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A mulher sem medo: cantora Elza Soares morre aos 91 anos
Brasil perde Elza Soares aos 91 anos - Crédito da imagem: Acervo Cedoc/Funarte - Projeto Pixinguinha - Brasil Memória das Artes
Artistas como Elza Soares não são comuns. Abalam estruturas, mudam estigmas, marcam a vida de quem os ouve de uma forma que não dá para transmitir em palavras. A Funarte hoje, como todos os brasileiros, lamenta a perda de uma figura tão importante para a nossa cultura. Cantora, atriz, mãe, mulher, inspiração. Elza Soares foi muitas e também foi a mulher sem medo, que estimulou outras a lutar contra as injustiças na sociedade, nos palcos e nos relacionamentos.
Elza Gomes da Conceição nasceu em 23 de junho de 1930 e foi uma carioca de Padre Miguel, bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro. Em 1999 foi eleita pela Rádio BBC de Londres como a cantora brasileira do milênio. Com uma história de vida repleta de altos e baixos, aos 11 anos foi obrigada pelo pai a abandonar os estudos e casar-se. Teve filhos muito jovem e também ficou viúva muito cedo. Todas as dores de sua vida foram fonte de inspiração para a sua música, com voz rasgada e peculiar, ela usou a sua visibilidade para defender os direitos dos negros, mulheres, periféricos e da educação de qualidade.
Com 36 álbuns lançados no período entre 1960 e 2019, Elza Soares foi indicada ao Grammy Latino em 2003, pelo álbum Do Cóccix até o Pescoço; em 2016, pelo álbum A Mulher do Fim do Mundo, quando foi premiada na categoria Melhor Álbum de Música Popular Brasileira; em 2018, pelo disco Deus é Mulher; e em 2020, pela música Libertação. Também venceu prêmios como o Troféu da APCA (Associação Paulista de Críticos da Arte), Prêmio Plumas & Paetês Cultural, Prêmio da Música Brasileira, Prêmio Multishow de Música Brasileira, Troféu Raça Negra, WME Awards e o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro. Em 2020 a cantora também se tornou enredo da Escola de Samba do seu coração, Mocidade Independente de Padre Miguel, cujo enredo foi Elza Deusa Soares.
A relação da Funarte com a Elza Soares data de algumas décadas atrás. Em 1980, Elza Soares estreou no Projeto Pixinguinha junto de Leny Andrade e o Mestre Marçal, para uma série de 25 shows em seis cidades do Brasil: São João de Meriti (RJ), Rio de Janeiro (RJ), Campo Grande (MS), Cuiabá (MT), Manaus (AM) e Belém (PA). No jornal O Liberal, de Belém, Elza Soares elogiou o Projeto Pixinguinha:
“O Projeto traz o povo. E o povo é tudo pra mim.”
Na época, Elza Soares tinha acabado de lançar o álbum Negra Elza, Elza Negra, seu 23º trabalho e que marcava 20 anos do lançamento de seu disco de estreia, que trouxe o sucesso Se Acaso Você Chegasse, de Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins. Você pode ouvir áudios e ver imagens da participação da Elza Soares no Projeto Pixinguinha no site do Brasil Memória das Artes.
A cantora carioca retornou ao Projeto Pixinguinha em 1981, com Billy Blanco, e novamente em 1983, desta vez junto ao sambista baiano Batatinha no espetáculo chamado Noite e Luz. A turnê passou pelas cidades de Niterói (RJ), Fortaleza (CE), Natal (RN), João Pessoa (PB), Recife (PE), Salvador (BA) e Brasília (DF). O espetáculo, tal como a própria cantora, era nada convencional: ela iniciava cantando do alto de um camarote e seguia cantando e caminhando até o palco, passando pelo público e conquistando a todos presentes. Os áudios da apresentação estão disponíveis no site do Brasil Memória das Artes, clique no hiperlink para acessar e ouvir.
Embora no dia 20 de janeiro de 2022 tenhamos perdido Elza Soares, a importância de sua arte será eterna.
Crédito da imagem: Acervo Cedoc/Funarte - Projeto Pixinguinha - Brasil Memória das Artes