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Espetáculo “Enquanto ainda há” estreia em Belo Horizonte
Espetáculo “Enquanto ainda há” / Pierre Rodrigues
O espetáculo “Enquanto ainda há” estreia no Complexo Cultural Funarte MG neste mês de dezembro, com apresentações até o dia 21. Com direção de Carolina Cândido, assistência de Flor Barbosa e dramaturgia de Arthur Barbosa e da própria diretora, a montagem reúne Anselmo Bandeira, Camila Félix e Camila Furtunato em uma produção que convida o público a um mergulho sensorial e psicológico nas fronteiras entre memória, afeto e consciência. Com apoio do Programa Funarte Aberta e realização é da Dois pontos: Plataforma Artística, as apresentações acontecem nos dias 18 e 19.12 (quinta e sexta-feira) às 20h30; e nos dias 20 e 21 de dezembro, sábado e domingo, às 19h30.
A peça se passa no instante entre o impacto e o silêncio – o lapso de tempo em que a mente do personagem, um terapeuta que acaba de sofrer um acidente, tenta reorganizar os fragmentos de sua vida. “É uma ficção dentro da mente de um homem em colapso”, explica o ator Anselmo Bandeira. “O personagem tenta reconstruir o dia do acidente, os amores, as culpas, as conversas interrompidas e tudo o que o define, antes que o cérebro se apague de vez”, complementa.
A narrativa se estrutura de forma não linear, como um quebra-cabeça de lembranças em que três vozes – Maia, a esposa (Camila Furtunato), Samira, a amante (Camila Félix) e Gilberto, o paciente (Anselmo Bandeira) – orbitam em uma consciência fragmentada. Cada um deles representa uma dimensão do personagem: o controle, o desejo e a dor. “Esses personagens são partes de um todo. Quando essas três vozes se cruzam, o espetáculo atinge o ponto em que razão, emoção e corpo colidem, e já não há retorno”, conta a diretora, Carolina Cândido.
Mais do que um retrato de um homem em crise, “enquanto ainda há” reflete sobre a fragilidade das relações humanas e o esgotamento afetivo da contemporaneidade. A peça propõe uma reflexão sobre a tentativa de controlar o que se sente e o preço de não se permitir sentir. “O espetáculo fala sobre todos nós, que vivemos tentando equilibrar o que mostramos e o que sentimos. É um convite à pausa, à pergunta sobre o que ainda há de vivo dentro de cada um”, afirma Carolina Cândido.
O texto tem atravessado o elenco e provocado reflexões internas. “O espetáculo fala sobre as relações humanas, principalmente sobre como as escolhas de uma pessoa impactam na vida da outra. E construir uma personagem que está constantemente pensando no outro, se colocando em segundo plano e lidando com os desdobramentos das decisões do outro, tem sido desafiador e uma oportunidade para refletir”, diz Camila Furtunato. “É uma reflexão sobre as nossas escolhas e como lidamos com as consequências. Será que estou tomando as decisões coerentes com o meu coração? Ou estou apenas sendo levada pela vida? É preciso ter coragem de escolher o que o coração aponta e, se necessário, voltar atrás quando a gente sente que se perdeu”, completa Camila Félix.
O projeto nasceu de uma conversa entre Anselmo Bandeira e o iluminador Gabriel Corrêa, em 2019, sobre como homens lidam com suas emoções em uma sociedade machista. A ideia amadureceu ao longo dos anos e, em 2024, ganhou nova dimensão, sob a direção de Carolina Cândido, que propôs ampliar o debate sobre a afetividade contemporânea com um olhar mais plural e sensível. “A partir da provocação da Carolina, entendemos que falar sobre os afetos masculinos não era restringir o tema aos homens, mas expandi-lo para todas as relações”, comenta Anselmo Bandeira.
O espetáculo cruza o teatro com linguagens da estética fragmentada, artes visuais e a neurociência afetiva para criar uma experiência imersiva. O resultado é uma encenação entre a realidade e o delírio, em que corpo e tempo se dissolvem. É um mergulho nas fronteiras da memória e consciência, onde a dúvida entre o real e o ficcional são peças-chave de um quebra-cabeça de reflexões. A plateia poderá, então, atentar como as emoções interferem na nossa mente, desde a percepção até como agimos. “‘enquanto ainda há’ é uma travessia pela consciência humana diante do fim, um chamado ético e poético ao público: o que você ainda pode fazer enquanto ainda há tempo?”, diz Carolina Cândido.
Além da luz, de Gabriel Corrêa, o espetáculo ganha formas em diversas camadas visuais. Flor Barbosa, design de movimento do espetáculo e assistente de direção, desenha no corpo do elenco a narrativa e as dimensões que ocupam cada um dos personagens, enquanto o Luiz Dias, que assina a Direção de Arte, aprofunda os papéis vividos pelos personagens, palpavelmente em cena, sem perder a fragmentação proposta na narrativa. Enquanto o Barulhista, assina a trilha sonora, que preenche e amplia os vazios que atravessam as relações dos personagens.
Serviço
Espetáculo “Enquanto ainda há”
Até 21 de dezembro de 2025
Local: Funarte MG – Galpão 4 (Rua Januária, 68 – Centro, Belo Horizonte)
Horário: quinta e sexta, às 20:30; sábado e domingo, às 19:30
Classificação: 16 anos
Duração: 70 minutos
Ingressos antecipados: R$40 inteira e R$20 meia. Vendas pelo Sympla e na bilheteria da Funarte.