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Dia Nacional de Combate ao Câncer 2025
Populações negra e LGBTQIAPN+ são mais desfavorecidas em acesso a tratamento da doença
O pesquisador Jesé Lopes. Foto: Igor Matos
Cerca de 20% das mulheres negras relataram ter sofrido discriminação racial durante o tratamento de câncer de mama, enquanto estudos qualitativos em Belo Horizonte revelam que a orientação sexual é frequentemente ignorada nas consultas.
Os dados foram compartilhados pelo oncologista Jessé Lopes Silva, coordenador do Comitê de Diversidade da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (Sboc) no painel “A Importância da Diversidade na Oncologia”, na abertura do seminário internacional Controle do Câncer no Século XXI: Desafios Globais e Soluções Locais, promovido pelo Centro de Estudos Estratégicos (CEE) da Fiocruz, nos dias 27 e 28, em comemoração ao Dia Nacional de Combate ao Câncer. O evento reune pesquisadores brasileiros e estrangeiros, além de profissionais e gestores de saúde, para discutir avanços, fragilidades e perspectivas no enfrentamento do câncer.
Para Jessé Lopes, em relação “à população LGBTQIAPN+ [Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros/Travestis, Queer, Intersexo, Assexuais, Pansexuais e Não-binários]” isso acaba “gerando uma ‘homofobia institucional’ pelo silêncio”.
Ele mostrou ainda que, quanto à população negra, diferentes pesquisas constatam que esta é vítima de diagnósticos em estadios (fases da gravidade de uma doença) mais avançados, tem início de tratamento mais atrasado, mais chance de receber tratamentos fora do padrão de guidelines (recomendações desenvolvidas de forma sistemática) e desfecho de sobrevida piores.
“A gente parte de uma sociedade que estruturalmente é moldada pela discriminação e marginalização de alguns grupos; a seguir, você tem as instituições que se regulamentam justamente para manter essa estrutura rígida de iniquidades, que historicamente foi passada de geração em geração”, explicou Jessé Lopes. Iniquidades de ecossistema, de segurança pública etc levam à maior exposição aos fatores propícios ao desenvolvimento de cânceres. O tema da iniquidade é debatido no Dia Nacional de Combate ao Câncer porque a doença “não afeta todos de maneira igualitária. Hoje, temos evidências [científicas] claras que essas disparidades raciais, de gênero e socio econômicas impactam em sobrevida”, detalhou ele.

- A pesquisadora Mariana Emerenciano.
“A questão é ‘letrar’ [capacidade de usar e entender uma determinada linguagem, sistema de símbolos ou prática social de forma competente e crítica dentro de um contexto específico], é você trabalhar as competências culturais, é trazer o respeito na relação médico-paciente, melhorar a comunicação e também valorizar a identidade do paciente”, defendeu o oncologista.
Apenas 1% dos oncologistas no Brasil são negros e apenas 9% se consideram de gênero diverso.
Promoção da equidade
A pesquisadora Mariana Emerenciano, no painel “Equidade, Diversidade e Inclusão no INCA” explicou por que a instituição tem uma comissão para promover a equidade: “Nas nossas competências, tá lá [a obrigação de inclusão social]; na nossa política de câncer, tá lá... a gente só precisa colocar isso em ações reais no nosso dia a dia, que é o que a gente está conversando aqui”. Por isso, o objetivo da Comissão de Equidade, Diversidade e Inclusão do INCA é mudar cultura, aumentar a justiça e a imparcialidade, além de estimular o respeito às diferenças.

- O diretor-geral do INCA, Roberto Gil. Fotos: Igor Matos.
Para o diretor-geral do INCA, Roberto Gil, que apresentou os palestrantes dos dois painéis, “a gente caminha hoje para determinantes biológicos: apreendemos que talvez a população negra, em câncer de mama, tenha a incidência de um tipo mais agressivo. Mas a gente não pode confundir determinantes biológicos com a questão do acesso. Ela [a população negra] também tem menos acesso à saúde. Então, a ciência tem que sabe conjugar isso.”
O INCA teve como anfitrião o ex-diretor do Instituto e pesquisador do CEE, Luiz Antonio Santini.
A íntegra do evento pode ser assistida no canal da Fiocruz no YouTube.