Versão para profissionais de saúde
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Descrição
Os tumores do SNC são o grupo de tumores sólidos mais frequentes na população pediátrica, correspondendo a 20% de todas as neoplasias na infância. O pico de incidência encontra-se na faixa etária de um a quatro anos.
Tumores cerebrais representam a causa mais comum de morte dentre todos os tipos de cânceres que ocorrem na infância.
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Prevenção e Fatores de Risco
Na maioria dos casos, as causas dos tumores de SNC são desconhecidas. Algumas síndromes genéticas podem predispor pacientes a ter tumores de sistema nervoso central (cerca de 10% dos casos), como a neurofibromatose tipo I (gliomas de vias óticas), neurofibromatose tipo II (Schwannomas), Esclerose tuberosa (astrocitomas subependimarios), Síndrome Sturge-Weber (hemangiomas), Doença de Von Hippel-Lindau (hemangioblastomas), Síndromes de Gorlin e Turcot (meduloblastomas), e Síndrome Li-Fraumeni (astrocitomas).
Um fator de risco ambiental conhecido é a radiação ionizante, que está associada ao aumento do desenvolvimento de tumores de SNC.
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Detecção precoce
As estratégias para a detecção precoce do câncer são o diagnóstico precoce (abordagem de pessoas com sinais e/ou sintomas iniciais da doença) e o rastreamento (aplicação de teste ou exame numa população assintomática, aparentemente saudável, com o objetivo de identificar lesões sugestivas de pré-cancer e câncer e, a partir daí encaminhamento dos pacientes com resultados alterados para investigação diagnóstica e tratamento) (WHO, 2007).
Rastreamento
O rastreamento do câncer é uma estratégia dirigida a um grupo populacional específico no qual o balanço entre benefícios e riscos dessa prática é mais favorável, com maior impacto na redução da mortalidade e da incidência, nos casos de existência de lesões precursoras. Os benefícios são o melhor prognóstico da doença, com tratamento mais efetivo e menor morbidade associada. Os riscos ou malefícios incluem os resultados falso-positivos, que geram ansiedade e excesso de exames; os resultados falso-negativos, que resultam em falsa tranquilidade para o paciente; o sobrediagnóstico e o sobretratamento, relacionados à identificação de tumores de comportamento indolente (diagnosticados e tratados sem que representem uma ameaça à vida) (INCA, 2021).
Não há evidência científica de que o rastreamento dos cânceres infantojuvenis traga mais benefícios do que riscos e, portanto, até o momento, ele não é recomendado (WHO, 2025).
Diagnóstico Precoce
A estratégia de diagnóstico precoce contribui para a redução do estágio de apresentação do câncer (WHO, 2017). Nessa estratégia, destaca-se a importância de ter a população e os profissionais aptos para o reconhecimento dos sinais e sintomas suspeitos de câncer, bem como o acesso rápido e facilitado aos serviços de saúde.
O diagnóstico precoce dos cânceres do sistema nervoso central deve ser buscado por meio da investigação dos seguintes sinais e sintomas mais comuns como (OPAS, 2025):
A qualquer idade:
• Perda de apetite e peso sem explicação
• Letargia ou sonolência, sem explicação
• Déficit motor e perda de força nas extremidades, associado a dor (geralmente de intensidade crescente e com pobre resposta a angélicos)
• Sinais de hipertensão intracraniana
• Crise convulsiva de nova aparição
• Desvio ocular de aparição recente sem causa que o justifique
• Sinais motores e sensoriais, ataxia (transtornos de marcha,
equilíbrio e/ou coordenação) ou torcicolo
• Paralisia dos nervos cranianos
• Vômitos persistentes, geralmente matutinos e não precedidos de náuseas
Crianças menores de 2 anos:
• Irritabilidade
• Fontanela abombada ou aumento do perímetro cefálico fora do normal
• Regressão do desenvolvimento psicomotor
Crianças de 2 anos ou mais:
• Cefaléia leve ou moderada, nova e persistente (> 4 semanas), que pode despertar ao menino quando dorme o que aparece ao caminhar
• Deterioração do desempenho escolar e/ou mudanças de conduta, personalidade e humor
• Diplopia
• Exoftalmia e proptose ocular
A apresentação clássica inclui: dor de cabeça, náuseas e vômitos secundários à hipertensão intracraniana. Raramente apresentam febre, que é o sintoma que acompanha dores de cabeça de origem infecciosa.
Referências
INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA. Detecção precoce do câncer. Rio de Janeiro: INCA, 2021. Disponível em: https://antigo.inca.gov.br/publicacoes/livros/deteccao-precoce-do-cancer. Acesso em: 29 maio. 2025.
ORGANIZACIÓN PANAMERICANA DE LA SALUD. Diagnóstico precoz del cáncer en niños, niñas y adolescentes: Guía interactiva de referencia rápida. 2025. Disponível em: https://iris.paho.org/bitstream/handle/10665.2/64343/9789275329597_spa.pdf?sequence=1&isAllowed=y
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Guide to cancer early diagnosis. World Health Organization, 2017. Disponível em: https://apps.who.int/iris/handle/10665/254500
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Cancer in children. 2025. Disponível em:
https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/cancer-in-children
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Sinais e sintomas
A apresentação inicial dos tumores de SNC em crianças mimetiza sinais e sintomas de condições clínicas mais comuns e menos graves da infância, resultando em dificuldades e retardo no diagnóstico. A apresentação clínica primária depende da localização do tumor e da idade do paciente. Lactentes tendem a apresentar sintomas inespecíficos como macrocefalia, não ganho de peso, perda dos marcos do desenvolvimento e vômitos. Crianças maiores costumam apresentar sinais neurológicos de localização e sintomas de hipertensão intracraniana, como cefaleia, náuseas, vômitos, e paralisia de pares cranianos.
Crianças com sinais e sintomas persistentes devem ser avaliadas com história, exame físico e neurológico e com exames de imagem, quando indicado.
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Diagnóstico
A ressonância magnética de crânio é o exame principal para a investigação. Na impossibilidade deste exame, solicitar tomografia de crânio com contraste. O diagnóstico é realizado, na maioria das vezes, por meio do estudo histopatológico do tumor, coletado por biópsia ou ressecção cirúrgica.
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Tratamento
O tratamento dos tumores de SNC na infância é multimodal, sendo uma combinação de cirurgia, quimioterapia e radioterapia, e deve ser realizado em centros especializados no tratamento de câncer pediátrico. A cirurgia, na maioria dos tumores, constitui o primeiro passo, com intenção da máxima ressecção possível, tanto para diminuir a carga tumoral, quanto para permitir a aquisição de tecido para diagnóstico histológico. A escolha do tratamento adjuvante vai depender da sensibilidade do tumor à quimioterapia e à radioterapia.
Após o tratamento
A sobrevida de pacientes com tumores de SNC vem aumentando com o tempo, seja pela melhora no diagnóstico com os exames de imagem, ou pelos tratamentos oferecidos. Apesar dos avanços nos resultados, estes pacientes podem ter sequelas físicas, cognitivas, neurológicas, endocrinológicas, em razão do próprio tumor ou do tratamento. É importante ter atenção para medidas que podem melhorar a qualidade de vida por meio do acompanhamento regular, mesmo após o término do tratamento oncológico. A abordagem é individualizada, podendo ser necessários reposição hormonal, aparelhos auditivos, reabilitação, fisioterapia, fonoaudiologia, dentre outras. Para tanto é necessário uma equipe multidisciplinar de profissionais.
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Estudos clínicos abertos
Confira os estudos clínicos abertos para inclusão de pacientes no INCA.
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Regiões anatômicas e prognósticos
A localização varia conforme a faixa etária: na primeira década são mais comuns na fossa posterior; em crianças menores de dois anos, em adolescentes e em adultos jovens, na região supratentorial.
Os tipos de células dos tumores cerebrais mais frequentes são os astrocitomas, meduloblastomas, ependimomas e craniofaringiomas.
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Classificação e estadiamento
O estadiamento é geralmente feito com base em ressonância magnética de crânio e colunas e no estudo da citologia oncótica do líquor. No entanto, o estadiamento deve ser individualizado para cada tipo de tumor, pois suas características histológicas determinam seu padrão de disseminação.
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Descrição