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Espetáculo ‘DeNegrir’, em cartaz no Rio de Janeiro, revela racismo na linguagem cotidiana
Espetáculo “DeNegrir” - Coletivo DeBonde / Amichavy
Em temporada pelo Rio de Janeiro, o espetáculo de artes integradas “DeNegrir” chega ao Teatro Cacilda Becker, espaço cultural da Fundação Nacional de Artes (Funarte), de 28 a 30 de novembro, com entrada gratuita.
Mostrar como expressões do vocabulário cotidiano – a exemplo de “denegrir”, “criado mudo” e “fazer nas coxas” – carregam conotações racistas, que atravessam séculos e ainda impactam diretamente a vida da população negra: essa é a proposta da montagem. Ela se realiza com recursos da Política Nacional Aldir Blanc, do Governo Federal/Ministério da Cultura/Governo do Estado do Rio de Janeiro /Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa (SECEC-RJ) – que o contemplou no edital Fluxos Fluminenses –; e conta com apoio do Programa Funarte Aberta.
“DeNegrir” convida o público a refletir sobre a expressão verbal como ferramenta de opressão, mas também de resistência. A obra integra diversas modalidades artísticas – dança, teatro, poesia, videografismo – com o recurso da linguagem de sinais. A história dos povos africanos espalhados pelo mundo é a base da criação. "A peça se estrutura como um território de denúncia e celebração: acusa o racismo estrutural presente na língua portuguesa e celebra a memória, os saberes e as técnicas dos(as) ancestrais negros e negras.
“Grito poético, ato político e gesto de cura” - “A provocação começa pelo título. Em muitos dicionários, ‘denegrir’ é associado a algo sujo ou negativo, quando na verdade significa ‘tornar negro’. Isso revela como a sociedade ainda opera com pilares racistas, inclusive na linguagem”, explica Salasar. A peça se inspira em pensadores como Lélia Gonzalez, Frantz Fanon, Neusa Santos, Gabriel Nascimento e Achille Mbembe, que apontam como a linguagem faz parecer legítimas estruturas racistas e ataca as subjetividades – os aspectos individuais das pessoas. “Nos convocam a incorporar o discurso sobre nós mesmos. A obra DeNegrir significa retomarmos a autonomia e o valor que nos foram roubados. É um grito poético; um ato político; e, ainda, um gesto de cura”, interpreta.
O encenador teatral Fábio França, que também assina a direção, reforça que a apresentação é um chamado para reconhecer o protagonismo, o papel central, das pessoas negras na construção do Brasil: “O povo negro não inventou o racismo, mas todos os dias precisa lutar contra ele. Queremos dizer ao público que ser negro é ser parte fundamental da ciência, da cultura, da política, da arte, da religião e de todos os campos da vida. Mais do que um espetáculo, ‘DeNegrir’ é uma convocação para que o Brasil reconheça a dignidade e a grandeza de sua população negra”.
A produção realizou um levantamento de palavras e expressões que desvalorizam a história e os costumes negros, as quais ainda estão presentes no senso popular. Salasar crê que não há fórmula mágica para eliminar esses termos, mas que a prática diária pode transformar o modo como falamos e pensamos. “A dicotomia claro e escuro, branco e preto, se disfarça de inofensiva, mas sabota nossas subjetividades”, aponta. O diretor acrescenta que as pessoas negras precisam voltar a contar sua própria história e a retomar o que as descreve.
França conclui: “DeNegrir também homenageia nomes fundamentais da arte e da luta negras no Brasil, como Abdias do Nascimento, Zezé Motta, Hilton Cobra, Elisa Lucinda, Grace Passô, Zezé Maria, Evani Tavares de Brito, Onisajé (Lucélia Sérgio) e Márcio Meirelles. Essas trajetórias são sementes que floresceram em resistência, ousadia e criação, abrindo caminhos para que novas gerações ocupem os palcos com dignidade e pertencimento. A obra é, acima de tudo, um canal de afirmação da identidade e da memória negras; uma peça que educa, emociona e incomoda — e que convida as pessoas a não saírem da plateia da mesma forma como entraram”.
A montagem é realizada em um projeto do coletivo artístico DeBonde. A direção é de Fábio França e Salasar Junior – que também assina a idealização e atua em cena, em sua estreia como solista. A produção é da eLabore.Kom.
Serviço
Espetáculo “DeNegrir” - Coletivo DeBonde
Entrada gratuita | Classificação Etária: 16 anos
Dias: 28, 29 e 30 de novembro, de sexta-feira a domingo
Horários: sexta e sábado às 19h e domingo às 18h
Local: Teatro Cacilda Becker
Espaço cultural da Fundação Nacional de Artes – Funarte
Rua do Catete, 338, Catete – Rio de Janeiro (RJ)
Convites na bilheteria, no dia da apresentação