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“Não podemos naturalizar essa situação”, diz Márcia Lopes sobre violência contra a mulher no Brasil
Ministra Márcia Lopes durante o programa A Voz do Brasil, na Empresa Brasil de Comunicação (EBC) - Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
A ministra das Mulheres, Márcia Lopes, afirmou que o Governo do Brasil intensificou a integração com estados e municípios e ampliou a rede de serviços de proteção para enfrentar a violência contra a mulher no país. Em entrevista à Voz do Brasil nesta quarta, 3 de dezembro, ela destacou que o endurecimento das leis, o fortalecimento do Ligue 180 e a inclusão de conteúdos sobre prevenção em escolas e universidades compõem a estratégia nacional para reduzir feminicídios e agressões contra a mulher.
“Não podemos, jamais, naturalizar essa situação, como parte da sociedade acaba fazendo ao longo dos anos. É inacreditável essa cultura, quase que incorporando a violência como um ato normal de uma relação, pelo machismo, pela misoginia, por tudo aquilo que a gente tem historicamente na sociedade”
Márcia Lopes, ministra das Mulheres
De acordo com ela, esses crimes ainda atingem números “estarrecedores” e exigem resposta imediata do poder público. No ano passado, foram registrados 1.492 casos de feminicídio e mais de 3.800 tentativas. Neste ano o número já chega a 1.177. No Ligue 180, cerca de 2 mil denúncias são recebidas por dia, desde agressões menores até estupros, tentativas de violência física, violência política e violência patrimonial.
“Não podemos, jamais, naturalizar essa situação, como parte da sociedade acaba fazendo ao longo dos anos. É inacreditável essa cultura, quase que incorporando a violência como um ato normal de uma relação, pelo machismo, pela misoginia, por tudo aquilo que a gente tem historicamente na sociedade”, destacou a ministra em entrevista.
ESTADOS E MUNICÍPIOS — A importância do assunto ser debatido dentro dos estados e municípios foi um dos pontos ressaltados por Márcia Lopes. Segundo ela, em seis meses de trabalho à frente do ministério, 18 estados foram visitados com o objetivo de ampliar a conversa com governadores e prefeitos.
"Porque dialoga com as escolas, as unidades básicas de saúde, os Creas, as Câmaras de Vereadores. O município fala com as entidades, com as igrejas, e é isso que a gente precisa: entender que essa questão da violência contra a mulher é uma questão histórica, é uma questão da sociedade, de muita responsabilidade de todos, de entender o que está acontecendo com os homens quando nos defrontamos com qualquer situação de violência que seja, da mais simples à mais grave, que é o feminicídio", explicou.
Sobre o papel do Ministério das Mulheres no diálogo com as demais pastas, Márcia afirmou não haver possibilidade de executar a política de mulheres sem todos os ministérios em conjunto. “E não só a estrutura do Governo do Brasil, mas a dos estados e dos municípios. Não há como atender as mulheres sem passar por todas as políticas públicas setoriais e intersetoriais.”
POLÍTICAS — Entre as principais políticas voltadas à proteção das mulheres, a ministra Márcia Lopes citou a Lei Maria da Penha, reconhecida internacionalmente, e as Casas da Mulher Brasileira, centros de atendimento que prestam serviços públicos e especializados para mulheres em situação de violência.
Outra iniciativa de extrema relevância foi a reconstrução do Ligue 180. O Ministério das Mulheres promoveu uma série de melhorias no serviço a partir de 2023, incluindo a ampliação dos canais de comunicação com o serviço, com atendimento pelo Whatsapp, através do número (61) 9610-0180. Assim como nas chamadas por telefone, o atendimento é sigiloso e as denúncias podem ser registradas de forma anônima ou por terceiros.
Entre janeiro e outubro de 2025, foram realizados 877.197 atendimentos, uma média de 2.895 por dia. Do total, foram 719.968 chamadas por telefone, 26.378 atendimentos por Whatsapp, 130.827 por email, além de 24 videochamadas (Libras). No período, o Ligue 180 registrou 126.455 denúncias de violência contra mulheres. Em 66% dos casos, a denúncia foi feita pela própria vítima, 21% de forma anônima e 13% por terceiros.
DENÚNCIAS E ORIENTAÇÕES – Por meio do Ligue 180, é possível registrar denúncias de violência contra mulheres, obter orientação sobre leis e direitos, além de buscar informações sobre a localidade dos serviços especializados da rede de atendimento às mulheres (Casa da Mulher Brasileira, Centros de Referência, delegacias especializadas, Defensorias Públicas, entre outros).
24 HORAS EM QUATRO IDIOMAS – O serviço é gratuito e está disponível 24 horas, todos os dias, em quatro idiomas: português, inglês, espanhol e Libras. O atendimento é 100% realizado por mulheres. Com novas tecnologias, equipe qualificada e atendimento humanizado, o Ligue 180 reafirma sua missão: proteger vidas, garantir direitos e assegurar que nenhuma mulher esteja sozinha diante da violência.
EDUCAÇÃO — Protocolos junto a universidades federais, estaduais e institutos federais também estão sendo realizados para assegurar a presença de um programa permanente de prevenção e combate à violência nos currículos. Segundo a ministra, estudantes, servidores e docentes precisam estar em contato com a temática, “porque a violência não escolhe classe social, há violência em todas as classes. É claro que as mulheres negras, periféricas, as mulheres indígenas sofrem muito mais, mas a violência está em todos os lugares.”