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Coleções da Divisão de Manuscritos | Real Biblioteca
Dispersa entre vários setores da Biblioteca Nacional, a Coleção Real Biblioteca tem como núcleo o acervo proveniente da biblioteca da família real portuguesa, trazido para o Brasil logo após a chegada da Corte.
O núcleo da Real Biblioteca é a Livraria do rei D. José, reconstruída após o terremoto de Lisboa, em 1 de novembro de 1755. Ali foram perdidos cerca de 70.000 volumes, o Arquivo Real – que guardava preciosas informações sobre viagens marítimas – e muitas obras de arte, incluindo quadros de mestres da pintura, como Rubens e Ticiano. A recomposição do acervo foi orientada pelo presbítero católico e bibliógrafo Diogo Barbosa Machado, que doou sua própria biblioteca de cerca de 5.000 volumes, e contou com várias outras doações, tanto de livros quanto de aquarelas, estampas, partituras e outros itens documentais.
Em 1808, a Corte portuguesa se transferiu para o Brasil. A biblioteca foi embalada e aqui chegou em três remessas, entre 1810 e 1811. O responsável era o padre Joaquim Dâmaso, que retornou a Portugal com D. João VI em 1821 e levou consigo a maior parte dos manuscritos que compunham o acervo. Em 1825, uma convenção adicionada ao Tratado de Paz e Amizade, no qual Portugal reconheceu a independência do Brasil, garantiu que a Real Biblioteca permanecesse na ex-colônia, mediante um pagamento de 800 contos de réis. Já então outros itens e coleções vinham sendo incorporados ao acervo, como a coleção do arquiteto Costa e Silva, adquirida em 1818, e a “livraria” do Conde da Barca, doada pelo titular em 1821. Essa perdeu o ex-libris original e recebeu o da Real Biblioteca, tornando difícil a posterior identificação de proveniência.
O acervo da Biblioteca Nacional continuou a crescer nas décadas seguintes, recebendo doações, fazendo permutas e adquirindo coleções como as de Salvador de Mendonça, Frei Veloso e Pedro de Angelis. Tais coleções conservam os nomes de seus titulares ou instituições de proveniência, quando conhecidos; em alguns casos, foram desmembradas para compor coleções artificiais, agrupadas pela temática.
O acervo identificado como Coleção Real Biblioteca é composto pelos cerca de 60.000 itens trazidos de Portugal e se reparte entre os vários setores da instituição, de acordo com o tipo documental. Na base da Divisão de Manuscritos, conta com 472 registros, que compreendem livros medievais, aquarelas e a coleção de documentos administrativos relativa à inquisição de Goa, entre muitos outros itens.
Dentre os códices manuscritos provenientes da Real Biblioteca está o intitulado “Parada dos cavaleiros do Imperador Maximiliano, em suas armaduras”. Iluminado a ouro, traz o ex-libris do artista inglês Guglielmo Dugood, que doou livros aos reis de Portugal a fim de reconstituir a biblioteca perdida em 1755. Exceto por alterações nas cores e nos dísticos, as ilustrações reproduzem as do “Livro de Torneio” encomendado por Maximiliano I, Imperador do Sacro Império Romano-Germânico, no início do século XVI.
Ana Lúcia Merege
(Divisão de Manuscritos)