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Dia Nacional de Combate ao Fumo
SUS poderia ter poupado até R$1 bi em tratamento contra o tabagismo por meio de aconselhamento breve a fumantes
Se todos os fumantes de 35 anos ou mais do País tivessem recebido aconselhamento breve, inserido no cuidado integral, o resultado poderia ter sido meio milhão a menos de fumantes e quase R$ 1 bilhão em economia corrigida pela inflação. Os dados constam do estudo Aconselhamento breve em consultas de rotina: uma estratégia populacional para reduzir a carga da doença e econômica do tabagismo no Brasil, do pesquisador da Divisão de Controle do Tabagismo e outros Fatores de Risco do INCA, André Szklo. O aconselhamento breve a parar de fumar, que deveria ser fornecido a todos os fumantes por qualquer profissional de saúde, não resulta em maiores taxas de abstinência, mas tem o maior impacto porque muitos tentam abandonar o tabaco.
A pesquisa foi divulgada na quinta-feira, 28, na sede do INCA, no Rio de Janeiro, durante as comemorações pelo Dia Nacional de Combate ao Fumo, evento anual instituído por lei federal desde 1986, cujo objetivo é conscientizar o conjunto da sociedade sobre os riscos associados ao tabaco e seus derivados.
O aconselhamento breve — de 30 segundos a 3 minutos, conforme recomenda a Organização Mundial da Saúde (OMS) — consiste em aproveitar as consultas de rotina para conscientizar o paciente, avaliar seu interesse em parar de fumar e orientá-lo sobre as opções disponíveis, como grupos de apoio e, quando necessário, uso de medicamentos.
Em 2019, ano de recorte do estudo, 4,4 milhões de homens e 2,7 milhões de mulheres, todos fumantes, de 35 anos ou mais não receberam aconselhamento breve para parar de fumar em visitas de rotina a um profissional de saúde. Em ambos os grupos, houve maior proporção de fumantes que não tentaram parar de fumar, assim como um menor percentual daqueles que utilizaram apoio do aconselhamento e/ou de medicamentos, quando comparados aos que receberam orientações nas consultas regulares.
“São números impressionantes para um país que tem tanta limitação de recursos, em onde aplicar esses recursos... aqui é algo que se perdeu mesmo: a oportunidade que estava na frente” [um profissional de saúde aconselhando com custo adicional zero], lamentou Szklo.
O aconselhamento breve é uma prática de baixo custo e que tem impacto positivo, especialmente em países de grande extensão territorial e desigualdades socioeconômicas, como o Brasil.
Para o diretor-geral do INCA, Roberto Gil, o cigarro “não tem nenhuma razão para existir”, pois o produto mata parte de seus consumidores. Por isso, defendeu, a discussão para a “desconstrução de falácias” sobre o tabagismo precisa ser permanente: “O próprio Parlamento é paradoxal. Ele aprova por unanimidade uma política nacional de câncer que coloca a prevenção [como primordial], e hoje, toda hora, nos ameaça com alguma posição que vai confrontar a própria política que ele [o Congresso] defendeu”.
O evento prossegui com o debate “Cuidado Integral no Controle do Tabagismo”. Os debatedores foram Carolina Costa, vice-presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas; Vera Borges, especialista no tratamento do tabagismo da Divisão de Controle do Tabagismo e outros Fatores de Risco do INCA; e André Szklo. O debate foi mediado por Marília Arrigoni, jornalista e apresentadora na TV Brasil.
As celebrações do Dia Nacional de Combate ao Fumo 2025 começaram com as intervenções de Vera Luiza da Costa e Silva, secretária-executiva da Comissão Nacional para Implementação da Convenção-Quadro sobre o Controle do Uso do Tabaco e de seus Protocolos; Diogo do Vale de Aguiar, assessor-técnico do Departamento de Promoção da Saúde da Secretaria de Atenção Primária à Saúde do Ministério da Saúde; Márcia Sarpa, coordenadora de Prevenção e Vigilância do INCA; Márcia Imbroisi, técnica da equipe do Programa Estadual de Controle do Tabagismo da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro; e Cristina Perez, consultora Nacional para Tabaco e Álcool da Coordenação de Eliminação, Prevenção e Controle de Doenças Transmissíveis e Determinantes da Saúde da Organização Pan-Americana da Saúde/OMS no Brasil.
Maria José Giongo, chefe da Divisão de Controle do Tabagismo e outros Fatores de Risco do INCA; e Marise Mentzingen Paz, chefe do Serviço de Comunicação Social do Instituto apresentaram o conceito da campanha deste ano e as peças de divulgação.
O evento foi conduzido por Marcela Roiz, da Coordenação de Prevenção e Vigilância do INCA.
Veja a íntegra do evento na TV INCA.