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Coleções da Divisão de Manuscritos | Marques
O titular da Coleção Marques foi um bibliófilo brasileiro, de quem não se possuem dados biográficos.
Em setembro de 1889, Franklin Dória, o Barão de Loreto - então Ministro e Conselheiro dos Negócios do Império - recebeu um ofício enviado por José Rafael de Azevedo Júnior, no qual comunicava sua intenção de doar à Biblioteca Nacional um acervo bibliográfico e documental de grande interesse para o Brasil. Tal conjunto pertencia a seu tio, João Antônio Marques, natural do estado do Rio de Janeiro e residente em Portugal.
Os trâmites do envio e recebimento dos documentos foram o assunto de várias mensagens trocadas nos meses seguintes. Em novembro, foi proclamada a República; o Barão de Loreto, assim como outros monarquistas, acompanhou a Família Imperial à Europa, e a coleção foi recebida pelo Ministro Benjamim Constant e pelo primeiro Diretor da Biblioteca Nacional no período republicano, Francisco Bittencourt Sampaio.
O período de transição entre os dois regimes de governo chegou a suscitar dúvidas sobre a aceitação dos documentos, visto não se saber praticamente nada sobre o doador, o intermediário e a posição política de ambos. Bittencourt Sampaio, no entanto, ponderou que o conjunto tinha grande valor intrínseco, visto incluir edições raras, obras sobre o Brasil colonial e até mesmo manuscritos iluminados. Assim, a Coleção João Antônio Marques foi incorporada ao acervo da Biblioteca Nacional em 1890, e a Sala de Obras Raras recebeu o nome do seu “quase-misterioso” doador.
Composta por cerca de 6.400 peças, entre os 5.700 volumes da remessa inicial e doações posteriores feitas pelos herdeiros de Marques, a Coleção está dividida entre os setores de Obras Raras, Iconografia e Manuscritos. Entre os muitos documentos preciosos há edições raras de Os Lusíadas, um saltério e livro de horas e um códice medieval com letra e ornamentação humanística, contendo uma coleção de cartas de Cícero. Alguns desses documentos estão digitalizados e disponibilizados no site da BN Digital.
Veja na BN Digital “Epistolae ad Familiares”, uma coleção de cartas entre o político e orador romano Marco Túlio Cícero e várias figuras públicas. A letra e a ornamentação seguem o estilo chamado “humanístico”, que se seguiu à exuberância do gótico medieval.
https://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_manuscritos/mss1486634/mss1486634.pdf
Ana Lúcia Merege
(Divisão de Manuscritos)