A cada R$ 1 de lucro da indústria do tabaco, Brasil gasta R$ 5 com doenças do tabagismo
Para cada R$ 1 de lucro da indústria do tabaco, o Brasil gasta R$ 5 com doenças causadas pelo fumo, aponta estudo do Instituto Nacional de Câncer (Inca). Isso representa perdas anuais de R$ 153 bilhões ao País.
No Dia Mundial Sem Tabaco, celebrado nesta sexta-feira (31), a campanha Sem cigarro, Mais Vida, do Ministério da Saúde, reforça os alertas sobre os riscos à saúde e à sociedade provocados pelo uso de produtos derivados do tabaco.
“Estamos falando de uma indústria que lucra bilhões, enquanto o SUS e a sociedade brasileira arcam com os custos de internações, tratamentos e mortes. Essa conta é injusta e precisa ser exposta”, alerta o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
O estudo A Conta que a Indústria do Tabaco Não Conta, do Inca, aponta que o tabagismo gera custos médicos diretos por ano de R$ 67,2 bilhões, o equivalente a 7% de todo o gasto com saúde, e R$ 86,3 bilhões em custos indiretos decorrentes da perda de produtividade devido à morte prematura, incapacidade e cuidado informal. Já o lucro bruto da indústria do tabaco no Brasil com cigarros legais foi de R$ 2,7 bilhões, em 2019, de acordo com a Receita Federal.
Ou seja, para cada R$ 1 de lucro da indústria, o Brasil gasta R$ 2,31 com tratamento direto e R$ 5,10 com o custo total (tratamento mais perdas de produtividade e incapacidade). O artigo do Inca levou em conta dados de 2019.
“É fundamental mensurar o impacto da comercialização dos produtos da indústria do tabaco sobre os custos para a sociedade brasileira para buscar sua responsabilização e ressarcimentos. Uma parcela do lucro obtida com essa venda pode ser usada em ações de estímulo à iniciação de jovens e crianças no tabagismo, a fim de repor os usuários atuais que vão adoecer ou falecer. Isso, por sua vez, também vai gerar custos futuros”, afirma o epidemiologista e pesquisador do Inca, André Szklo, que é um dos autores do estudo.
Os objetivos do Dia Mundial sem Tabaco 2025, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), são aumentar a conscientização sobre os cigarros eletrônicos e o uso de sabores e aromas, além de reduzir a demanda por produtos de tabaco e nicotina, especialmente entre jovens.
Cigarros eletrônicos
Na campanha de 2025, o Ministério da Saúde aborda os riscos dos dispositivos eletrônicos para fumar (DEF) sob o tema “Cigarros eletrônicos e aditivos: sabores e aromas promovem e perpetuam a dependência da nicotina”.
Apesar de proibidos no Brasil desde 2009, os dispositivos eletrônicos para fumar continuam atraindo principalmente adolescentes e jovens, graças às estratégias de marketing da indústria do tabaco e ao apelo tecnológico desses produtos.
Pesquisa Nacional de Saúde (2019) apontou que no Brasil havia 20,4 milhões de consumidores de produtos derivados de tabaco, fumado ou não. A proporção de brasileiros que relataram fumar caiu de 15,7%, em 2006, para 9,3%, em 2018.
A partir de 2019, com a inclusão dos dispositivos eletrônicos, os índices voltaram a crescer, atingindo 11,5% naquele ano. A pesquisa também apontou que usuários de cigarros eletrônicos e vaporizadores são, em sua maioria, jovens de 18 a 34 anos e pessoas com maior nível de escolaridade.
Ações do Ministério da Saúde
O Brasil é reconhecido internacionalmente pelo seu protagonismo no controle do tabagismo, e o Instituto Nacional de Câncer (Inca) tem liderado essa agenda desde os anos 1980.
“No Dia Mundial sem Tabaco, renovamos nosso compromisso com a saúde pública e com políticas que salvam vidas. O desafio hoje é proteger as novas gerações do cigarro eletrônico, estratégia da indústria para formar novos dependentes”, explica Roberto Gil, diretor-geral do Inca.
O Ministério da Saúde reforça que o SUS oferece tratamento gratuito para dependência da nicotina em unidades básicas de saúde.
“O controle do tabaco é um compromisso do Ministério da Saúde com a vida. Nosso foco é proteger as novas gerações e enfrentar qualquer forma de interferência da indústria nas políticas públicas”, destaca o ministro Padilha.
Custo do tabagismo
R$ 153,5 bilhões: custo total anual (direto + indireto) do tabagismo para o país.
R$ 78,29 bilhões: custo total estimado com tratamento e perdas de produtividade associadas às quatro principais doenças tabaco-relacionadas (câncer de pulmão, DPOC, AVC e doenças cardíacas).
R$ 35,53 bilhões: custo direto apenas com tratamento dessas doenças no sistema de saúde.
17.332 mortes atribuíveis ao cigarro legal analisadas no estudo.
Lucro da indústria e desproporção
R$ 2,709 bilhões: lucro bruto da indústria do tabaco no Brasil com cigarros legais em 2019.
Para cada R$ 1 de lucro da indústria, o Brasil gasta R$ 2,31 com tratamento direto e R$ 5,10 com o custo total (tratamento + perdas de produtividade e incapacidade).
Dados do estudo A Conta que a Indústria do Tabaco Não Conta, do Inca.