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Cultura Viva: política pública brasileira inspira outros países
Foto: Divulgação RedLab e Ilacvc
As iniciativas do Cultura Viva, programa criado em 2004 pelo Ministério da Cultura do Brasil (MinC), ganharam projeção internacional ao longo das últimas duas décadas. A experiência brasileira, atualmente com mais de 7.200 Pontos de Cultura certificados pelo MinC em diversas regiões do território nacional, consolidou-se como uma política pública bem-sucedida e inspirou outros locais a implementarem ações semelhantes. Argentina, Chile, Uruguai, Peru, El Salvador, México e Costa Rica, entre outros, são exemplos de países que adaptaram seus princípios às realidades locais, formando uma ampla rede de salvaguarda da memória, da identidade e das culturas de base comunitária.
O reconhecimento dessa política pública a tornou uma importante tecnologia social na América Latina e na Ibero-América. De 8 a 10 de abril, a Cidade do México sediará o Seminário Internacional "Cultura Viva Comunitária - Uma Escola Latino-Americana de Políticas Culturais", reunindo especialistas, gestores, pesquisadores e ativistas do setor cultural em um grande e inédito espaço de encontro, diálogo e formação para fortalecer a gestão cultural e as políticas comunitárias. Um dos destaques do evento será a experiência brasileira dos Pontos de Cultura.
A Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB), vinculada ao MinC e uma das correalizadoras do Seminário, se posiciona, em sua missão institucional, como um potente espaço de estímulo e difusão dos saberes, incentivando a pesquisa sobre cultura de base comunitária em diversos projetos e ações. Parte desse compromisso é o entendimento de que cabe ao Estado ampliar e reconhecer essas ações, conforme explica o presidente da FCRB, Alexandre Santini:
“O grande diferencial das políticas culturais inspiradas neste conceito de Cultura Viva, como conhecemos no Brasil, ou Cultura Viva Comunitária para a América Latina, é o reposicionamento do papel do Estado em sua relação com a sociedade e a comunidade organizada. Esse conceito preconiza uma gestão compartilhada entre governos e sociedade civil, com a promoção de espaços de diálogo, articulação e encontros que incentivam uma participação ativa, de baixo para cima, por parte das organizações culturais comunitárias na formulação e execução dessas políticas. Um 'Estado Ampliado', conforme a definição de Antonio Gramsci, mais permeável e sensível às demandas da sociedade.”
Sobre a relevância do Seminário, Santini destaca que a projeção internacional consolida o setor cultural do Brasil de forma estratégica: “A organização deste seminário fortalece também o papel do Brasil na reflexão e na construção de agendas internacionais em torno das políticas públicas para a cultura. Sua realização é uma etapa de um processo de diálogos que terá lugar também na XIV edição do Seminário Internacional de Políticas Culturais da Fundação Casa de Rui Barbosa e na Conferência Mundial da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) sobre Políticas Culturais, o Mondiacult 2025, em Barcelona, na Espanha. Nosso objetivo é avaliar os avanços já conquistados e projetar ações futuras para fortalecer a Cultura Viva Comunitária como uma Escola Latino-Americana de Políticas Culturais. O Brasil desempenha um papel estratégico na formulação dessas políticas.”
Márcia Rollemberg, presidenta do IberCultura Viva e secretária de Cidadania e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura do Brasil, ressalta o papel estratégico do seminário para fortalecer a cooperação entre países e a articulação com a sociedade civil. “Este é um encontro construído de forma colaborativa e multissetorial. Avançar nas políticas culturais requer a construção de redes, o diálogo entre saberes — acadêmicos, populares e da gestão pública —, e é isso que move a cooperação das cidades, estados e países membros do IberCultura Viva, sempre fortalecendo a gestão compartilhada e o envolvimento de todos os setores da sociedade.”
Para Márcia, “a cultura viva nasce nos territórios, na pulsação cotidiana das comunidades, e cabe ao Estado reconhecê-la e apoiá-la com escuta ativa e compromisso. Hoje, contamos com mais de 7.200 Pontos de Cultura no Brasil — uma política pública que se firma na potência da construção coletiva", sustenta, acrescentando que essa capacidade de colaboração está no cerne dos grupos culturais comunitários latino-americanos, que resistem a adversidades e abrem caminhos desde tempos imemoriais.”
Participação especial
Entre os nomes confirmados para o Seminário está o renomado antropólogo e pesquisador Néstor García Canclini, que fará a conferência de abertura. Doutor em Filosofia pelas universidades de Paris e La Plata e professor emérito da Universidade Autônoma Metropolitana do México, Canclini abordará o tema "Desafios da Cultura Viva Comunitária: dos diálogos com instituições às plataformas digitais". Em sua apresentação, ele refletirá sobre o impacto das redes sociais na formação de comunidades digitais e o papel das instituições no apoio à cultura comunitária.
“As culturas comunitárias, enraizadas nos territórios, dialogam com instituições locais, nacionais e internacionais. Diferentes governos têm apoiado, utilizado e, por vezes, desencorajado a vida comunitária. Hoje, as comunicações ocorrem cada vez mais por meio das redes sociais, formando comunidades digitais que abrangem o próximo e o distante. Como ativar a convivência em tempos de corporações eletrônicas?”, questiona Canclini.
Além de Canclini, o Seminário Internacional contará com a presença de Célio Turino, Lucina Jiménez, Eduardo Nivón Bolán, Jazmín Beirak, José Luis Mariscal Orozco, Jorge Melguizo, Freddy Simbaña, Ivana Bentes, Paola De La Vega e Lia Calabre, entre outras figuras de destaque na gestão cultural. A coordenação acadêmica é de Emiliano Fuentes Firmani (Argentina), Alexandre Santini (Brasil) e Paulina Ibarrarán (México).
O evento integra a Caravana Quetzalcoatl do Movimento Latino-Americano de Culturas Vivas Comunitárias e o Festival de Culturas Vivas Comunitárias da Cidade do México. O seminário acontece em um contexto que o México se posiciona, nesse momento, em um grande centro do debate sobre cultura de base comunitária, reunindo pessoas e atividades diversas.
O Seminário conta com transmissão online: https://www.youtube.com/@canalfcrb
Confira a programação completa: https://linktr.ee/ilacvc