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Dia Mundial sem Tabaco
Brasil gasta R$ 153 bilhões todos os anos com doença relacionadas ao tabagismo
A cada R$ 1 de lucro da indústria do tabaco, o Brasil gasta R$ 5 com doenças causadas pelos derivados do produto, o que representa perdas anuais de R$ 153 bilhões para o País. Os dados constam da pesquisa do INCA A Conta que a Indústria do Tabaco Não Conta, apresentada na quarta-feira, 28, durante as comemorações do Dia Mundial sem Tabaco (31 de maio) na sede Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), em Brasília.
O estudo revela que o tabagismo gera custos médicos diretos, por ano, de R$ 67,2 bilhões, o equivalente a 7% de todo o gasto com saúde, e R$ 86,3 bilhões em custos indiretos decorrentes da perda de produtividade devido a mortes prematuras, incapacidade e cuidado informal. Já o lucro bruto da indústria do tabaco no Brasil com cigarros legais, em 2019, foi de R$ 2,7 bilhões, de acordo com a Receita Federal.
Ou seja, para cada R$ 1 de lucro da indústria, o Brasil gasta R$ 2,31 com tratamento direto e R$ 5,10 com o custo total (tratamento mais perdas de produtividade e incapacidade). O artigo do INCA levou em conta dados de 2019.

- O pesquisador André Szklo
“Esse estudo quantifica esse ciclo perverso, que é algo que faz com o que o fumante atual gere lucro até quando ele falecer, e que uma parcela desse lucro seja usada para repor esses fumantes que, infelizmente, virão a morrer”, sintetizou um dos autores do artigo, o pesquisador da Divisão de Controle do Tabagismo e Outros Fatores de Risco do INCA André Szklo.
O diretor-geral do INCA, Roberto Gil, disse que “com o conhecimento acumulado que a gente tem [sobre o tabagismo], é impossível ficar indiferente, não olhar isso como um inimigo em que não há pactuação possível”.
“Se a gente não usar todos os instrumentos que temos para divulgar o tempo todo os impactos negativos que esses produtos [do tabaco] têm na área da saúde, das famílias, para a economia, a gente não ganha essa batalha com esse setor [tabageiro]”, disse o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, ao explicar a importância do Dia Mundial sem Tabaco.
Os objetivos da data, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), são aumentar a conscientização sobre os cigarros eletrônicos e o uso de sabores e aromas nos convencionais, além de reduzir a demanda por produtos de tabaco e nicotina, especialmente entre jovens.
Regulamentação e custos
A representante Opas, Elisa Prieto, identificou uma “janela de oportunidade” para o aumento da taxação dos produtos do tabaco nas discussões de regulamentação da reforma tributária. O diretor da Secretaria Extraordinária da Reforma Tributária do Ministério da Fazenda, Rodrigo Orair, concordou com ela e citou outras possibilidades “para a construção de um País mais saudável”.
O coordenador-geral de Programação e Logística do Ministério da Fazenda, Andrey Soares de Oliveira, chamou atenção para o comércio irregular do tabaco: somente no ano passado mais de 1,7 milhão de maços irregulares de cigarros foram apreendidos, o equivalente a R$ 800 milhões. Ainda em 2024, foram aprendidos mais de 2,7 milhões de unidades de cigarros eletrônicos (R$ 180 milhões).
O coordenador-geral da Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer da Secretaria de Atenção Especializada do Ministério da Saúde, José Barreto, lembrou que são cerca de 40 mil mortes por ano por doença pulmonar obstrutiva crônica, 30 mil por problemas cardiovasculares e 55 mil por câncer em decorrência do tabagismo. Ele destacou a parceria com o INCA para fazer com que o controle do câncer não tenha uma abordagem majoritariamente “hospitalocêntrica”, mas que também possa atuar em todas as linhas de cuidado em saúde, desde o início.
A diretora da Terceira Diretoria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Danitza Passamai Rojas Buvinich, defendeu que os avanços regulatórios contra o cigarro não podem sofrer retrocessos.
Luisete Bandeira, consultora da Opas, lembrou das 8 milhões de mortes por ano em todo mundo por causa do tabaco,1 milhão delas nas Américas, o equivalente a 2,2% do PIB da Região. Ela apresentou, ainda, a campanha das OMS para denunciar estratégias da indústria para conquistar e manter dependentes químicos.
A diretora do Departamento de Análise Epidemiológica e Vigilância de Doenças não Transmissíveis da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do MS, Letícia de Oliveira Cardoso, expôs a metodologia de investigação da sua unidade: em 2024, houve aumento relativo no número de fumantes da ordem 25% entre os homens e 36% entre as mulheres. Isso quer dizer voltar a patamares de 10 anos atrás, o que foi considerado por Letícia de Oliveira como “muito preocupante”.

A chefe da Divisão de Controle do Tabagismo e Outros Fatores de Risco do INCA, Maria José Giongo, e a chefe do Serviço de Comunicação Social do Instituto, Marise Mentzingen, apresentaram a campanha do Dia Mundial sem Tabaco 2025 no Brasil: “Cigarros eletrônicos e aditivos: sabores e aromas que promovem e perpetuam a dependência de nicotina”.
A secretária-executiva da Comissão Nacional para Implementação da Convenção-Quadro sobre Controle do Uso do Tabaco e de seus Protocolos, Vera Luiza da Costa e Silva, discorreu sobre os 20 anos da entrada em vigor do coumento e os desafios para o futuro, como a ampliação de ambientes 100% livres de fumo, incluindo ao ar livre e privados, em especial onde convivam crianças, gestantes, doente e idosos.
Premiação
Todos os anos, a OMS premia profissionais que mais contribuíram para redução das mortes provocadas pela epidemia do tabagismo. A premiação do Dia Mundial sem Tabaco 2025 teve três instituições públicas brasileiras: Anvisa e os ministérios da Fazenda e da Saúde.