O 4º Festival Mundial das Artes Negras (Fesman), em 2020, contará com atrações e manifestações da cultura judaica na sua programação oficial. O evento será uma parceria entre a Fundação Cultural Palmares (FCP), as embaixadas africanas e países parceiros interessados em divulgar as contribuições culturais negras de suas sociedades. Nesse contexto, a proposta de garantir a participação de Israel no Fesman partiu de um diálogo entre Vanderlei Lourenço, presidente da FCP e representantes da Associação Cultural Israelita de Brasília (ACIB) na sexta-feira (04).
Emília Stenzel e Mourad Belaciano trouxeram à Fundação uma nova demanda que é apresentar uma versão não contada da Diáspora Judaica: a marcada pela presença de pessoas negras que, como a Diáspora Africana, contribuiu à constituição de muitas nacionalidades. “O judaísmo não é divulgado oficialmente por sua participação na constituição da identidade brasileira”, afirma Emília. Segundo ela, o Brasil assumiu como matrizes as suas raízes mais expressivas, deixando de reconhecer as que são vistas como minorias, como é o caso do judaísmo.
Belaciano enxerga nas políticas públicas de cultura, reais possibilidades de mudança de olhar sobre a pluralidade étnica. “É importante investir na cultura. As políticas públicas trazem a informação e depois somem cumprindo assim o seu papel de incluir e dar visibilidade, mas a cultura fica e se perpetua”, enfatiza. “A cultura tem o papel de mostrar a história e essas atividades serão uma forma de tratar da consciência negra sob outros aspectos, diferentemente do que vem sendo sempre tratado”, complementa Lourenço.
Judeus etíopes – Sionei Leão, diretor do Departamento de Proteção ao Patrimônio Afro-brasileiro (DPA/FCP), conta que na década de 1970 os judeus etíopes foram reconhecidos como judeus legítimos pelos rabinos e puderam voltar a Israel por meio da Lei do Retorno. “É emblemática a presença negra nas raízes do judaísmo, um traço de Israel de que a comunidade mundial precisa tomar conhecimento” , diz.
Também chamados Beta Israel, esses judeus pertencem a uma das comunidades negras espalhadas pelo Continente Africano. Sua origem não é clara e se mistura com a mitologia bíblica. A família real etíope, deposta pelos revolucionários em 1974, dizia-se descendente de Makeda, a rainha de Sabá, com o rei Salomão, de Israel. Na Bíblia ambos aparecem conduzindo relações meramente diplomáticas, porém os Beta Israel se dizem remanescentes dessa relação entre realezas.
Para que a programação completa de Israel no Fesman seja fechada com toda essa riqueza de peculiaridades e influências judaicas, haverá ainda outras reuniões. A FCP e a ACIB se comunicarão nos próximos dias com a Embaixada de Israel para tratar de parcerias.
FESMAN – Idealizado há cinco décadas por Léopold Sédar Senghor – político, escritor e presidente do Senegal de 1960 a 1980 – o Fesman teve a sua primeira edição em 1966, em Dacar, no Senegal, com o tema Significado das Artes e Cultura Negra na vida dos Povos e para os Povos. Outras duas edições aconteceram em 1977 na Nigéria e em 2011 novamente em Senegal. Nesta última, o Brasil foi convidado de honra do Festival.
O terceiro Fesman uniu 80 países que, em duas semanas apresentaram, apoiaram e/ou prestigiaram expressões negras como Arquitetura; Artes e Artefatos Antigos; Artesanato; Artes contemporâneas; Cinema; Culturas Urbanas; Dança; Design; Literatura; Moda; Música; e Teatro. Do encontro cultural entre nações participam, não somente Brasil e África, mas também países convidados, de outros continentes, que reconhecem os valores por trás das artes negras.

Resultado da luta do Movimento Negro, foi fundada por Carlos Moura, primeiro presidente da entidade, homenageado durante o evento desta quinta-feira. Ele recebeu de Lourenço, a Certidão de Nascimento da Fundação. “É muita emoção! Me trouxe a reflexão de todo um processo que mostra exatamente de onde viemos, o que trouxemos, o que estamos fazendo e sobre o legado que todos deixamos para o Brasil, evidentemente, junto às outras etnias do país”, afirmou.
Araújo defende que a releitura da história do Quilombo dos Palmares e a História do Brasil é um exercício que deve ser feito constantemente, de modo que todos os seus participantes sejam representados. “Jamais poderemos compreender a História do Brasil e da população brasileira sem aprender a História da África”, conclui.
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