Tratamento
Importantes avanços na abordagem do câncer de mama aconteceram nos últimos anos, principalmente no que diz respeito a cirurgias menos mutilantes, assim como a busca da individualização do tratamento (Sledge et al., 2014). O tratamento varia de acordo com a extensão da doença (estadiamento), suas características biológicas, bem como das condições da paciente (idade, status menopausal, comorbidades e preferências).
O prognóstico do câncer de mama depende da extensão da doença, assim como das características do tumor. Quando a doença é diagnosticada no início, o tratamento tem maior potencial curativo. Quando há evidências de metástases (doença à distância), o tratamento tem como objetivos principais prolongar a sobrevida e melhorar a qualidade de vida da paciente.
As modalidades de tratamento do câncer de mama podem ser divididas em:
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Tratamento local: cirurgia (incluindo a reconstrução mamária imediata) e radioterapia
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Tratamento sistêmico: quimioterapia, hormonioterapia e terapias alvo (trastuzumabe, pertuzumabe).
Estádios I e II
A conduta habitual consiste de cirurgia, que pode ser conservadora, com retirada apenas do tumor (Moran et al., 2014); ou mastectomia, com a retirada de toda a mama. A reconstrução mamária deve ser considerada, sempre que possível, nos casos de mastectomia (Lei nº 14.538, de 31 de março de 2023). A avaliação dos linfonodos axilares tem função predominantemente prognóstica (Giuliano et al., 2011).
O tratamento sistêmico será determinado de acordo com o risco de recorrência (idade da paciente, comprometimento linfonodal, tamanho tumoral, grau de diferenciação), assim como características tumorais que orientarão a terapia mais apropriada. Poderá ser necessário o uso de diversos pilares terapêuticos para a obtenção da melhor resposta ao final do tratamento com o uso individual ou em conjunto de diversos medicamentos. A avaliação dos receptores hormonais (receptor de estrogênio e progesterona) (Hammond et al., 2010) – que quando positivos, determinarão a indicação de hormonioterapia; e também de HER-2 (fator de crescimento epidérmico 2) (Wolf et al., 2013) - com indicação de terapia alvo anti-HER-2.
O tratamento complementar com radioterapia pode ser indicado em algumas situações.
Estádio III
Pacientes com tumores maiores e/ou com linfonodos axilares comprometidos, porém ainda localizados, enquadram-se no estádio III. Nessa situação, o tratamento sistêmico (na maioria das vezes, com quimioterapia) é a modalidade terapêutica inicial (Cortazar et al., 2014). Após resposta adequada, segue-se com o tratamento local (cirurgia e radioterapia).
Estádio IV
Nesse estádio, é fundamental que a decisão terapêutica busque o equilíbrio entre a resposta tumoral e o possível prolongamento da sobrevida, levando-se em consideração os potenciais efeitos colaterais decorrentes do tratamento (Cardoso et al., 2014). A modalidade principal nesse estádio é sistêmica, sendo o tratamento local reservado para indicações restritas.
A atenção à qualidade de vida da paciente com câncer de mama deve ser preocupação dos profissionais de saúde ao longo de todo o processo terapêutico. A Portaria conjunta SAES/SECTIS nº 17, de 25 de novembro de 2024, apresenta o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas do Câncer de Mama.
O tratamento do câncer de mama deve ser feito por meio das Unidades de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon) e dos Centros de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Cacon), que fazem parte de hospitais de nível terciário. Esse nível de atenção deve estar capacitado para realizar o diagnóstico diferencial e definitivo do câncer, determinar sua extensão (estadiamento), tratar (cirurgia, radioterapia, oncologia clínica e cuidados paliativos), acompanhar e assegurar a qualidade da assistência oncológica.
A habilitação das Unacon e Cacon é periodicamente atualizada de acordo com a necessidade e indicação das Unidades da Federação, baseadas em padrões e parâmetros publicados na Portaria SAES/MS nº 688, de 28 de agosto de 2023.
Cabe às Secretarias estaduais e municipais de saúde organizar o fluxo de atendimento dos pacientes na rede assistencial, estabelecendo a referência para Unacon ou Cacon. O Hospital de Câncer III, unidade assistencial do INCA, é uma das principais referências para o tratamento do câncer de mama no estado do Rio de Janeiro.
Referências
CARDOSO, F. et al. ESO-ESMO 2nd international consensus guidelines for advanced breast cancer (ABC2). Ann Oncol, v. 25, n. 10, p.1871–1888, 2014.
CORTAZAR, P. et al. Pathological complete response and long-term clinical benefit in breast cancer: the CTNeoBC pooled analysis. Lancet, v. 384, n. 9938, p. 164–172, jul. 2014.
GIULIANO, A. E. et al. Axillary dissection vs no axillary dissection in women with invasive breast cancer and sentinel node metastasis: A randomized clinical trial. JAMA, v. 305, p. 569–575, 2011.
HAMMOND, M. E. et al. American Society of Clinical Oncology/College Of American Pathologists guideline recommendations for immunohistochemical testing of estrogen and progesterone receptors in breast cancer. J Clin Oncol, v. 28, p. 2784–2795, 2010.
MORAN, M. S. et al. Society of Surgical Oncology-American Society for Radiation Oncology consensus guideline on margins for breast-conserving surgery with whole breast irradiation in stage I and II invasive breast cancer. Ann Surg Oncol, v. 21, p. 704-716, 2014.
SLEDGE, G. W. et al. Past, present, and future challenges in breast cancer treatment. J Clin Oncol, v. 32, n. 19, p. 1979–1986, jul. 2014.
WOLFF, A. C. et al. Recommendations for human epidermal growth factor receptor 2 testing in breast cancer: American Society of Clinical Oncology/College of American Pathologists clinical practice guideline update. J Clin Oncol, v. 31, n. 31, p. 3997–4013, nov. 2013.