Coleções da Seção de Manuscritos | Linhares

A Coleção Linhares é um conjunto documental acumulado por dois irmãos: Rodrigo de Sousa Coutinho, Conde de Linhares (Chaves, Portugal, 1755 – Rio de Janeiro, 1812) e Domingos António de Sousa Coutinho, Marquês de Funchal (Chaves, Portugal, 1760 – Londres, 1833). Ambos estudaram leis na Universidade de Coimbra, além de adquirir uma sólida formação científica, e ao longo da vida exerceram importantes cargos diplomáticos e administrativos.

Rodrigo, o mais velho, iniciou sua carreira diplomática como ministro plenipotenciário em Turim. De volta a Portugal, substituiu Martinho de Melo e Castro como ministro da Marinha e, mais tarde, tornou-se presidente do Real Erário, bem como responsável pelo Jardim Botânico da Ajuda, pela Biblioteca Pública de Lisboa e pela Impressão Régia. Durante sua administração, a ciência recebeu bastante incentivo; foi nessa época que Alexandre Rodrigues Ferreira empreendeu sua Viagem Filosófica.

Partidário dos ingleses, Rodrigo de Sousa Coutinho se envolveu nas negociações que permearam a vinda da Família Real portuguesa para o Brasil e acompanhou a Corte quando esta se fixou no Rio de Janeiro. Aqui, em 1808, recebeu o título de Conde de Linhares e se tornou ministro dos Negócios Estrangeiros e da Guerra. Criou instituições como o Arquivo Real Militar e a Academia Real Militar, incentivou a criação do Banco do Brasil e atuou nas negociações que possibilitaram o Tratado de Comércio com a Grã-Bretanha. Foi autor de várias obras sobre indústria e política.

Domingos, o irmão mais novo, teria sido em princípio destinado à carreira eclesiástica, mas acabou por entrar para a diplomacia, assim como Rodrigo. Foi representante de Portugal na Dinamarca, em Turim, em Londres e em Roma. Teve participação ativa na vinda da Família Real para o Brasil, negociada com o secretário de negócios britânico George Caning, e também no Tratado de Comércio. Recebeu o título de Conde de Funchal em 1808 e passou a ser Marquês pouco antes de sua morte.

Funchal atuou como regente do Reino de Portugal em duas ocasiões: por alguns meses em 1821 e, mais tarde, durante a menoridade de D. Maria II. Como o irmão, escreveu vários trabalhos sobre política. Em 1811, passou a apoiar o jornal “O Investigador Portuguez em Londres”, fundado por José Liberato Freire de Carvalho para combater a influência do “Correio Braziliense” de Hipólito José da Costa, mas retirou seu patrocínio quando “O Investigador” passou a criticar as ações da Coroa portuguesa. O periódico circulou até 1819.

Os documentos da Coleção Linhares entraram na Biblioteca Nacional em 1895, adquiridos num leilão da Livraria da Casa de Linhares, cujo acervo original de cerca de 14.000 itens foi repartido entre o Arquivo Nacional, o Ministério das Relações Exteriores e a Biblioteca Nacional. Iuri Lapa, em artigo nos “Anais da Biblioteca Nacional v. 128”, afirma que a Coleção Linhares teria sido adquirida para ajudar a Comissão de Limites do Ministério de Relações Exteriores a resolver a questão das fronteiras com a Guiana Francesa, e muitos documentos que deveriam ter vindo para a Biblioteca Nacional jamais chegaram de fato à instituição. O Guia de Coleções informa que existem 1028 registros em base, havendo alguns itens na Seção de Cartografia.

Um catálogo dos manuscritos da Livraria foi impresso em 1895, e um catálogo da coleção foi elaborado em 2001 na Seção de Manuscritos da Fundação Biblioteca Nacional. Posteriormente foi feita uma edição em parceria com o Centro de Estudos Damião de Góis, de Portugal; desse catálogo constam 984 registros. Praticamente toda a coleção está microfilmada e foi digitalizada a partir do microfilme.

A Coleção Linhares na Seção de Manuscritos inclui cartas, notas, manifestos, mapas, discursos, relatórios. Trata-se de uma importante documentação sobre a política e o governo de Portugal e do Brasil colonial, com destaque para a correspondência diplomática e para o códice aquarelado “Manuscript Upon Brazil”, de James Forbes. Ele foi digitalizado a partir do original e pode ser consultado pelo link da BN Digital  https://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_manuscritos/mss1296548/mss1296548.pdf

(Ana Lúcia Merege – Divisão de Manuscritos)