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JANEIRO BRANCO
Refletindo sobre a saúde mental e o uso excessivo de redes sociais
Card em fundo amarelo. Na margem superior, texto "Instituto Benjamin Constant". No centro, com letras na cor branca, texto "janeiro branco"
Janeiro é o mês destinado à campanha de conscientização sobre a saúde mental de acordo com a lei federal nº 14.556, de 25 de abril de 2023. Quando dizemos “saúde mental” não estamos falando somente sobre os problemas de ordem psiquiátrica, mas sim nos referindo ao cuidado e à importância de um bem estar emocional para todas as pessoas. Nosso corpo é integrado, não há saúde física sem saúde mental e vice-versa.
É usando uma rede social que vamos abordar um tema que faz parte da rotina da população, especialmente nas grandes cidades. Numa breve parada na rua podemos observar centenas de pessoas conectadas ao seu celular. Estamos inevitavelmente imersos na tecnologia e os estímulos da mídia nos bombardeiam a cada instante.
O uso das redes sociais de forma positiva possibilita o contato e a troca de experiências, minimizando as distâncias entre as pessoas, promove o acesso rápido à informação e ao conhecimento, além de criar um canal para expressar nossos pensamentos e encontrar pessoas que se identifiquem com nossas ideias.
Contudo, refletindo que tudo em nossas vidas requer um equilíbrio, uma medida que nem sempre é tão fácil acertar, as redes sociais também podem fornecer conteúdos enganosos, permitir uma alta exposição da vida privada, fazer com que troquemos o dia pela noite e nos colocar na cilada de manter uma frequência excessiva de acesso e de comparação.
Para auxiliar aqueles que, ao iniciarem a leitura desta matéria, se preocuparam se estariam então numa medida razoável de uso das redes, vamos fazer a seguinte reflexão: se você inclui o celular na sua rotina de sono logo ao acordar e antes de dormir; checa várias vezes esperando uma nova mensagem ou notificação; deposita importância sobre a quantidade de comentários, curtidas e reações nas redes sociais; dispersa na realização de tarefas ou as procrastina por causa do celular, isto pode significar que a maneira como você faz uso pode trazer prejuízos à sua saúde mental[1].
A pesquisa Digital 2024: Global Overview Report[2] apontou que os brasileiros ocupam o segundo lugar em tempo diário gasto on line, o que significa uma média de 9h e 13 minutos por dia conectados.
O uso excessivo das redes sociais guarda relação tanto com o aspecto da ansiedade quanto com a depressão. Uma pessoa que já sofre com algum transtorno mental pode vir a fazer um excessivo, assim como o uso exagerado pode levar a problemas nesta esfera[3]. Essa retroalimentação destaca maior importância para a urgência entre os efeitos das redes sociais e o comprometimento com a saúde.
Para enfrentar o uso negativo de redes sociais que já esteja num nível que comprometa a saúde mental, não podemos nos restringir à simples eliminação da tecnologia, mas sim encontrar maneiras de tornar visível um sofrimento potencial omitido no uso desenfreado.
Esperar o acolhimento ou a explicação desse fenômeno num espaço online é uma condição não prevista para oferecer algum cuidado, o que pode agravar as incertezas. O sofrimento é uma experiência comum na vida de todas as pessoas e pode ser lidado de outras maneiras, que não somente as virtuais.
Embora hoje tenhamos acesso a uma infinidade de informações e estejamos aparentemente conectados o tempo todo, é importante nos perguntar se essa conexão virtual não está, paradoxalmente, nos afastando. A vida em comunidade, o ato de compartilhar momentos presenciais e fazer parte de um grupo, tem o poder de nutrir nosso senso de pertencimento, criar novos laços e fortalecer aqueles que já nos acompanham. É nesse espaço de afeto e troca que encontramos apoio para lidar com as subjetividades e desafios que a vida nos apresenta diariamente.
As redes sociais, sem dúvida, têm o seu valor, mas é na presença física, no olhar, no toque e na convivência que construímos as relações mais profundas e significativas. É nesse pertencimento que descobrimos força, acolhimento e caminhos para enfrentar as complexidades da vida cotidiana.
O trabalho integrado de profissionais da saúde é importante para a valorização da qualidade de vida, bem estar emocional e a promoção da saúde mental. No IBC, as psicólogas Andréa Mazzaro, do Departamento de Educação (DED), e Sonia Gomes Rocha, do Departamento de Estudos, Pesquisas Médicas e de Reabilitação (DMR), trabalham atividades voltadas para a saúde emocional com alunos da escola e da reabilitação e seus familiares, englobando os desafios somados às particularidades da deficiência visual.
Em relação aos cuidados em saúde mental que podemos encontrar no SUS e em outros locais que possuem um trabalho de referência:
Dentro da Rede de Atenção Psicossocial do SUS (RAPS), o primeiro contato necessário é na Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima da residência. A partir de uma consulta com o clínico geral, o paciente será encaminhado ao psicólogo da própria unidade. Caso seja considerado um quadro grave, o psicólogo irá direcionar para o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) mais próximo[4].
Os CAPS possuem equipes multidisciplinares voltadas para o cuidado integral de seus usuários e são divididos em atendimentos voltados para todas as faixas etárias, para crianças e adolescentes (CAPSi) e para usuários de álcool e drogas (CAPSad).
Além disso, é possível buscar atendimento psicológico nas universidades que ofertam o curso de Psicologia, por meio das clínicas-escolas / Serviço Aplicado de Psicologia (SPA).
Caso você ou alguém próximo necessite de ajuda, o Centro de Valorização da Vida (CVV)[5] presta serviço voluntário e gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio em formato de atendimento via chat, ligação pelo número 188 ou em postos presenciais com endereço disponível para consulta no site. A ligação é gratuita e o serviço está disponível 24 horas por dia.
Em caso de crises, é necessário se dirigir à emergência de algum hospital geral ou especializado em atendimento psiquiátrico.
* Artigo produzido pelas psicólogas Sonia Regina Gomes da Rocha e Andréa Mazzaro e pela estagiária Ana Clara Carvalho Machado.
[1] https://prg.usp.br/prg0006-do-estresse-a-boa-saude-mental/
[2] https://datareportal.com/reports/digital-2024-global-overview-report