Neste 60º aniversário do INPE, está sendo lançado o Projeto Memória, tendo como base registros de histórias protagonizadas ou testemunhadas por pesquisadores, tecnólogos, lideranças, técnicos, gestores, colaboradores, autoridades políticas, enfim todos aqueles que fizeram e fazem parte do dia-a-dia da nossa instituição, ou que colaboraram de alguma forma com sua história. Não uma única memória, mas diversas que devem compor um grande mosaico de vivências, visões e perspectivas sobre as histórias vividas na instituição.
A imagem-poema de João Cabral de Melo Neto, em Rios sem Discurso, ilumina em parte o que se pretende com este projeto. A expectativa é de que essa memória em construção possa resgatar e ajudar a compreender diversos aspectos sobre a história do INPE, como, por exemplo, por que certos caminhos foram iniciados e trilhados; como se alcançou excelência em determinados conhecimentos ou mesmo por qual motivo certas iniciativas não prosperaram. Mas o projeto não pretende se limitar a alguns objetivos pré-definidos, pelo contrário, se propõe a realizar e organizar registros, criando condições que possam estimular o surgimento de novas interpretações e ressignificações para a história do INPE.
As entrevistas serão divulgadas no website do projeto, junto com outros materiais, como fotografias, textos, livros publicados, que de alguma forma ilustram as histórias do INPE. O projeto se apoia na Memória Científica e Documental do INPE, trabalho que vem sendo desenvolvido há anos pela área de Informação e Documentação do INPE.
As entrevistas deverão abordar temas e assuntos, organizados em diferentes tipos de séries documentais, com o intuito de reavivar o passado, recuperar histórias, fatos curiosos e contextos nos quais projetos e atividades foram desenvolvidos. Ao valorizar os caminhos trilhados, nossa expectativa é estimular reflexões que permitam relacionar as experiências do passado com as perspectivas de futuro. Construir e preservar a memória do INPE é um grande desafio, trabalho que deve ter um começo e jamais um fim.
A primeira fase do projeto irá divulgar entrevistas de ex-diretores do INPE, que serão pouco a pouco disponibilizadas nesta homepage. Também serão divulgados acervos temáticos de fotos e premiações recebidas pelos pesquisadores do INPE. Concluída esta etapa, pretende-se estender o projeto com entrevistas e depoimentos de pessoas, cujas histórias possam contribuir com a construção e ampliação da memória do INPE.
"Quando um rio corta, corta-se de vez
o discurso-rio de água que ele fazia;
cortado, a água se quebra em pedaços,
em poços de água, em água paralítica.
Em situação de poço, a água equivale
a uma palavra em situação dicionária:
isolada, estanque no poço dela mesma,
e porque assim estanque, estancada;
e mais: porque assim estancada, muda,
e muda porque com nenhuma comunica,
porque cortou-se a sintaxe desse rio,
o fio de água por que ele discorria.
O curso de um rio, seu discurso-rio,
chega raramente a se reatar de vez;
um rio precisa de muito fio de água
para refazer o fio antigo que o fez.
Salvo a grandiloqüência de uma cheia
lhe impondo interina outra linguagem,
um rio precisa de muita água em fios
para que todos os poços se enfrasem:
se reatando, de um para outro poço,
em frases curtas, então frase e frase,
até a sentença-rio do discurso único
em que se tem voz a seca ele combate"
João Cabral de Melo Neto
A educação pela pedra, 1966
