas animando o carnaval de Salvador. Entre os anos de 1974 e 1975, por motivos financeiros, o Gandhy não desfilou. No entanto, nos anos seguintes, voltou com força total, aderindo ao Ijexá (ritmo africano) e com músicas baseadas nos ensinamentos de paz de Gandhi. Começaram a distribuir alimentos que representam a purificação do corpo para o público que assistia ao desfile enquanto perfumavam de alfazema, as avenidas. As vestimentas são produzidas por artesões da região, inspiradas nas vestimentas indianas e africanas com tons azuis e branco em homenagem a Ogum e Oxalá, composta de turbantes, colares e outros apetrechos que embelezam e enriquecem o desfile carnavalesco. Um dia antes do bloco sair à rua é realizado um despacho no Largo do Pelourinho, em intenção de Paz para o Afoxé.
Segundo a entrevista do Professor Marco Aurélio Luz retirada do site Filhos de Gandhy, “os afoxés contribuíram de modo contundente para o enriquecimento cultural dos festejos do carnaval no Brasil. O afoxé se caracteriza como um dos muitos desdobramentos culturais das comunidades-terreiro das religiões tradicionais africanas no Brasil. Ele se constitui por uma linguagem contextual em forma de síntese recreativa que combina expressões de dança, música, dramatização, vestuário, instrumentos, emblemáticas etc., características da estética negra”
A sede Associação Cultural, Recreativa e Carnavalesca Filhos de Gandhy está localizada no Pelourinho e sua administração funciona o ano inteiro, desde 1983. O grupo desde sua fundação vem buscando na sua pluralidade desenvolver diversas atividades, tendo como sua principal missão pregar a paz e abrigar em sua festividade pessoas de todas as crenças, condições sociais e etnias. Um dos projetos de grande importância que foi fundado em 1996, o Gandhy Social, é um projeto educacional ligado a crianças de comunidades carentes. A sede se tornou um ponto de parada de turistas de todo o mundo que visitam o Centro Histórico de Salvador.
Neste ano de 2019, para celebrar os 70 anos do afoxé, que é patrimônio imaterial da Bahia, aconteceu no domingo (17), o último ensaio preparatório para o desfile oficial que acontece no dia 03 de março. Estiveram presentes os cantores Gilberto Gil, Daniela Mercury, Gerônimo e o bloco Ilê Aiyê. Também ocorre a exposição fotográfica Filhos de Gandhy, de Christian Cravo, com início hoje (19), às 19h, no Palacete das Artes – Salvador. A exposição é composta por fotografias dos 3 últimos 3 carnavais dos Filhos de Gandhy; o evento também contará com o lançamento do livro, composto por 100 imagens dos mais de 500 foliões.
À quem possa interessar: Com visitação gratuita, ‘Mostra Filhos de Gandhy por Christian Cravo’ estreia em Salvador CLIQUE AQUI e saiba mais
Fontes:
“Espetáculo Kaiala – Um solo de Sulivã Bispo”
Espetáculo ‘Kaiala’ aborda intolerância religiosa e genocídio do povo preto.
O Espaço Cultural da Barroquinha, em Salvador – BA recebe o “Espetáculo Kaiala – Um solo de Sulivã Bispo”, com quatro apresentações marcadas nos dias 9, 10, 16 e 17 de fevereiro. O espetáculo que aborda os temas como intolerância religiosa e o genocídio do povo negro retorna após dois anos de criação.
“Kaiala é a poesia que se movimenta para dar voz à memória de uma menina de 10 anos brutalmente assassinada por evangélicos sedentos pelo fim do terreiro ao qual a criança pertencia.
Dentro da tradição bantu, (candomblé da nação Angola) Kaiala tem as águas como seu domínio, é a geradora de todas as espécies, inclusive da raça humana. A dramaturgia traz a visão da divindade de maneira poética e contemporânea, fazendo um paralelo com o momento tão delicado de intolerância religiosa no país, que vem atingindo em sua maioria os adeptos dos cultos de matriz africana.
Em solo de estreia, Sulivã Bispo também conhecido por interpretar o personagem Mainha na Web série Na Rédea Curta, foi indicado na categoria de melhor ator do prêmio Braskem de teatro pela atuação em Kaiala, espetáculo que o faz imergir em um novo universo teatral e narra a trajetória da menina interpretando três personagens, a avó e Ialorixá, o irmão de santo e, por último, a evangélica.
Em uma mescla entre o real e o fictício, a trama é costurada a partir da função que cada personagem tem na vida da protagonista. A avó, por exemplo, traz o contexto religioso. As questões de gênero, além do racismo, são representadas pela figura da evangélica.” Texto retirado da página do espetáculo no Facebook.
Retratar sobre essa temática é de extrema importância. O Dia do Combate à Intolerância Religiosa completou 12 em 2019, mas os terreiros de matriz africana e os praticantes das religiões ainda sofrem com diversos ataques. O Brasil registra a cada 15 horas uma denúncia de intolerância religiosa. Segundo o levantamento do Ministério dos Direitos Humanos umbanda e candomblé são as religiões mais perseguidas no Brasil. O combate a intolerância religiosa tem que ser efetivo pautado nas políticas públicas governamentais para garantir a livre expressão da religiosidade além da educação como ferramenta na luta social da discriminação racial e religiosa.
Os ingressos da apresentação custam R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia) e podem ser adquiridos através do Sympla ou na bilheteria do local.
O espetáculo acontecerá 18h no dia 16 de fevereiro e 17h no dia 17 de fevereiro.
Após 50 anos de existência do Jornal Nacional, Maju é a primeira mulher negra a comandar o telejornal
Nesta quarta-feira (13), por meio da assessoria de imprensa da Globo, confirmou-se a notícia de que a jornalista Maria Júlia Coutinho, a partir do próximo sábado (16), passará a integrar o time de apresentadores do Jornal Nacional, na escala de fim de semana. O que poderia ser uma notícia corriqueira, considerando a competência de Maria Júlia, fomenta reflexões sobre o racismo estrutural e a sub-representação de negras e negros na mídia brasileira.
O ineditismo da presença de Maria Júlia Coutinho no Jornal Nacional, em pleno 2019, é um fato histórico, mas sobretudo, deve suscitar reflexões sobre o papel da mulher negra e do homem negro na mídia brasileira. Por que, em 50 anos de existência, esta é a primeira vez que uma mulher negra irá apresentar o principal telejornal brasileiro? Há naturalidade na percepção de que, constituindo 54% da população brasileira, apenas dois negros (Heraldo Pereira tornou-se âncora em 2001) ocuparam a bancada daquele telejornal? Evidentemente não e, esta reflexão foi levada a cabo por Maria Júlia, em entrevista publicada no jornal online gauchazh.clicrbs, na qual expressa que:
“Precisamos de mais mulheres negras na TV. Porque, quando tiverem muitas, você não fica com essa responsabilidade, que é muito grande. Claro que não sou a única, mas precisaríamos de mais, que me confundam, (a ponto de) de perguntarem: “Quem é aquela?” e errarem o nome, assim como erramos os das apresentadoras loiras, que, às vezes, são muito parecidas. Precisamos de proporcionalidade. Precisamos de mais gente para dizer que estamos mais equilibrados. Estamos dando passos, mas eles precisam ser mais largos.”
É preciso estar atento a forma como a sociedade e as relações raciais no Brasil foram estruturadas, é preciso analisar o contexto racial brasileiro nos últimos 50 anos, tempo de existência do Jornal Nacional, que há décadas vem invisibilizando a população negra. É importante refletir o porquê de ‘contarmos nos dedos’’ o número de jornalistas negras e negros conhecidos nacionalmente. É importante refletir sobre o papel que a presença negra na TV, em papéis de destaque e não subalternizado, exerce na construção da identidade de crianças e de adolescentes negros. Além disso, faz-se necessário também, em uma sociedade marcada pela desigualdade racial, compreender a importância da foto postada por Maju em suas redes sociais fazendo referência às poucas, porém grandiosas jornalistas negras de destaque nacional: Glória Maria, Zileide Silva, Flávia Oliveira; Joyce Ribeiro, Luciana Barreto e Dulcinéia Novaes.
Compreende-se que a presença de mulheres negras e de homens negros na televisão, sejam eles jornalistas, repórteres ou na teledramaturgia, em papéis de destaque e não subalternizados, cria referenciais positivos da identidade negra e, além disso, a presença da diversidade fomenta também a multiplicidade de olhares e de experiências, trazendo, em muitos casos, visibilidade para pautas que passam despercebidas para outros segmentos, a exemplo da questão quilombola, da luta contra o racismo, da estética, entre outras questões.
Maria Júlia, ou Maju, iniciou sua carreira como repórter; em 2005, passou a apresentar o Jornal da Cultura e, mais tarde, o Cultura Meio-Dia. Em 2007, transferiu-se para a TV Globo, retornando às reportagens. Desde 2013 vem se destacando à frente dos boletins meteorológicos no Jornal Hoje e no Jornal Nacional. Esteve também na bancada do Jornal Hoje, onde se destacou na cobertura da tragédia de Brumadinho, MG; SPTV; Saia Justa, da GNT, e do Papo de Almoço, da Rádio Globo. Em 2017, publicou o livro Entrando no clima. Sua estreia na bancada do Jornal Nacional está marcada para o próximo sábado, 16 de fevereiro.
“Era Uma Vez o Mundo” a primeira loja física de bonecas negras do país será inaugurada no Rio
O Rio de Janeiro vai inaugurar a primeira loja física de bonecas negras do país. A Era Uma Vez o Mundo, uma empresa que utiliza brinquedos produzidos artesanalmente para expressar a importância da representatividade na formação da identidade e construção da autoestima da criança.
O principal produto será a famosa heroína e mulher de Zumbi dos Palmares, Dandara. A boneca é campeã de vendas e possui mais de quinze estampas e modelos diferentes, feitos com tecidos africanos. A boneca custará a partir de R$ 80,00 com a possibilidade de ser personalizada de acordo com a escolha do cliente. No site da empresa é possível comprar também o Boneco Zambi e o Pequeno Príncipe Preto.
Nas principais lojas de brinquedos no Brasil a presença de bonecas negras mínima, enquanto as prateleiras estão repletas de bonecas brancas de olhos azuis e com diferentes ocupações tais como: medica; veterinária; dançarina e outras diversas profissões e atividades. As bonecas negras ocupam um espaço de pouca visibilidade no mercado. Segundo o levantamento da ONG Avante por meio da campanha “Cadê Nossa Boneca?” que analisou fabricantes de brinquedos de todo país e chegou à conclusão de que apenas 7% dentre as bonecas fabricadas no Brasil são negras. Esse levantamento tem como objetivo discutir a importância da criança se sentir representada através do brinquedo. 54% da população se auto declara negra, mas não há representatividade e presença da população negra em diversos espaços.
A construção da identidade e reconhecimento, é necessária desde a infância e é extremamente nocivo para tal formação, ter acesso somente a brinquedos que representem apenas um padrão, seja ele o estético e o padrão do que é bonito ou não para a sociedade. A falta de representatividade é um problema uma vez que a auto identificação é fundamental para o desenvolvimento saudável da criança. Ou seja, se o brinquedo não se parece em nada com ela, a autoestima desde a primeira infância pode ficar comprometida. Além disso a diversidade de bonecas também é importante para que as crianças aprendam a conviver com as diferenças.
No “Teste da Boneca – Doll test (CLIQUE AQUI PARA ASSISTIR)”, um experimento realizado inicialmente nos anos 40 nos Estados Unidos, para testar o grau de marginalização sentido por crianças afro-americanas derivados da segregação e discriminação racial. No vídeo é mostrado às crianças duas bonecas, sendo uma negra e uma branca, onde elas precisam apontar para uma das duas bonecas após uma pergunta ser feita. Perguntas como: Qual a boneca bonita; qual a boneca má? E as crianças sempre apontam para a boneca negra em respostas não positivas.
As primeiras bonecas negras eram as “abayomi”, produzidas a partir de retalhos de saias trançadas ou com nós eram feitas pelas mães escravizadas para acalentar os filhos durante as viagens a bordo dos tumbeiros, essas primeiras criações se assemelham muito com as atuais bonecas de pano com diferentes tonalidades de pele negra e personalizadas de acordo com o gosto de cada criança.
A unidade do Era Uma Vez o Mundo será aberta no espaço Andradas 22, no Centro do Rio de Janeiro dia 16 de fevereiro e visa suprir a falta de produtos voltados para crianças negras com estimativa de venda de mais de 10 mil bonecas.
CLIQUE AQUI e assista o documentário “Parece Comigo”. O curta, de Kelly Cristina Spinelli, traz dados e entrevistas sobre a importância de meninas negras brincarem com bonecas negras. Além disso, mostra o aguerrido trabalho das bonequeiras que tentam mudar esse cenário, enfrentando a gigante indústria de brinquedos com seu artesanato consciente.
É possível encontrar em alguns outros lugares a venda e produção de bonecas negras, sendo algumas delas:
Sugestões de lugares para comprar bonecas negras:
O Rio de Janeiro vai inaugurar a primeira loja física de bonecas negras do país. A Era Uma Vez o Mundo, uma empresa que utiliza brinquedos produzidos artesanalmente para expressar a importância da representatividade na formação da identidade e construção da autoestima da criança.
O principal produto será a famosa heroína e mulher de Zumbi dos Palmares, Dandara. A boneca é campeã de vendas e possui mais de quinze estampas e modelos diferentes, feitos com tecidos africanos. A boneca custará a partir de R$ 80,00 com a possibilidade de ser personalizada de acordo com a escolha do cliente. No site da empresa é possível comprar também o Boneco Zambi e o Pequeno Príncipe Preto.
Nas principais lojas de brinquedos no Brasil a presença de bonecas negras mínima, enquanto as prateleiras estão repletas de bonecas brancas de olhos azuis e com diferentes ocupações tais como: medica; veterinária; dançarina e outras diversas profissões e atividades. As bonecas negras ocupam um espaço de pouca visibilidade no mercado. Segundo o levantamento da ONG Avante por meio da campanha “Cadê Nossa Boneca?” que analisou fabricantes de brinquedos de todo país e chegou à conclusão de que apenas 7% dentre as bonecas fabricadas no Brasil são negras. Esse levantamento tem como objetivo discutir a importância da criança se sentir representada através do brinquedo. 54% da população se auto declara negra, mas não há representatividade e presença da população negra em diversos espaços.
A construção da identidade e reconhecimento, é necessária desde a infância e é extremamente nocivo para tal formação, ter acesso somente a brinquedos que representem apenas um padrão, seja ele o estético e o padrão do que é bonito ou não para a sociedade. A falta de representatividade é um problema uma vez que a auto identificação é fundamental para o desenvolvimento saudável da criança. Ou seja, se o brinquedo não se parece em nada com ela, a autoestima desde a primeira infância pode ficar comprometida. Além disso a diversidade de bonecas também é importante para que as crianças aprendam a conviver com as diferenças.
No “Teste da Boneca – Doll test (CLIQUE AQUI PARA ASSISTIR)”, um experimento realizado inicialmente nos anos 40 nos Estados Unidos, para testar o grau de marginalização sentido por crianças afro-americanas derivados da segregação e discriminação racial. No vídeo é mostrado às crianças duas bonecas, sendo uma negra e uma branca, onde elas precisam apontar para uma das duas bonecas após uma pergunta ser feita. Perguntas como: Qual a boneca bonita; qual a boneca má? E as crianças sempre apontam para a boneca negra em respostas não positivas.
As primeiras bonecas negras eram as “abayomi”, produzidas a partir de retalhos de saias trançadas ou com nós eram feitas pelas mães escravizadas para acalentar os filhos durante as viagens a bordo dos tumbeiros, essas primeiras criações se assemelham muito com as atuais bonecas de pano com diferentes tonalidades de pele negra e personalizadas de acordo com o gosto de cada criança.
A unidade do Era Uma Vez o Mundo será aberta no espaço Andradas 22, no Centro do Rio de Janeiro dia 16 de fevereiro e visa suprir a falta de produtos voltados para crianças negras com estimativa de venda de mais de 10 mil bonecas.
CLIQUE AQUI e assista o documentário “Parece Comigo”. O curta, de Kelly Cristina Spinelli, traz dados e entrevistas sobre a importância de meninas negras brincarem com bonecas negras. Além disso, mostra o aguerrido trabalho das bonequeiras que tentam mudar esse cenário, enfrentando a gigante indústria de brinquedos com seu artesanato consciente.
É possível encontrar em alguns outros lugares a venda e produção de bonecas negras, sendo algumas delas:
Sugestões de lugares para comprar bonecas negras:
Morre nesta terça-feira (12), em São Paulo, a cantora Deise Cipriano
Morreu nesta terça-feira (12), em São Paulo, a cantora Deise Cipriano, dona de uma poderosa voz de acento soul e integrante do Fat Family, grupo de soul music criado em 1996. Deise tinha 39 anos e lutava, desde agosto, contra um câncer no fígado.
O Fat Family é original da cidade de Sorocaba, São Paulo e formado pelos irmãos Cipriano, os quais: Sidney (falecido em fevereiro de 2011), Celinho, Celinha, Simone, Suzetti, Kátia, Deise e Suely. A inspiração do grupo vem da música gospel negra estadunidense e de cantores como Whitney Houston, James Brown e Aretha Franklin.
Entre os anos de 1998 e 2003, o grupo lançou três álbuns – Fat Family, que vendeu cerca de 250 mil cópias, impulsionado pela canção Jeito Sexy; Fat Festa; Para onde eu for, me leve, de 2001 e, em 2003, Fat Family, com regravações de grandes sucessos nacionais e internacionais.
Em 2006, alguns integrantes deixaram o grupo, partindo para carreiras-solo no gênero gospel. O ano de 2016 marcou a volta do grupo aos palcos, com novas canções. No entanto, em agosto de 2018, Deise Cipriano descobriu o câncer e, desde então, vinha lutando contra a doença.
Nós da Fundação Cultural Palmares lamentamos a perda dessa grande cantora; que sua voz seja sempre lembrada por sua extensão vocal, mas também como símbolo de valorização da soul music e das vozes negras.
O corpo de Deise Cipriano será velado hoje (13) na Assembleia Legislativa de São Paulo. O velório, aberto para o público, começou às 3h da manhã.
Instituto Steve Biko sedia curso ‘Introdução à Psicologia Preta’ pela 2ª vez
Retornando à Bahia pela quarta vez em menos de dois anos, o psicólogo carioca Lucas Veiga volta para ministrar o Curso de ‘Introdução à Psicologia Preta – Módulo 1’, no Instituto Steve Biko, Pelourinho.
A ementa do curso aborda temáticas como: colonização e descolonização do inconsciente; subjetividade diaspórica e cura do auto-ódio; aquilombamento e pulsão palmarina; e o paradigma ético, estético e político da clínica.
O curso teve sua primeira edição no Rio de Janeiro, com inscrições esgotadas e destaque na imprensa local. Depois de Salvador, o curso ainda passa por São Paulo e Recife.
“Salvador é uma terra aconchegante, que sempre me acolhe e emociona”, comenta Lucas que esteve na cidade em novembro de 2018 para a realização de um minicurso que lotou o Steve Biko. “O minicurso foi um ritual de promoção de saúde mental, com base no resgate de nossa ancestralidade. Já este curso introdutório é um espaço de formação para psicólogos e demais interessados, que visa instrumentalizar o cuidado da saúde mental da população negra de forma teórica e prática”, pontua o psicólogo.
O evento acontece no dia 23 de fevereiro (sábado), das 09h às 18h, com investimento de R$180 e emissão de certificado. As inscrições para o curso são feitas através do e-mail cursopsicologiapreta@gmail.com e serão ofertadas 60 vagas.
Maiores informações pelo Instagram do psicólogo @veigalucas_ e na página “Psicologia Preta” no Facebook.
Childish Gambino com “This Is América” traz ao Rap pela primeira vez na história o Grammy de Gravação do Ano
Childish Gambino deixou mais uma vez seu nome na história da música mundial. E ganhou três prêmios históricos com This Is América. Dois deles, o de melhor canção e melhor gravação, nunca tinham sido dados ao gênero rap.
O motivo de ser histórico é pelo fato desses prêmios sempre ignorarem os grandes artistas de rap nas categorias principais. Independente de quantos grammys um rapper levasse, o prêmio de canção e de álbum do ano, nunca iria para o gênero. Sempre sendo entregues para o pop ou o rock.
Segundo os próprios organizadores da cerimônia, esse fato fez três dos grandes rappers do último ano se negarem a atuar na mesma. Drake que teve seis indicações, Kendrick Lamar com sete indicações e o próprio Childish Gambino, com cinco indicações, dois deles não compareceram no evento, inclusive Childish.
This Is America ganhou o prêmio de melhor canção do ano. Não foi um hit pré-fabricado, com único propósito de viralizar. Quem venceu foi uma canção de rap, que denuncia o racismo cultural norte-americano e que veio junto de um dos clipes mais polêmicos e comentados do ano, cheio de referências explícitas e ocultas, sobre o dia a dia da população negra.
Foi um tanto constrangedor para Ludwig Göransson, coautor da música ao receber o troféu mais importante da noite, o de Gravação do Ano, pois não sabia responder à imprensa onde estava Donald Glover (nome real de Childsh Gambino) e nem se a sua ausência no evento foi um boicote em forma de protesto.
O clipe postado no canal do youtube do artista, já contabiliza mais de 400 milhões de visualizações. CLIQUE AQUI e assista o clipe na íntegra
Dentre os vários vídeos feitos tentando desvendar a mensagem passada no clipe, o do canal Meteoro Brasil é um dos que traz uma análise interessante sobre cada cena. CLIQUE AQUI e assista o vídeo.
Site disponibiliza textos de pensadores e pensadoras africanas em português
Através da iniciativa do professor do Departamento de Filosofia da Universidade de Brasília, Wanderson Flor, o site Filosofia Africana ganhou vida e desde 2015 funciona como uma biblioteca on-line com textos de autores e autoras africanos e da diáspora, traduzidos para o português.
O projeto, que conta com a contribuição de estudantes da graduação e da pós-graduação, conta com obras da nigeriana Oyèrónké Oyěwùmí (foto), do camaronês Achille Mbembe, do senegalês Cheikh Anta Diop, entre outros.
A ideia do acervo on-line surgiu dentro de um processo de pesquisa que pensava o estudo das africanidades no ensino básico de filosofia, no qual Wanderson teve a real dimensão da dificuldade que é encontrar esses conteúdos e, ainda mais complexos, encontrá-los em língua portuguesa.
Para o professor “toda discussão da formação filosófica precisa de uma base sólida da história da filosofia, e isso não é possível quando se arranca um continente inteiro desse pensamento”. (Via portal UNB).
Você pode acessar o site Filosofia Africana aqui.
Quilombola de Matinha ganha destaque no Miss Maranhão, fica em segundo lugar e recebe título de Miss São Luis 2019
Uma quilombola do município de Matinha – MA se destacou no maior concurso de beleza do estado, o Miss Maranhão Be Emotion 2019, realizado na última sexta-feira (08) em São Luís – MA. A acadêmica de direito, Priscila Aroucha ficou em segundo lugar na disputa e recebeu o título de Miss São Luís.
Diversos moradores de Matinha acompanharam a premiação. Aos 21 anos, nascida na comunidade quilombola conhecida como “Os Paulos”, Priscila é filha de João Damascena e Eliete Aroucha. E concorreu pela primeira vez na competição e tem como sonho, realizar o concurso na cidade onde nasceu.
Na expectativa para a participação da Priscila no concurso, a população da cidade organizou o I Desfile da Beleza Negra, um evento local para prestigiar e homenagear a filha de matinhense. Durante o evento, ela agradeceu ao povo de Matinha pela receptividade e destacou o papel da sua família na formação profissional e o sucesso alcançado.
O primeiro lugar ficou com a estudante de Odontologia Carol Sousa, representando o município de Itapecuru Mirim. As duas concorreram com outras 18 candidatas. “Estou muito feliz e realizada por toda a experiência e grata as pessoas que me deram força e apoio para estar aqui”, disse a Miss Maranhão 2019, Carol Sousa.
Apropriação cultural, racismo estrutural, racismo recreativo e o fetichismo pelo período escravocrata
Na última sexta-feira (08), a diretora da Vogue Brasil, Donata Meirelles comemorou seu aniversário de 50 anos em uma festa que causou e tem causado polêmica nas redes sociais.
Fotos divulgadas na internet mostra com a hashtag “#DoShow50” onde em uma delas, Donata aparece sentada em uma cadeira e ao lado dela duas mulheres negras vestidas em trajes brancos. A princípio, o que se entendeu pela imagem que era semelhante a fotografias feitas no período escravocrata, era de uma festa alusiva ao período colonial, onde ela simbolizava uma senhora de escravos e as modelos eram negras escravizadas, as “mucamas”.
Em seu Instagram, Donata publicou uma nota em pedido de desculpas e tentativa de explicar o “tema” da festa.
“Ontem comemorei meus 50 anos em Salvador, cidade de meu marido e que tanto amo. Não era uma festa temática. Como era sexta-feira e a festa foi na Bahia, muitos convidados e o receptivo estavam de branco, como reza a tradição. Mas vale também esclarecer: nas fotos publicadas, a cadeira não era uma cadeira de Sinhá, e sim de candomblé, e as roupas não eram de mucama, mas trajes de baiana de festa. Ainda assim, se causamos uma impressão diferente dessa, peço desculpas. Respeito a Bahia, sua cultura e suas tradições, assim como as baianas, que são Patrimônio Imaterial desta terra que também considero minha e que recebem com tanto carinho os visitantes no aeroporto, nas ruas e nas festas. Mas, como dizia Juscelino, com erro não há compromisso e, como diz o samba, perdão foi feito para pedir”, escreveu.
Justificativa essa que não minimiza o problema e a problemática da festa. A nossa história, nossa cultura e símbolos merecem ser respeitados e não devem servir de adorno, festa ou fantasia.
A estrutura racista do país, o que se dá pelo racismo estrutural trata tudo isso como algo comum, algo normal e não se enxerga a problemática presente nesses atos. Há ainda uma dificuldade ou omissão em enxergar o racismo no país, caracterizando o “mito da democracia racial”, onde mesmo com estatísticas, sobre violência, desigualdade e falta de oportunidades, com demonstrações explícitas de que o negro ainda é tratado de maneira inferior em toda e qualquer relação social, a sociedade brasileira em parcelas substanciais ainda nega a existência dele.
Os negros no Brasil são os que mais são assassinados, os que morrem mais cedo, os que recebem menores salários, os que têm menor escolaridade, maior taxa de desemprego, menor acesso à saúde de qualidade, os que ocupam em menor quantidade cargos de poder e de liderança, como por exemplo na política. E são os que mais lotam as prisões. O racismo estrutural normaliza esses dados, sendo de maneira consciente ou inconsciente e mesmo com tanta gente falando sobre, agem como se fosse invisível. Ou seja, o país continua estruturalmente racista só muda o modus operandi.
Sendo assim, o racismo não se apresenta na sociedade somente através da “violência direta”, como a ofensa e a discriminação. O racismo se dá por diversas facetas, bem como: o racismo institucional, a apropriação cultural, o racismo recreativo, entre outras demonstrações racistas.
Tratar nossa cultura, nossos símbolos ou até mesmo o período escravocrata como algo festivo, faz parte dessa naturalização do racismo. Onde esvaziam nossos símbolos, retiram o significado, ignoram e esquecem toda história do povo negro e acreditam que não tem nada demais em transformar tudo isso em festa, em fantasia. No racismo recreativo as pessoas acreditam que é aceitável romantizar, e transformar tudo que para um povo foi e é totalmente doloroso, em fantasias; decorações de festas e que trazem a “nostalgia e o fetiche” de um período que a estrutura racista diz não ter acontecido e que onde, ainda hoje o negro continua apenas no papel de servidão.
A justificativa da diretora da Vogue não minimiza o fato de ser uma atitude racista. Ainda que segundo ela, a cadeira que estava sentada não era de sinhá e sim de candomblé. As religiões de matriz africana como candomblé e umbanda ainda são demonizadas e seus praticantes são perseguidos diariamente no país. No Candomblé a cadeira é o símbolo máximo de sabedoria e poder e mais que isso, um símbolo sagrado onde só quem deve sentar é uma Mãe ou Pai-de-santo. Yalorixás e Babalorixás.
O rapper Emicida na sua música “bang” diz o seguinte em um dos versos:
“A dor dos judeus choca, a nossa gera piada”
Piada essa que o povo preto nunca deu risada. E que a cada dia a estrutura racista possa entender que estamos falando sério quando dizemos que nossa história merece ser respeitada e não deve virar festa.
Nasce hoje o maior nome da história do reggae: Bob Marley
Robert Nesta Marley, mais conhecido como Bob Marley, nasceu em 6 de fevereiro de 1945 em Nine Miles na Jamaica, filho de Norval Sinclair Marley e Cedella Booker. Mudou-se com a mãe e o padrasto Toddy Livingstone para favela de Kingston. A paixão de Marley pela música começou na adolescência, influenciado pelo Ska, ritmo que reunia a música folclórica afro-jamaicana, o mento e o calypso misturados ao jazz e ao rhythm ´n ´ blues, que eram tocados nas ruas da cidade por sound system, alto-falantes improvisados sobre caminhões e casas para que a música fosse reproduzida. Marley também gostava de criar instrumentos musicais de lata com seu meio irmão, Neville Livingston, filho de seu padrasto e, nessa brincadeira, nasceu a vontade de formar uma banda.
No início dos anos 60, Bob Marley, seu meio irmão, que mudou o nome para Bunny Livingston e Peter Tosh formaram o grupo Wailing Wailers. O grupo tinha um mentor: o percussionista rastafari Alvin Patterson; juntamente com Bervely Kelson, Cherry Smith e Junior Braitweire lançaram seu primeiro single “Simmer Donw”. A banda começou tocando Ska e outros ritmos jamaicanos formando assim uma identidade que retratava a linguagem do sofrimento do gueto; essas canções foram intituladas de rude boy.
Marley começou a refletir a música de uma maneira diferente, ao invés de cantar hinos rude boys passou a incorporar sua nova crença em suas letras: O Rastáfari. Os rastafaris reverenciavam Haile Selassie, imperador da Etiópia entre 1930 a 1974 e acreditavam que este seria a encarnação do Messias na terra. Baseando-se em ideias do velho testamento, passou a pregar que todos os negros deveriam retornar à África, a “Terra Prometida” onde haviam sido retirados, em um contexto de escravidão.
A ascensão do reggae no movimento rastafari influenciou diretamente o modo de vida e as músicas de Bob Marley. O reggae surgiu a partir da junção dos ritmos ska, rocksteady, ragga, sonoridades africanas e o calypso; a denominação “reggae” nasceu do som produzido pela guitarra ao tocar este ritmo sendo “re” movimento para baixo e “gae” movimento para cima.
Em 1973, o disco dos The Wailers já refletia a crença Rastafari e o novo ritmo reggae em suas canções era carregado de ideias de liberdade, mensagens de paz, amor e respeito aos semelhantes, atreladas às questões sociais e políticas jamaicanas. O disco Catch a Fire alcançou sucesso internacionalmente.
O cantor se casou com Alpharita Anderson mais conhecida como Rita Marley e juntos tiveram três filhos: Cedella Marley, Ziggy Marley e Sthepe Marley. O cantor teve também outros 8 filhos, incluindo Sharon Marley, filha de Rita mas adotada por Bob. Alguns de seus filhos seguiram os seus passos musicais e alçaram sucesso como o grupo The Melody Makkers composto por Ziggy, Stephen, Sharon e Cedella que ganharam três estatuetas do Grammy nos anos 90 como o melhor álbum de reggae. Julian e Damian Marley produziram um tributo ao cantor intitulado de One Love e Rohan Marley dedicado a causas sociais e a fundação 1Love.
Na noite de 3 dezembro de 1976, Bob Marley sofreu um atentado – sete homens armados invadiram sua casa e dispararam contra ele e a família vários tiros inclusive um dos tiros foi disparado contra o peito do cantor. Era ano de eleições parlamentares na Jamaica e havia praticamente uma guerra entre jovens que defendiam partidos distintos. No dia 5 de dezembro, Bob se apresentou dois dias no concerto “Smile Jamaica” pela paz. Essa data ficou marcada para todos que compareceram ao show, pois durante todo o concerto, Marley reproduzia mensagens de paz. Logo após esse trágico episódio que marcou negativamente sua vida e, temendo que fosse vítima de outro atentado político, mudou-se para Londres, onde gravou o disco “Exodus” que alcançou as paradas de sucesso americanas e inglesas.
Bob Marley decidiu visitar a África e conheceu o Quênia e a Etiópia, país onde iniciou o movimento rastafari. O grupo The Wailers foi convidado a se apresentar na cerimônia de independência do Zimbabwe e, logo após, lançaram o álbum “Survival” denunciando as dificuldades do continente africano como: fome, guerras e a problemática social e política.
As musicas “Could You Be Loved” e “Redemption Song” do álbum “Uprising fizeram tanto sucesso que os Wailers embarcaram na sua maior turnê pela Europa. Em 1980 o show que fizeram em Milão reuniu cerca de cem mil pessoas que cantaram junto e fizeram o álbum bater recordes em toda a Europa.
Marley e os Wailers se apresentaram nos Estados Unidos, na Madison Square; durante o show, o astro passou mal e a sua saúde começou a ser acompanhada com mais atenção. Apesar do incidente, Bob ainda se apresentou em Pittsburgh, local em que fez seu último show.
O mundo recebeu a triste notícia de que Bob Marley sofria de uma espécie de câncer de pele chamado melanoma lentiginoso acral que se desenvolveu na unha do dedão do pé. A doença logo se espalhou para o cérebro, pulmão e estômago e o cantor lutou durante oito meses para obter a cura, mas não resistiu.
Em 11 de maio de 1981 as cores verde, amarelo e vermelho do movimento rastafari ficaram cinzas. Bob Marley, o maior nome da história do reggae, faleceu no auge de sua carreira, com apenas 36 anos de idade. Suas músicas, ainda hoje cantadas mundialmente,transmitem mensagens importantes de amor, paz, respeito e resistência.
O faturamento póstumo de Bob Marley é de 17 milhões de dólares, seus discos já somaram mais de 75 milhões de álbuns vendidos nas últimas décadas.
O nome de Marley é associado em negócios diversificados como produtos eco-friendly e bebidas para relaxar.
Fontes:
Odoyá – 02 de fevereiro, dia de Yemanjá
No dia 02 de fevereiro comemora-se o dia de Yemanjá, uma das divindades afro-brasileiras mais populares. Nas celebrações, que ocorreram em diversas cidades do país, seus devotos e admiradores, os quais pertencem muitas vezes a outras religiões, tiram esse dia para agradecer, pedir e fazer promessas. O Dia de Iemanjá se comemora na mesma data do Dia de Nossa Senhora dos Navegantes, uma santa católica. Em algumas partes do Brasil, como na região Sul, há um sincretismo entre as duas figuras. Já no Rio de Janeiro, há um sincretismo com Nossa Senhora da Glória.
Sempre associada às águas (sejam doces ou salgadas), é considerada a protetora dos pescadores, por isso mesmo muitos dos mimos a ela ofertados, como flores, perfumes, espelhos, bijuterias e comidas, são reunidos em pequenos barcos e lançados ao mar.
Dandalunda, como também é conhecida, é uma das divindades que compõem o panteão das religiões de matriz afro, elemento fundamental para a constituição da brasilidade. Embora, no Brasil, a simbologia em torno de Yemanjá ligue-a ao mar, originalmente ela esteve atrelada ao rio Yemojá (outro nome atribuído ao orixá), que corre em direção ao mar. Seu culto surgiu entre os Egbá, povo Iorubá que vive na região de Ifé e Ibadan.
Outra explicação para o nome Yemanjá é que se trata de uma corruptela da expressão iorubá Yèyé omo ejá, que significa “mãe cujos filhos são peixes”.
Essas narrativas e simbolismos, enfim, a religiosidade vinda de África aportou aqui junto com os escravos, durante o período colonial e imperial, e recebeu novos contornos e significados. Iemanjá é filha de Olokun (entidade misógina), divindade que representa os segredos e as riquezas do fundo do mar. Todavia, numa das várias reinterpretações que a figura de Iemanjápassou no Brasil, ela assumiu as propriedades de sua mãe/pai.
Em outra nova interpretação sofrida em terras brasileiras, Yemanjá, que já possuía uma associação com a fertilidade e a maternidade, passa a constituir, junto com Oxalá, o par primordial da criação, sendo, assim, considerada mãe de todos os orixás.
Ao repousar sobre ela o arquétipo da Grande-Mãe, Iemanjá torna-se uma divindade marcadamente sincrética, o que também justifica a sua expressividade e prestígio no Brasil. Por exemplo, enquanto no catolicismo baiano ela corresponde à Nossa Senhora da Conceição, entre os católicos gaúchos a associação se dá com Nossa Senhora dos Navegantes. Em outras regiões do país, ela é simplesmente aproximada à figura da Virgem Maria. Há, ainda, os processos de sincretismos com a cultura indígena, de onde partiram as correlações com a Mãe-D’água, também chamada de Iara ou Janaína, o que justifica sua representação como sereia.
A festa mais grandiosa, em sua homenagem, se dá em Salvador, na Praia do Rio Vermelho, onde se encontra o templo de Iemanjá. Em 2015, as festividades reuniram mais de 300 mil pessoas. Tradicionalmente, as atividades começam no início da manhã com a chegada do presente de Iemanjá e a abertura da Colônia de Pescadores. Na parte da tarde, ocorre o cortejo de entrega dos balaios, com a presença de cerca de 200 embarcações.
Além da principal festa que acontece em Salvador, (https://glo.bo/2Stoo0f ) o Acre também disse Odoyá. Em Rio Branco houve festejo da mãe de quase todos os orixás.
Arraial D’Ajuda na Bahia também festejou a data.
Em Brasília também teve celebração de Iemanjá. O festejo aconteceu na Praça dos Orixás, homenageando a Mãe das Águas em seu dia.
Na praia do Arpoador, no Rio de Janeiro, diversas comunidades acompanharam e festejaram com a partida das oferendas mar adentro.
Também no Rio de Janeiro, o Afoxé Filhos de Gandhi, homenagearam a rainha do mar.
Na Praia do Cassino em Rio Grande do Sul, Iemanjá também foi homenageada
Odoyá!
Fontes:
https://goo.gl/alAVWi