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Teatro brasileiro em debate, memória e ação no I Seminário do Centro de Pesquisa e Memória do Teatro de Arena e da Cena Ativista do Brasil
Foto: Cacá Bernades
O I Seminário do Centro de Pesquisa e Memória do Teatro de Arena e da Cena Ativista do Brasil, realizado pela Fundação Nacional de Artes (Funarte) entre os dias 11 e 13 de novembro, atualizou o debate em torno da memória e preservação de um dos espaços mais importantes das artes cênicas brasileiras: o Teatro de Arena Eugênio Kusnet, no centro de São Paulo (SP). O espaço, que integra a rede de equipamentos culturais mantidos pela Funarte, foi o palco do evento, que reuniu artistas, pesquisadores e entidades em uma intensa programação com debates, mesas de conversas, lançamentos, uma exposição e leituras cênicas públicas.
Criado pela Funarte no marco dos seus 50 anos e dos 70 anos do Teatro de Arena, o Centro de Pesquisa e Memória do Teatro de Arena e da Cena Ativista do Brasil foi aberto em maio passado, numa realização em parceria com a organização da sociedade civil Corpo Rastreado. Agora, o Seminário apresentou os resultados obtidos até então pelo projeto, que tem como finalidade principal mapear, conectar e difundir pesquisas, arquivos e memórias sobre o teatro brasileiro. Neste contexto, o evento promoveu o primeiro encontro presencial do Conselho Consultivo do Teatro de Arena, criado junto com o Centro de Pesquisa, que reúne 16 artistas e pesquisadores das artes cênicas e da cena artivista do Brasil das cinco regiões do país: Annie Martins, Cecília Boal, Eugênio Lima, Francis Wilker, Helena Vieira, Isabel Teixeira, Leda Maria Martins, Márcio Meirelles, Mário Augusto Medeiros da Silva, Miliandre Garcia, Rafael Litvin Villas Bôas, Sérgio de Carvalho, Tânia Farias, Titane, Valmir Santos e Wlad Lima.
“Este é um projeto muito importante, que enseja o nosso compromisso com a memória e a preservação das artes brasileiras para constituir futuros. O Teatro de Arena é raiz inegável, alimento do teatro brasileiro, e o que estamos fazendo com essa experiência é uma florestania da sua memória e da cena artivista, algo que já estava na gênese da nossa missão”, afirmou a presidenta da Funarte, Maria Marighella, na mesa de abertura do evento.
Enquanto projeto, o Centro e o Conselho integram-se às diretrizes do recém-criado Centro de Teatro da Funarte e corroboram os eixos de Memória, Pesquisa e Reflexão previstos na Política Nacional das Artes. Como experiência singular de articulação entre pesquisa, sociedade civil e instituição pública, o Centro tem a expectativa de formação de uma rede nacional de acervo, com potencial para inspirar outras iniciativas no país.
“O que estamos construindo é um espaço de aglutinação de pesquisas e acervos da cena artística, cena politizada, da cena negra e estudantil, o que inclui a história desse espaço histórico e de todos que, através da arte, tentaram fazer do país um lugar melhor. Com o Seminário, dividimos essa experiência no intuito de também ampliar essa rede", explica o coordenador-geral do Centro, Sérgio de Carvalho.
Memória e arte em ação
No primeiro dia do evento, a programação foi aberta ao público, com a realização de duas mesas de trabalho. A primeira, “Pesquisas sobre a história do Teatro de Arena”, apresentou as diretrizes e metodologias de pesquisa desenvolvidas pelo Centro, além da partilha de memórias e achados importantes para a história do espaço. A segunda mesa, “Pesquisas sobre o Teatro Experimental do Negro”, discutiu os impactos históricos do movimento na cena teatral brasileira.
Nos demais dias, Grupos de Trabalho (GTs) formados pelos conselheiros, pesquisadores do Centro e convidados reuniram-se para definir metodologias e estratégias em torno de temas como a cena estudantil e política no Brasil, teatro de grupo e fronteiras de gênero. No último dia, uma mesa com a presença de Ricardo Ohtake (Instituto Tomie Ohtake), Rosana (Sesc São Paulo), Galiana Brasil (Fundação Itaú) e Flávio Cerqueira (Forcult) debateu perspectivas de conexão entre instituições para o fortalecimento das práticas colaborativas para a preservação de acervos.
O Seminário promoveu ainda a abertura da exposição “Arena em Pesquisa” e do Caderno de artigos “Coringa” – título-referência ao sistema teatral idealizado por Augusto Boal na década de 1960 e que estruturou os espetáculos musicais do Teatro de Arena. Instalada no Foyer do Teatro de Arena, a exposição está aberta ao público e conta, a partir de achados de pesquisa e documentos raros, o percurso histórico do Teatro, enaltecendo a sua relevância histórica para a cena artística brasileira. A visitação pode ser feita de quarta a domingo, das 13h30 às 19h.
Leituras cênicas públicas
Nos dias 12 e 13, leituras cênicas de textos inéditos, mapeados pela equipe do Centro de Pesquisa, foram realizadas, abertas ao público. Com direção de Maria Thaís e elenco de artistas convidados – Dalma Régia, Mestre Nico, breno luan, Débora Marçal, Kleber Lourenço, Mafê, Ana Flor de Carvalho e Loiá Fernandes –, os textos reunidos em “Tem gente que luta e faz festa: cenas negras no Arena” e “Tem gente que faz festa e luta: cenas negras no Arena” recontam passagens importantes do Teatro Experimental do Negro, fundado por Abdias do Nascimento, e de outros grupos que fizeram do Arena espaço de fundamento e atuação, como o Teatro Popular Brasileiro (TPB), de Solano e Margarida Trindade e Édison Carneiro; a Companhia Brasiliana; o Centro Cultural Afro-Brasileiro; Grupo Quilombo; e o Grupo Malungo.
No primeiro dia de apresentação, o ponto alto foi a presença dos artistas Liberto Trindade, filho de Solano, e sua companheira Nilu Strang. “Foi uma emoção muito grande, porque isso aqui é uma verdadeira casa de cultura. Acho que o Teatro de Arena é o pai do teatro; tudo aconteceu aqui”, afirmou Liberto.
Para a diretora do Centro de Teatro da Funarte, Aline Vila Real, além de tornar públicas as ações do projeto e pensar rumos futuros, o Seminário já proporcionou mais um momento histórico para as artes: “O Seminário reafirma a vocação do Teatro de Arena como um espaço vivo de memória, pesquisa e criação, território de resistência e inspiração para a cena contemporânea brasileira. O que realizamos aqui é uma ação histórica, que evoca o direito à memória das artes brasileiras, o compromisso nosso com a valorização das artes e a preservação de seus legados”.
Centro de Pesquisa e Memória do Teatro de Arena e da Cena Ativista do Brasil
Coordenado pelo dramaturgo e pesquisador Sérgio de Carvalho e com coordenação de pesquisa de Maria Lívia Góes, o Centro de Pesquisa e Memória do Teatro de Arena e da Cena Ativista do Brasil está estruturado como um espaço de articulação entre pesquisa, memória e criação contemporânea. Atualmente com 11 pesquisadores baseados em São Paulo, a expectativa é a de que, a partir da ação do Conselho Consultivo e das relações institucionais, o trabalho se expanda, tornando-se uma rede nacional de artistas e pesquisadores.