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Pequenos sonhos olímpicos que nascem no WTT de Foz
Nos bastidores do WTT Star Contender de Foz do Iguaçu de tênis de mesa, enquanto alguns dos melhores do mundo disputam as partidas de simples e duplas no Centro de Convenções Rafain, uma equipe especial de jovens talentos vive uma experiência de potencial transformador. São os chamados "Kids Ball", pequenos atletas locais que, ao lado dos ídolos, não só garantem o bom andamento das partidas, mas alimentam os próprios sonhos de um dia serem protagonistas na área de jogo.
Você olha eles jogando e pensa: nossa, um dia pode ser eu, um dia pode ser as pessoas pegando bolinha para mim, né?”
Nivin Abdalla, 12 anos
"Dá muita vontade de jogar igual a eles. O que mais me chama atenção é a qualidade da bola. Eu quero ter uma bola com mais qualidade do que todo mundo", avisa Nihan Abdallah, de 13 anos, que começou a treinar aos oito. Ela tem como técnica na ATMFOZ - Gresfi a atleta Maria Mendes, uma das 13 representantes brasileiras na chave feminina de simples em Foz do Iguaçu. Mendes encerrou a participação nesta sexta (1/8), com derrota por 3 sets a 0 para a sul-coreana Lee Eunhye, com direito a torcida animada de muitas das quase 100 alunas que são suas pupilas na cidade paranaense.
Outra aluna de Mendes é Nivin Abdallah, de 12 anos. Com três anos e meio de prática, ela se define como uma jogadora mais defensiva, que busca o contra-ataque, e sonha com essa oportunidade de ver os melhores desde cedo. "Toda vez que assistia aos mundiais em outros países, pensava: ‘Nossa, que legal deve ser essas crianças ali pegando bolinhas’. E agora tenho essa oportunidade. Para ela, interagir com atletas como Hugo Calderano, Bruna Takahashi e Vitor Ishiy reforça o desejo de treinar ainda mais forte. "Você olha eles jogando e pensa: nossa, um dia pode ser eu, um dia pode ser as pessoas pegando bolinha para mim, né?”
É inspirador para quem está começando estar em contato com atletas que você ouve falar, com ídolos, sobretudo em um torneio deste nível"
Thiago Monteiro, técnico da seleção brasileira de tênis de mesa
ESPELHO - A iniciativa de ter crianças os "Kids Ball" é recente no circuito mundial, implementada nos últimos dois anos. Para Bruna Takahashi, atual número 19 do mundo e um dos grandes nomes da modalidade no país, a medida é bem-vinda tanto para agilizar as reposições de bola nas partidas quanto para gerar oportunidades para os mais novos vivenciarem o esporte com “lupa”. "Eu acho muito bom trazer as crianças para pertinho do nosso esporte. Traz uma visão grande para elas. Se eu tivesse passado por isso, ia ficar louca de estar ali perto dos meus ídolos", brinca.
>> Confira na postagem abaixo, em inglês, um pouco da proximidade que os boleiros e torcedores em Foz do Iguaçu tiveram com o ídolo Hugo Calderano.
COMBUSTÍVEL - Técnico da seleção brasileira, Thiago Monteiro ecoa o sentimento de Bruna. Para ele, o contato com grandes nomes é combustível para a nova geração. "É inspirador para quem está começando estar em contato com atletas que você ouve falar, com ídolos, sobretudo em um torneio deste nível", pondera. Ele recorda sua própria juventude: "Lembro dos meus primeiros campeonatos, quando via o pessoal da seleção: Cláudio Kano, Hugo Hoyama, que eram todos referências. Era um momento muito simbólico, importante”, recorda.
SARRAFO - Para o treinador, a vivência vai além da inspiração para os boleiros e para quem está na arquibancada. É referência inclusive para os atletas da própria seleção brasileira entenderem a exigência do altíssimo rendimento. Ele explica que os mais jovens na seleção relatam que, quando jogam bem diante dos melhores, conseguem criar dificuldades, mas que é muito difícil manter essa intensidade por muito tempo. "Nessa vivência aqui, eles entendem o nível de exigência na preparação. Essa é uma referência essencial”, comenta. “É fundamental saber o tamanho do sarrafo para almejar resultados expressivos”, completa.

SEM TORCIDA - Yasmin Saddock, de 13 anos, está há dois anos no tênis de mesa, seguindo os passos de uma família já envolvida com o esporte. Ela relembra o nervosismo no primeiro jogo como "Kid Ball", especialmente quando atuou diante da dupla mista composta por Hugo Calderano e Bruna Takahashi. "Confesso que estava muito nervosa, mas no fim deu certo", celebra. Yasmin descreve o trabalho como um "jogo paralelo" que exige máxima atenção na bolinha. "A gente não consegue nem raciocinar direito. Só presta atenção para onde vamos correr e pegar a bolinha", explica. Apesar da tensão e, principalmente, da impossibilidade de torcer ali ao lado da mesa, a experiência é recompensadora. Yasmin revela que chorou de emoção ao tirar fotos com Bruna, Vitor Ishiy e Hugo Calderano. "Nossa, foi muito massa. Eu chorei. Fiquei muito, muito feliz. Dá vontade de treinar. A gente vê eles jogando, vê a torcida gritando e dá vontade de um dia chegar igual a eles. De estar ali".
CRESCIMENTO - Para Maria Mendes, o momento é de grande procura pelas academias de tênis de mesa, muito em função dos bons resultados de Hugo Calderano no cenário internacional, o que potencializa, segundo ela, a massificação e o surgimento de novos talentos. “Cresceu muito nos últimos tempos. No período dos Jogos Olímpicos, principalmente, houve muita busca por treinos, pela iniciação", comenta Mendes. Segundo informações da Confederação Brasileira de Tênis de Mesa, o número de filiados na entidade saltou de 3,5 mil há três anos para 10 mil em junho de 2025.

BOLSA ATLETA - Na competição em Foz do Iguaçu, o Brasil teve 30 inscritos (17 no masculino e 13 no feminino). Desses, 29 (96%) estão ou passaram pelo Bolsa Atleta, programa de patrocínio direto do Governo Federal. O investimento do Ministério do Esporte ao longo da carreira desse grupo de mesatenistas supera os R$ 3,7 milhões.