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Mirmecologia
Pesquisador do INMA participa de publicação internacional que explora a relação das formigas com o meio ambiente
Livro foi lançado em Recife na última semana, durante o XXVII Simpósio de Mirmecologia, ramo da biologia que estuda o inseto
Com quase duas mil espécies catalogadas, o Brasil abriga a maior diversidade de formigas no planeta, sendo que esse é o grupo de insetos mais abundante no mundo e exerce funções ecológicas essenciais para os ecossistemas. Um exemplo é a bioturbação do solo: ao revolver e misturar o solo com sedimentos, as formigas aumentam a porosidade da terra, o que contribui para o processo de infiltração da água e o transporte de matéria orgânica. As formigas ainda ajudam na dispersão de sementes, no controle biológico de pragas e polinização das plantas.
Na última quinta-feira (06/11), durante o XXVII Simpósio de Mirmecologia, em Recife (PE), foi lançado o livro “Brazilian Myrmecology: Exploring the World’s Richest Ant Fauna” que explora a diversidade, o comportamento, a ecologia, a evolução e as relações das formigas com o meio ambiente.
A obra foi organizada pelos professores Fernando Schmidt (Universidade Federal do Acre), Carla Ribas (Universidade Federal de Pernambuco) e Rodrigo Feitosa (Universidade Federal do Paraná) e apresenta 24 capítulos escritos por mais de 140 pesquisadores de 48 instituições de todas as regiões do país e também colaboradores estrangeiros.
A publicação apresenta um histórico sobre a Mirmecologia Brasileira, desde os estudos dos primeiros naturalistas do século 19 até os avanços mais recentes no estudo das formigas. “Além da sua relevante contribuição científica, o livro é uma iniciativa de preservação da memória e um tributo às pessoas que contribuíram e contribuem para fazer do Brasil a capital mundial das formigas”, destaca o professor Fernando Schmidt.
O pesquisador do INMA Chaim Lasmar está na autoria de dois capítulos do livro. “Trends and Gaps in the Study of Ants in Ecological Restoration in Brazil” analisa como as formigas respondem à restauração ecológica no Brasil. “O Brasil tem potencial elevado para restauração ecológica e as formigas podem ser um grupo chave neste processo”, avalia o professor Diego Anjos, da Universidade Federal de Uberlândia, que liderou esse capítulo. “O trabalho revisou 70 artigos publicados nos últimos 30 anos sobre o papel das formigas em todos os biomas brasileiros, especialmente na Mata Atlântica, e mostra que áreas restauradas geralmente apresentam menor riqueza e abundância de formigas do que ecossistemas de referência, mas tendem a ganhar diversidade ao longo do tempo”, completa o professor Diego Anjos. Os autores concluem que estudos de longo prazo das funções ecológicas desempenhadas pelas formigas são essenciais para aprimorar a eficácia e o monitoramento das ações de restauração no país.
O capítulo “A Quick Break from Fieldwork to Talk about Brazilian Ants – An Experiential Account” assinado por Chaim Lasmar, com outros pesquisadores, relata uma experiência de divulgação e popularização da ciência durante coletas de campo em seis biomas brasileiros, em que os pesquisadores interagiram com estudantes de escolas públicas para desmistificar percepções negativas sobre as formigas e explicar seu papel ecológico.
“Sempre que ia a campo e tinha contato com pessoas que moravam nos arredores das áreas de coleta, eu percebia o estranhamento quando dizia que estudava formigas. Sempre surgiam alguns comentários engraçados, como sugestões de coletar formigas dentro das casas ou até manifestações de espanto. Com o tempo, percebemos também que, muitas vezes, a popularização da ciência ficava concentrada nas áreas urbanas, especialmente onde há universidades, e que as pessoas que vivem em regiões mais afastadas acabavam, de certa forma, esquecidas. Então, decidimos que, além das coletas do projeto, realizaríamos uma ação voltada à população local, que compreende e vivencia a biodiversidade da região até mais do que nós, pesquisadores. Nessas atividades, aproveitamos para conversar sobre a importância ecológica das formigas, tema quase sempre negligenciado nas escolas e pouco conhecido fora do meio acadêmico. Foi realmente uma experiência muito inspiradora para todos nós”, avalia Chaim.
Os autores compreendem que integrar ações de extensão e comunicação científica aos projetos de pesquisa é essencial para aproximar ciência e sociedade, promovendo consciência ambiental.
O livro pode ser consultado gratuitamente no link https://www.editoracientifica.com.br/books/brazilian-myrmecology-exploring-the-worlds-richest-ant-fauna.