Notícias
ENCONTRO
Após participar de evento sobre cultura infância e natureza, crianças fazem carta em defesa do planeta
Foto: Felipe Torres
A entrega da Carta das Crianças pelo Planeta marcou o encerramento do Festival e Seminário Cultura Infância e natureza: agir pelo planeta, realizado no Rio de Janeiro. O material - em formato de texto e de um painel ilustrado - reúne as ideias e desejos das crianças para a construção de um mundo justo, sustentável e que coloque as infâncias no centro das decisões. A carta será apresentada na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), em Belém (PA), no próximo mês.
Realizado entre os dias 9 e 12 de outubro, o evento promoveu diversas oficinas e atividades lúdicas nas quais as crianças exploraram temas como diversidade, natureza, cultura e direitos. O Festival e Seminário reuniu ainda gestores públicos, pesquisadores, movimentos ligados à infância, representantes de Pontos e Pontões de Cultura, mestres e mestras das culturas tradicionais e populares em mesas de debates.
“Fizemos várias atividades de escuta com as crianças, que construíram uma carta sobre o que querem para o mundo e o que têm a nos alertar. O seminário foi um espaço de emoção, trocas e interação. Dar prioridade à infância é dar prioridade à natureza, é cuidar do planeta e de todos nós. Vamos juntos por um mundo com mais justiça climática e com muito mais amor”, resumiu a secretária de Cidadania e Diversidade Cultural do MinC, Márcia Rollemberg.
A realização desse evento, na avaliação da diretora de Promoção da Diversidade Cultural, Karina Gama, representou um momento simbólico e potente na reativação da pauta cultura infância. “A gente traz a infância como prioridade. Falar de criança não é apenas falar de futuro, é falar de presente. Então, o nosso objetivo foi pensar o tripé: infância, cultura e ação climática. Quando a gente pensa em agir pelo planeta e qual é a forma de agir, a gente precisa agir por meio da cultura. A retomada dessa rede é muito importante para pensar a infância nesse patamar de garantia de direitos culturais, de cidadania e de democracia”, concluiu.
Oficinas para as crianças
A elaboração da Carta das Crianças pelo Planeta ocorreu em três encontros da oficina Terra Sonhada, conduzida pelo Ponto de Cultura Usina da Imaginação (SC) e coordenada pela antropóloga Rita Oenning da Silva. Outros pontos marcaram presença no evento com atividades para o público infantil, como o Bola de Meia (SP) - que levou a ação Brincar é um Direito Cultura e o Estatuto da Criança e do Adolescente - e o Minhas Plantas Meu Quintal (MG), responsável pelas oficinas: Aconchego da Vovó e Bicho Folha.
“Passei para as crianças o meu saber através das plantas. Como é que eu sei que aquela plantinha chamada espada de São Jorge pode melhorar o ar na sua casa. E ensinei que uma folha seca pode virar arte. Então, passei a alegria e o prazer de viver em contato direto com a natureza e da importância de preservá-la”, comentou a Mestra Ana Maria Soares, conhecida como Vovó Ana, do Ponto de Cultura Minhas Plantas Meu Quintal.
As crianças tiveram a oportunidade também de participar das seguintes oficinas: Trilhar os Amanhãs e Clube da Horta, promovidas pela equipe do Museu do Amanhã, e Kiringue (palavra guarani que significa criança) conduzida por Ingrid Ara Santos da Silva (Guarani-mbyá) e Maria Daniela Corrêa de Macedo.
Mesas de Debates
Além das atividades infantis, a programação do Seminário e Festival contou com a realização de mesas de debates. No sábado (11), um dos temas discutidos foi “Infâncias e Culturas: Memórias Ancestrais, Diversidade e Futuros do Planeta”, com as diretrizes para orientar as políticas culturais e climáticas.
Na ocasião, o secretário de Formação, Livro e Leitura do MinC, Fabiano Piúba, destacou a relevância das ações para a cultura infância e da relação com as pautas de patrimônio cultural e memória. “É importante o contato na infância com os sabedores populares e tradicionais, mas também o contato da infância com a natureza, com o chão e, ao mesmo tempo, com a vivência das artes”, observou.
Para Val Munduruku, integrante da Associação de Mulheres Indígenas Suraras do Tapajós, a cultura e o meio ambiente são indissociáveis. “A arte pode chegar a lugares que a gente como uma organização jamais chegaria. Com o cantar, a gente consegue transmitir as nossas mensagens, educar e comunicar tudo o que a gente vivencia no território. A cultura tem esse poder também de transformação”, completou.
Já Ana Cláudia Leite, representante do Instituto Alana, abordou a participação social das crianças na elaboração e implementação de políticas públicas. Mas alertou que “esse processo deve ser feito de acordo com as especificidades dessa população e com a valorização de suas linguagens”.
Na mesma linha, a pesquisadora da UFRJ Patrícia Dornelles defendeu: “nesta perspectiva, precisamos pensar políticas que devem garantir o princípio da capacidade evolutiva da criança, garantindo espaço de escuta qualificada, participação autêntica com construção de soluções e reconhecendo saberes infantis como epistemologias legítimas nos processos decisórios sobre cultura e clima”, acrescentou.
Ainda na programação de sábado ocorreu a mesa “Saberes e Fazeres da Cultura Infância: Ancestralidade e Práticas Inspiradoras”, com mestras e mestres das culturas tradicionais e populares reunidos para compartilhar as experiências desenvolvidas em suas comunidades voltadas às crianças e que possibilitam a troca de conhecimentos, a formação de vínculos e a continuidades das tradições.
Entre os participantes, o Mestre Rosildo do Rosário, da Bahia, falou sobre o papel do brincar na formação das pessoas, o processo de aprendizado como os mais velhos e a compreensão de que o conhecimento transmitido de geração em geração é um patrimônio.
“É preciso pensar a criança como promotora de conhecimento. Aquela pessoa que compreende e transforma os ensinamentos e não é apenas a receptora daquela informação. Os nossos mestres de agora precisam entender que as crianças também são produtoras de verdade e que aquilo que a gente chama de ancestralidade é um vínculo ético e espiritual não apenas com o passado. É como uma presença que orienta e liga ao território, à nossa memória coletiva”, reforçou.
No evento, a cineasta Shirley Djuku Nã Krenak, compartilhou a sua experiência com educação indígena que une ancestralidade, agroecologia, bem-viver e reconexão com a Mãe Terra. “Trabalhar com educação não é simples. Nessa complexidade, é necessário transformar a essência de levar a palavra, de levar a espiritualidade, de levar a ancestralidade para dentro desses espaços fechados. Não é só colocar para fazer alguma coisa. É o processo da palavra, da escuta, e dos sentidos pequeninos”.
Na sexta (10), ocorreu a mesa Cultura Infância e Linguagens: Arte, Corpo, Memórias e Inclusão, no Teatro Pedro Calmon, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, e a roda de conversa da ministra da Cultura, Margareth Menezes, com as crianças participantes da oficina Terra Sonhada. Na quinta (9), a mesa Vozes das Infâncias, abriu os debates com a presença da ministra dos Direitos Humanos e Cidadania, Macaé Evaristo.
Realização
O Festival e Seminário Cultura Infância e natureza: agir pelo planeta foi realizado pelo MinC, por meio da Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural, do Laboratório de Arte, Cultura, Acessibilidade e Saúde (LACAS) do Departamento de Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina, do Fórum de Ciência e Cultura, ambos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e do Museu do Amanhã. Conta com a parceria do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado do Rio de Janeiro, do Instituto Alana, da Companhia Cultural Bola de Meia, da Usina da Imaginação, da Prefeitura do Rio de Janeiro e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).