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“Caravana África Diversa” chega aos espaços culturais na Funarte no Rio de Janeiro
Caravana África Diversa / Boniface Ofago
A Caravana África Diversa chega ao Rio de Janeiro (RJ), com artistas, pesquisadores e grupos de tradições culturais africanas de vários países, de 22 a 27 de novembro. Gratuita, a programação, em espaços culturais e áreas de quilombo urbanos, inclui: cortejo de grupos de folguedos populares; performance de “afro-butoh”; roda de histórias e cantos; oficina de uma tradição de axé; vivência, com um coletivo brasileiro e um africano; e apresentação de um grupo musical do Congo; e debate. A ação conta com patrocínio da Petrobras e do Ministério da Cultura e apoio da Fundação Nacional de Artes (Funarte).
Do festival participam artistas, coletivos e estudiosos de diversos países da África – Camarões, Congo, Burkina Faso –, e estados do Brasil – Maranhão, Minas Gerais e Rio de Janeiro –, além de contadores de histórias ancestrais, uma delas cubana. Há dois cortejos: um deles com um grupo carioca de folia de reis e outro do festejo massambique, de Minas Gerais, com saída no Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP/Iphan), no Catete. Estão incluídas ações em dois equipamentos da Funarte: no Teatro Cacilda Becker, dia 26, quarta-feira, a performance de dança-teatro “afro-butoh” – forma contemporânea do estilo butoh japonês com traços africanos –, de Benjamin Abras; e no Teatro Dulcina, dia 27, quinta, a maratona multiartística Contos e Música – com contadores de histórias ancestrais e show musical do Fulu Miziki, do Congo – “orquestra” ativista ecológica, afrofuturista, punk, que usa instrumentos feitos de objetos jogados no lixo.
Os outros espaços envolvidos são a BiblioMaison e o Museu de Arte do Rio (MAR), no Centro; o Quilombo Cafundá Astrogilda, em Vargem Grande; e o Quilombo da Glória. A agenda – em link abaixo – aborda assuntos como: meio ambiente e urgências climáticas; democracia; direitos humanos; lugares de memória da rota dos escravizados; está prevista ainda a publicação de uma revista.
Ações na França e no Brasil, a partir de identidades culturais - “Em sua sexta edição, a iniciativa se integra à Temporada Cultural França-Brasil, nas comemorações dos 200 anos de amizade franco-brasileira e dos 20 anos da primeira Temporada brasileira na França. A primeira fase da Caravana aconteceu neste país, de 6 a 9 de novembro, em Nantes”, lembram a curadora Daniele Ramalho, da Capital Fluminense, e Hassane Kouyaté, natural de Burkina Faso – curador convidado desta edição, ator e griô [guardião e contador de histórias de tradições africanas, historicamente transmitidas de forma oral]. Estes organizadores dizem que elaboraram a programação com base na diáspora africana – a trajetória dos povos do continente espalhados pelo mundo –, entendida por meio de um olhar direcionado às identidades culturais das nações.
Os artistas que estiveram na França também participam da Caravana no Rio.
Teatro Cacilda Becker recebe o “butoh” com traços africanos - Considerado como um forte influenciador no “afro-butoh”, Benjamin Abras – Belo Horizonte (MG) –, que vive na Europa, apresenta o solo Masemba no Teatro Cacilda Becker, quarta, dia 26, às 19h. Atuando com uma linguagem contemporânea interdisciplinar, poeta, diretor de dança-teatro, dramaturgo e ensaísta, há oito anos não se apresenta no Brasil. Antes de ir para o exterior, participou de trabalhos com o diretor João das Neves e com o coreógrafo Rui Moreira – este, hoje, diretor do Centro de Dança da Funarte. Iniciado em religiões de matriz africana, Abras cria performances, instalações, objetos, desenhos e pinturas que refletem suas experiências nas tradições do candomblé e da capoeira de Angola. Utiliza simbolismos e movimentos dos rituais como atuação política. Seu foco é: que se consiga reescrever a história apagada e que as pessoas libertem seus corpos de padrões impostos, centralizados na cultura europeia tradicional.
Masemba é fruto de mergulhos contínuos do artista em várias tradições, especialmente da experiência dele com a capoeira Angola e sua pesquisa sobre o “transe da presença” – no qual ele reverencia os ancestrais africanos e sua herança espiritual, e a “experiência do corpo como lugar da encruzilhada” e da “força da transformação” – conforme ele define. Parte da elaboração de Masemba é a pintura corporal. Isso resulta de uma vivência do autor com o povo Omo, que vive próximo do Níger. Em cerimônias dessa comunidade, as pessoas se pintam com argila, utilizando também terra e flores, e ficam com seus corpos desenhados com símbolos. “É um território de beleza e transformação”, comenta o artista. Ele aponta que sua performance incorpora esses signos. “Estou trabalhando com o Afro Butoh e, no processo de criação, me alinho com a pintura Zen, que estudei durante muitos anos e que é o elemento ‘ma’, em japonês, pode ser traduzido como ‘entre lugar’. O ‘ma’ é uma janela que no centro pode ter um Sol ou uma Lua. No processo da vida, há a incerteza, a impermanência, como prega a Filosofia Zen; e esse processo existe dentro da experiência africana. Ou seja, a cultura afro-asiática traz isso para a gente. A palavra “masemba” tem um jogo de significados: ao pé da letra, é o plural de “semba”, “mar” – significa “vários mares”.
Benjamin Abras realiza, ainda, a Oficina de Dança – Afro-Butoh, no dia 27 quinta-feira, 11h às 13h – Museu de Arte do Rio (MAR).
Uma banda com instrumentos feitos de objetos descartados - Já na quinta-feira, 27, também às 19h, no Teatro Dulcina, se apresentam artistas da contação de histórias e da música na maratona Cantos e Contos. Entre as atrações, está a Fulu Miziki, do Congo, que, pela primeira vez, mostra sua música no Brasil. Desde 1999, a “orquestra eco-punk-afrofuturista” experimental tem trabalhado continuamente para desenvolver um gênero musical baseado no “som de tudo o que é jogado no lixo”. É dirigida por Pisco Crane, compositor, arranjador, tecladista e lutier (artesão de Instrumentos). Lady Aicha é a voz principal da banda. Ela tem aparência e estilo que dão a impressão de “futuro”. Faz residências artísticas pelo mundo. “Busca inspirar a consciência ecológica, a capacidade de resistência, a criatividade e, nas pistas de dança, uma agitação vertiginosa.
Guardiães de saberes ancestrais, pesquisadores e contadores de histórias também se apresentam: Boniface O’fogo (Camarões), Hassane Kouyaté (Burkina Faso), Coralia Rodríguez (Cuba), Daniele Ramalho (BR – RJ), A noite conta, ainda com a e a Folia-de-Reis Penitentes do Santa Marta.
A programação completa está neste link.
Serviço
“Caravana África Diversa”
Temporada no Rio de Janeiro
22 a 27 de novembro de 2025
As atividades são gratuitas
Locais:
Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (Cnfcp) – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) – Rua do Catete, 179 – Catete - RJ
Teatro Cacilda Becker – Rua do Catete, 338 – Espaço cultural da Funarte
Teatro Dulcina – Rua Alcindo Guanabara, 17 – Espaço cultural da Funarte
BiblioMaison – Avenida Presidente Antônio Carlos, 58, 11º andar – Centro
Agenda dos espaços da Funarte
Dia 26 de novembro, quarta-feira – 19h – Teatro Cacilda Becker
Dança-teatro
Espetáculo de “Afro-Butoh”
Masemba
Com Benjamin Abras (Brasil – MG)
Duração: 1h
Dia 27 de novembro, quinta-feira 19h – Teatro Dulcina
Contos e Música
Hassane Kouyaté (Burkina Faso - África), Coralia Rodríguez (Cuba), Daniele Ramalho, Boniface O’fogo (Camarões - África), a Folia-de-Reis Penitentes do Santa Marta (RJ) e Fulu Mizik (coletivo do Congo - África)
Duração: 2h
Mais informações: www.africadiversa.com.br | Instagram: @caravana.africadiversa