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Congresso de Ornitologia
Aves representam mais de 60% dos animais traficados no Brasil
O tráfico de animais silvestres é uma das principais ameaças à biodiversidade brasileira e ultrapassa fronteiras. A beleza e o canto das aves fazem com que sejam as espécies mais visadas pelos traficantes - e já ultrapassam 60% dos casos no país. Recentemente, a arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari), ave endêmica da Caatinga, tornou-se alvo frequente dos criminosos. Em 2023 e 2024, 65 indivíduos dessa espécie foram apreendidos em operações no Brasil, no Suriname e em países distantes, como Índia, Bangladesh e Togo. A polícia encontrou até ovos da arara-azul-de-lear sendo contrabandeados por traficantes ucranianas no interior de Minas Gerais, que os quebraram tão logo foram descobertas.
“Identificamos que as aves estavam sendo contrabandeadas em um complexo esquema de tráfico internacional que tinha como destino um novo zoológico na Índia”, explica Antônio Carvalho, especialista no combate ao tráfico de vida silvestre da organização não-governamental WCS Brasil, que já atuou também como pesquisador no Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA).
“O tráfico de animais é um problema complexo, pois tem relação com outros crimes, como a lavagem de dinheiro e até mesmo a exploração de crianças e adolescentes, que são usadas para capturar os animais na natureza ou exibir esses animais na Internet”, completa o pesquisador.
A arara-azul-de-lear tem uma população de apenas 2,5 mil indivíduos e é classificada como em perigo de extinção. A circulação de conteúdos que exploram animais nas redes sociais e plataformas de compartilhamento de vídeos tem intensificado o tráfico de animais. Em 2023, Carvalho identificou casos de sofrimento visível e oculto em 96 espécies de 39 países. A maior parte é de animais silvestres.
“O mais comum são esses animais serem capturados da natureza para serem tratados como animais de estimação nas redes sociais. Mas eles não são pets e essa retirada do habitat natural causa sofrimento aos animais e ameaça a manutenção da biodiversidade”, enfatiza o especialista.
Para tentar frear o tráfico de animais, a organização WCS Brasil atua em várias frentes. Uma delas é a capacitação de agentes que trabalham nos aeroportos brasileiros. Apesar de avaliar que a capacidade de enfrentamento ao problema tem sido incrementada no país, Carvalho compreende que o combate ao tráfico de animais não depende apenas dos órgãos de fiscalização, mas do envolvimento de toda a sociedade.
“As pessoas não devem curtir e compartilhar esses conteúdos e sempre denunciar essas produções para as plataformas de vídeos e ao Ministério Público de cada estado”, orienta Carvalho.
O tráfico de animais é um dos temas do XXIX Congresso Brasileiro de Ornitologia que ocorre até quinta-feira (02/10) em Santa Teresa, ES. O evento é promovido pela Sociedade Brasileira de Ornitologia e Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA).