Aconselhamento em consultas de rotina impulsiona cuidado integral para o controle do tabagismo
No Brasil, onde o cigarro ainda provoca 174 mil mortes por ano e gera R$ 153,5 bilhões de custos, uma conversa de até três minutos em qualquer visita de rotina a um profissional de saúde pode ser o ponto de partida para prevenir a iniciação ao fumo ou levar à cessação do tabagismo. Estudo do Instituto Nacional de Câncer (INCA) com recorte em 2019 aponta que, no País, quase 10 milhões de fumantes estiveram diante de um agente de saúde e não foram orientados a parar de fumar.
Se todos os fumantes de 35 anos ou mais do País tivessem recebido esse aconselhamento breve, inserido no cuidado integral, o resultado poderia ter sido meio milhão a mais de ex-fumantes e quase R$ 1 bilhão em economia corrigida pela inflação.
O aconselhamento breve — de 30 segundos a 3 minutos, conforme recomenda a Organização Mundial da Saúde (OMS) — consiste em aproveitar as consultas de rotina para conscientizar o paciente, avaliar seu interesse em parar de fumar e orientá-lo sobre as opções disponíveis, como grupos de apoio e, quando necessário, uso de medicamentos.
“Essa abordagem pode acender a centelha inicial, que, associada ou não a outros recursos, aumenta as probabilidades de sucesso”, explica André Szklo, pesquisador do INCA e autor do estudo. “O aconselhamento breve não tem custo elevado e pode ser incorporado ao dia a dia dos serviços de saúde, tanto no SUS quanto na rede privada.”
Em 2019, 4,4 milhões de fumantes homens e 2,7 milhões de fumantes mulheres de 35 anos ou mais não receberam aconselhamento breve para parar de fumar em visitas de rotina a um profissional de saúde. Em ambos os grupos, houve uma maior proporção de fumantes que não tentaram parar de fumar, assim como um menor percentual daqueles que utilizaram apoio do aconselhamento e/ou de medicamentos, quando comparados aos que receberam orientações nas consultas de rotina.
O aconselhamento breve recomendado pela OMS é uma prática de baixo custo, que tem impacto, especialmente, em países de grande extensão territorial e desigualdades socioeconômicas, como o Brasil. “Ampliar o acesso a profissionais de saúde — como prevê o Programa Agora tem Especialistas, do Ministério da Saúde — é uma oportunidade para potencializar essa estratégia em escala nacional”, destaca André Szklo.
Além dos benefícios diretos à saúde, a expansão do aconselhamento em consultas de rotina pode contribuir para reduzir custos associados ao tratamento de doenças relacionadas ao tabaco, como diversos tipos de câncer, doenças pulmonares, infarto e acidente vascular cerebral.