Publicação do INCA reúne principais agentes cancerígenos no ambiente e local de trabalho
Em consonância com as pesquisas globais e em referência ao Dia Mundial em Memória às Vítimas de Acidentes e Doenças do Trabalho e ao Dia do Trabalho, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) lança o livro “Ambiente, Trabalho e Câncer: Aspectos Epidemiológicos, Toxicológicos e Regulatórios.” A publicação foi organizada pelas tecnologistas Márcia Sarpa e Ubirani Otero, da Área Técnica Ambiente, Trabalho e Câncer, da Coordenação de Prevenção e Vigilância do INCA, e tem o objetivo de auxiliar profissionais de saúde a identificar os principais agentes químicos, físicos e biológicos, presentes no ambiente geral e ocupacional, que contribuem para o desenvolvimento de câncer. A publicação também mapeou os principais tipos de cânceres relacionados a exposição ocupacional.
A maior parte dos casos de câncer diagnosticados em todo o mundo apresentam uma relação direta com fatores de riscos ambientais, incluindo o ambiente ocupacional. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (Iarc) avaliam que cerca de 80% do total de casos de câncer podem ser atribuídos ao ambiente. A mais recente estimativa mundial aponta que, em 2018, ocorreram 18 milhões de novos casos de câncer.
Apesar da alta incidência de casos de câncer no Brasil e no mundo, o investimento em prevenção é o melhor caminho para a mudança de cenário, já que a maioria dos fatores de riscos ambientais que podem desencadear a doença são potencialmente preveníveis e modificáveis.
Os fatores de risco ambientais envolvem - além dos agentes químicos, físicos e biológicos - os hábitos de consumo e comportamento e o ambiente social (alimentação, uso de medicamentos, tabagismo, consumo de álcool, sedentarismo e obesidade). A epidemiologista e chefe da Área Técnica Ambiente, Trabalho e Câncer do INCA, Ubirani Otero, explica que as exposições aos agentes potencialmente cancerígenos no ambiente acontecem em várias situações durante toda a vida.
“É importante observar que os dados e estimativas dos casos diagnosticados atualmente, em geral, se referem a exposições que aconteceram décadas atrás. O período entre a exposição e o diagnóstico do câncer relacionado ao trabalho é realmente longo. Um alerta importante que nós especialistas fazemos é que não há níveis seguros de exposição a agentes cancerígenos”, afirma Ubirani.
Para 2021, o INCA estima que no Brasil terão 625 mil novos casos de câncer. A maior fração atribuível observada para as exposições ocupacionais e câncer relacionado ao trabalho diz respeito ao câncer de pulmão. Cerca de 20% dos casos desse tipo neoplasia em homens, poderiam ser evitados caso não houvesse exposição ocupacional a um grande número de agentes presentes nos ambientes trabalho (amianto, metais, sílica, radônio, produtos da exaustão de motores a diesel, são exemplos).
De maneira geral, considerando as causas de óbitos que mais acometem os trabalhadores, o câncer apresenta o maior percentual, representando 32% de todas as mortes. Quase 100% a mais do que os óbitos observados por acidentes e pela violência no trabalho, por exemplo. Já se considerarmos apenas as doenças crônicas não transmissíveis, e desordens mentais, o câncer é responsável por 53% de todas as mortes relacionadas ao trabalho no mundo mais relevante que o percentual observado por doenças respiratórias, mentais e muscoloesqueléticas.
“O livro aborda 38 localizações primárias de câncer que podem ter relação com a exposição a agentes cancerígenos presentes nos ambientes onde se vive e trabalha. São 19 localizações a mais do que foi elencado no livro ‘Diretrizes para a vigilância do câncer relacionado ao trabalho’, também organizado pela Área Técnica Ambiente, Trabalho e Câncer e publicado em 2012”, informa Ubirani.
Prevenção
Para prevenir o câncer relacionado ao trabalho e ao ambiente, é necessário observar três eixos fundamentais: a vigilância da doença, da exposição e dos trabalhadores ou população expostos.
Para Ana Cristina Pinho, diretora-geral do INCA, a prevenção pode ser efetiva quando identificados e removidos os agentes químicos, físicos e biológicos que apresentam potencial cancerígeno no ambiente. Quando não for possível a eliminação total dessas substâncias, deve-se reduzir a exposição a níveis mínimos, com constante monitoramento ambiental e dos trabalhadores expostos.
“É fundamental saber onde estão, quais os grupos mais expostos e quais os tipos de câncer que podem estar associados a eles. Ter conhecimento de como identificar essas exposições e todas as doenças associadas é fundamental para diminuir os riscos, notificar os casos e estabelecer estratégias de vigilância efetivas”, explica Ana Cristina.
Dados da OIT apontam que, por ano, no mundo todo, acontecem 666 mil mortes de cânceres associados ao trabalho. Esse dado representa o dobro das mortes relacionadas aos acidentes laborais. O diagnóstico e a mortalidade por câncer associado ao trabalho têm aumentado em razão do crescimento da expectativa de vida e da redução gradual de outras causas de morte, como as doenças transmissíveis e acidentes em geral.
Outra ação do INCA para cooperar com a prevenção de cânceres relacionados ao trabalho, é o acordo realizado com o Ministério Público do Trabalho, no último dia 27 de abril, pela Dra. Ana Cristina Pinho e o Procurador-Geral do Trabalho Alberto Bastos Balazeiro. A parceria tem como objetivo o desenvolvimento de ações, estudos e projetos conjuntos em prol do meio ambiente e da saúde dos trabalhadores.
O INCA e o MPT trabalham em parceria desde 2018, quando foi firmado formalmente o primeiro acordo. O foco principal, atualmente, é trabalhar abordando os impactos à saúde, em especial o câncer, em trabalhadores que são expostos aos agrotóxicos, ao amianto, ao benzeno e outros agentes considerados
Publicação
De acordo com Marcia Sarpa, o livro conta com 19 capítulos, sendo um introdutório que apresenta os diversos agentes químicos, físicos e biológicos presentes nos ambientes onde se vive e trabalha, e 18 capítulos referentes a cada agente cancerígeno específico com questões epidemiológicas, toxicológicas e regulatórias associadas a eles. Para a descrição desses agentes foram consultadas as últimas monografias da Iarc e foram descritas 38 localizações de tumor relacionados a estes agentes.
“O número de agentes cancerígenos reconhecidos e listados pela IARC tem aumentado ao longo dos anos, sendo alguns ainda pouco pesquisados no Brasil. Dessa forma, além dos antigos agentes já reconhecidos como cancerígenos - por exemplo o amianto, o benzeno, os agrotóxicos, os metais, a radiação, os fármacos antineoplásicos - também foram incluídos na publicação as novas tecnologias, como as nanopartículas e os transgênicos, cujos efeitos sobre a saúde não estão completamente estabelecidos e apenas serão vistos no longo prazo”, garante Márcia Sarpa.
Os capítulos do livro foram escritos e revisados por 23 pesquisadores do Instituto Nacional de Câncer, sendo a maioria da Área Técnica Ambiente, Trabalho e Câncer, e por mais 11 pesquisadores de universidades e outras instituições científicas, como a Fundação Jorge Duprat Figueiredo, de Segurança e Saúde no Trabalho/Fundacentro/ME e Fundação Oswaldo Cruz/MS. O material está disponível no site do INCA.
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