Em Libras
09/12/2024
"Mais de 3 milhões e 400 mil violações de direitos humanos foram denunciadas no Brasil em 2023, revelando a persistência de graves abusos em todas as esferas sociais". Foi com esta frase, seguida a outros dados e um minuto de silêncio em homenagem à tradutora intérprete de língua de sinais transgênero Evellyn Zàfferah, assassinada este ano, que teve início o 23º Congresso Internacional e 29º Seminário Nacional do Instituto Nacional de Educação de Surdos - COINES 2024. Realizado nos dias 5, 6 e 7 de dezembro, em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o encontro teve como tema "Educação de Surdos e Direitos Humanos", reunindo um público de cerca de 400 inscritos e convidados na própria sede do instituto, em Laranjeiras, Zona Sul do Rio de Janeiro (RJ). Desde 2016 o prédio histórico não era palco do maior evento da instituição.

- Coines 2024 aconteceu na sede do instituto
O evento recebeu autoridades como Alex Sandro Lins, representante da Secretaria Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência e do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), e Gisele Fernandes, representante do Instituto Benjamin Constant (IBC), que estavam na cerimônia de abertura junto à diretora-geral do INES, Solange Rocha, e a diretora do Departamento de Desenvolvimento Humano, Científico e Tecnológico, à frente da organização, Danielle Lins. Alex destacou o trabalho do MDHC no combate às violações de direitos humanos, bem como o compromisso do governo com a educação bilíngue de surdos e com a criação, em 2025, de centrais de intérpretes nas instâncias federais de todo o país. Também em Libras, Solange reafirmou a relevância de debater os direitos linguísticos da comunidade surda e, principalmente, como este tema se integra e dialoga com os direitos humanos.

- Evento recebeu convidados de todo o Brasil e de fora
Entre os palestrantes, havia especialistas, mestres e doutores do INES e de outras instituições brasileiras de todo o país, além do professor Amaré Soares, da Associação de Surdos da Guiné-Bissau, que participou da mesa de abertura mostrando um panorama da educação de surdos em países africanos de língua oficial portuguesa. "A África é um verdadeiro exemplo da diversidade linguística e cultural. Temos cerca de mais de duas mil línguas existentes no território africano. Apesar disso, numa mesma região conseguimos nos comunicar, mesmo entre surdos e ouvintes", explicou Amaré, que agradeceu o convite do INES e disse esperar uma nova oportunidade de retornar ao país.

- Principais palestras tiveram transmissão ao vivo
Os professores Xoán Lagares, da Universidade Federal Fluminense (UFF); Shirley Vilhalva, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS); Keli Krause, da Universidade Federal do Pampa (Unipampa); Mariana Campos, atual diretora de política educacional e linguística da Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (Feneis); além de Valdo Nóbrega, ex-professor do INES que atualmente chefia a Divisão de Acessibilidade Cultural do Ministério da Cultura, e o docente da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Renan Quinalha, que é presidente do Grupo de Trabalho Ministerial de Memória e Verdade das Pessoas LGBTQIA+, do MDHC, foram alguns dos mais de 10 convidados que ministraram palestras em cinco eixos a partir do tema central - cidadania linguística; educação antirracista, indígena e quilombola; diversidades sexuais e de gênero; mulheres e lutas feministas; acessibilidade e direitos culturais.
Programação diversa

- Alunos do CAp/INES também apresentaram trabalhos
Devido à necessidade de reduzir o número de congressistas este ano, a fim de garantir conforto e infraestrutura aos presentes no evento, as principais mesas foram transmitidas online, ao vivo, pelo YouTube. A programação ainda contou com sessões de comunicação temáticas, 10 minicursos, apresentação de mais de 30 pôsteres, sorteio e lançamento de livros, lançamento de programa, feira de produtos e oficina de arte e cultura surda. Nesta edição, alunos do Colégio de Aplicação (CAp/INES) também puderam participar em uma sessão exclusiva de pôsteres, acompanhados dos docentes responsáveis pelos trabalhos. Violência contra a mulher, identidade cultural, olimpíadas, cinema e literatura foram temas abordados nas pesquisas dos estudantes dos ensinos fundamental e médio selecionados para expor.

- Minicursos, lançamentos e festival reiteraram diversidade
No último dia, Daniela Cruz, professora e poeta do Centro de Integração de Artes e Cultura Surda (Ciacs), conduziu o Festival de Arte e Cultura Surda, que encerrou o COINES 2024. Diversos artistas surdos da dança,
slam, capoeira, humor e vídeo, entre outros, contaram suas experiências, se apresentaram e fizeram performances em visual vernacular, recurso artístico e estético próprio das línguas de sinais em que a imagem é o discurso. "Não me lembro de um evento de educação de surdos com uma temática tão ampla e politizada (como foi este). É óbvio que a questão das línguas é fundamental, porque as pessoas precisam se comunicar, mas elas sozinhas não vão nos salvar", observou a professora Wilma Favorito, chefe da Divisão de Estudos e Pesquisas do INES, que esteve na mesa de encerramento e ressaltou a importância do encontro.