Programa de Pesquisa
A pesquisa é uma atividade essencial para o funcionamento de um museu, permitindo um conhecimento profundo do acervo, fundamental para sua preservação e divulgação. Muitas ações, como exposições e atividades educativas, dependem de pesquisa prévia. Reconhecer a importância da pesquisa nas atividades museológicas também valoriza o trabalho da equipe técnico-científica, formada por funcionários, alunos e pesquisadores, que gera informações de qualidade para o público e para e com os povos indígenas.
Diagnóstico
Descrição
Antes do Museu, inaugurado em 1953, já existia a Seção de Estudos e Pesquisas do Serviço de Proteção ao Índio (SPI), que deu subsídios para a sua criação. Apenas dois anos depois, em 1955, foi instituído o Curso de Aperfeiçoamento em Antropologia Cultural, oferecido em parceria com a Campanha Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Mais tarde, a formação de acervos bibliográficos e a organização e os estudos sobre a documentação produzida pelo antigo Serviço de Proteção aos Índios (SPI) tornam o Museu uma instituição de referência importante para pesquisas e defesa dos direitos indígenas. A pesquisa, realizada no âmbito do Museu, se consolida historicamente como um importante instrumento de salvaguarda do patrimônio linguístico e cultural dos povos indígenas, bem como para a defesa de direitos territoriais e de memória.
Atualmente, a pesquisa neste Museu possui uma articulação mais direta com a Coordenação de Divulgação Científica - CODIC e a Coordenação de Patrimônio Cultural - COPAC. As principais atividades executadas são:
Programas de Documentação no âmbito do Projeto de Cooperação Técnica Internacional Documentação de Línguas e Culturas Indígenas Brasileiras com a Unesco (Progdoc, Prodoclin, Prodocult e Prodocerv);
Produção e publicação de livros e de materiais audiovisuais;
Realização de eventos e atividades de formação;
Atendimento ao público;
Apoio no desenvolvimento de coleções e construção de informação e difusão dessas coleções, articuladas a ações de documentação e gestão de acervos.
As pesquisas são desenvolvidas de modo transversal pelas equipes ligadas à gestão dos acervos, educativo, divulgação científica e comunicação, contando frequentemente com a participação de especialistas externos.
Uma das especificidades que caracterizam as atividades de pesquisa desenvolvidas pelo Museu é a participação de sábios, lideranças, estudantes e pesquisadores indígenas nos processos de produção de conhecimento. Nesse sentido, uma das diretrizes colhidas durante as etapas de consulta para elaboração deste Programa foi a necessidade de aprimoramento dos instrumentos de pesquisa para maior participação indígena, bem como de adoção de procedimentos e metodologias que assegurem o respeito à diversidade de tempos e a duração adequada para a melhor realização dos estudos pelos próprios povos indígenas. Destacam-se ainda a demanda para o aprimoramento dos instrumentos de consulta e acesso aos acervos ao público em geral e, sobretudo, aos povos indígenas.
Esse projeto representa um marco nas práticas institucionais, pois visa a participação crescente de comunidades indígenas atuando nos processos museológicos e coloca o Museu como atuante para a formação de pesquisadores indígenas que auxiliam na documentação de seus acervos.
Eixos de atuação
A. Eixos vigentes
Projeto de Cooperação Técnica Internacional Documentação de Línguas e Culturas Indígenas Brasileiras - O projeto visa promover a documentação de cerca de 20 línguas e culturas indígenas ameaçadas, ampliando as possibilidades de sua salvaguarda e criando um grupo coeso de pesquisadores indígenas e não indígenas familiarizados com as metas, os métodos e a tecnologia de documentação, com vistas à consolidação desta nova área no Brasil. Atualmente tem como seus programas:
Programa de Documentação de Culturas Indígenas - Prodocult - Este programa atua em 109 aldeias de norte a sul do Brasil, com a participação e intervenção direta dos indígenas, possibilitando a documentação e o registro de aspectos específicos de 39 culturas, beneficiando uma população superior a 28 mil indígenas. Todo o material produzido está consolidando um acervo digital, em segurança no Museu, que garante a sua disponibilidade mesmo daqui a 20 ou 50 anos.
Programa de Documentação de Línguas Indígenas - Prodoclin - Este programa, além da preservação de materiais existentes em acervos particulares e em instituições públicas e privadas, está documentando 13 línguas, escolhidas por critérios tais como o grau de ameaça. As equipes são compostas por linguistas e pesquisadores indígenas. Um dos produtos desse programa é a plataforma Japiim, um dicionário multimídia de línguas indígenas.
Projeto de Documentação de Acervos - Prodocerv - Este programa visa o processamento técnico e digitalização de fundos pessoais presente no acervo arquivístico custodiado pelo Museu do Índio.
Chamadas para subsidiar projetos culturais da FUNAI - Direcionadas às Coordenações Regionais - CRs, para ações com as comunidades indígenas que tem como frente a produção de material audiovisual, oficinas, material didático, dentre outras possibilidades de ações.
B. Eixos em proposição
A partir do processo de oitiva ao longo da elaboração do Plano Museológico, e considerando-se a história e o estágio atual de maturidade institucional do órgão, foram sistematizadas indicações de possíveis linhas para a estruturação do planejamento para as atividades de pesquisa. Os estudos realizados no âmbito do Programa de Pesquisa podem se desdobrar em produtos editoriais, eventos, exposições e outras formas de comunicação de seus resultados.
- Documentação de línguas indígenas - continuidade e fortalecimento das ações de pesquisa e produção de materiais para o fortalecimento dos processos de transmissão e proteção das línguas indígenas.
- Descrição e qualificação de acervos institucionais - volta-se à revisão e aprimoramento da documentação e descrição dos itens etnográficos e arquivísticos, com o objetivo de otimizar o gerenciamento e a segurança dos acervos, e facilitar o acesso e difusão, ao permitir a recuperação de forma rápida e facilitar a consulta de pesquisadores e outros interessados. Inclui, além do processamento técnico, às atividades de qualificação de acervos já realizadas em conjunto com os povos indígenas, as quais, além de enriquecer e qualificar as informações documentais sobre os acervos, promovem o acesso, resgate e transmissão de saberes e práticas relacionadas ao patrimônio cultural indígena.
- Memória e direitos indígenas - parte da documentação arquivística compreendida pelos acervos sob a guarda do Museu registram violências e crimes cometidos contra os povos indígenas e a sua presença em territórios reivindicados. Essa linha tem, portanto, a finalidade de aprofundar os estudos sobre os arquivos institucionais para a sua instrumentalização na defesa dos direitos dos povos indígenas, contribuindo com o conhecimento do histórico de violências e crimes cometidos contra os povos indígenas no Brasil, a preservação e a promoção da memória e incidindo sobre os debates contemporâneos em torno da efetivação de direitos e construção de políticas reparatórias, que incluem a demarcação de suas terras.
- Cartografia de práticas indígenas de preservação do patrimônio cultural - o objeto da linha de pesquisa abrange o conjunto de práticas e estratégias indígenas para a documentação e preservação de seu patrimônio cultural, o que inclui experiências abarcadas pelos conceitos de “museu indígena”, “pontos de cultura”, “pontos de memória”, dentre outras ações voltadas à salvaguarda de documentos, objetos etnográficos e lugares específicos que compõem os seus territórios de ocupação tradicional. Os resultados dessa cartografia, além de resultarem em produtos de divulgação para amplificação do alcance das iniciativas, visam o aprimoramento das ações de apoio à formação e conservação de acervos geridos pelos povos indígenas e maior articulação do órgão com as redes de museus indígenas e debates em torno dos museus etnográficos.
- Direito à consulta e direitos patrimoniais indígenas - linha de pesquisa voltada à sistematização de experiências e reflexões relacionadas a processos de consulta associados à pesquisa científica em Terras Indígenas. Tem por objetivo possibilitar o aprimoramento e regulamentação dos procedimentos de consulta para a realização de pesquisas científicas em Terras Indígenas, realizadas pelo Museu, bem como os protocolos para autorização de uso dos seus produtos.
- Culturas alimentares indígenas e segurança alimentar - linha de pesquisa voltada ao mapeamento e a sistematização de conhecimentos relacionados à cultura alimentar dos povos indígenas, incluindo sistemas agrícolas tradicionais e outras práticas de manejo do território, relacionadas à produção de biodiversidade e do bem viver. Voltando-se às intersecções entre cultura e natureza, a partir da compreensão de que o modo de vida das pessoas forma e reproduz territórios e que, sem esses, os povos indígenas não têm meios para vivenciar plenamente suas culturas, os resultados dessa linha de pesquisa visam o fortalecimento das culturas alimentares indígenas e a contribuição com as políticas indigenistas de gestão ambiental e territorial dos povos indígenas, em um contexto de emergência climática.
- Memória institucional e do Indigenismo - recobre os estudos e produtos editoriais relacionados à organização e sistematização da documentação decorrente das atividades desenvolvidas pelo órgão indigenista e pelo seu órgão científico-cultural. Compreende ações de documentação de atividades de campo desenvolvidas pelo órgão, tais como trabalhos de identificação e delimitação, demarcação, proteção territorial, promoção de direitos sociais, especialmente nas Terras Indígenas.
- Propriedade intelectual, Economia da Cultura e Sustentabilidade - linha de pesquisa voltada à sistematização de experiências e reflexões sobre a inserção do patrimônio cultural indígena no contexto de mercado, com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento de uma economia do patrimônio cultural baseada em relações, valores e significados definidos pelos próprios povos indígenas. Essa iniciativa é essencial para a criação de processos que promovam a valorização das expressões culturais indígenas, seguidos por mecanismos de precificação justos e transparentes. Além disso, busca-se a formulação de diretrizes que incentivem o fomento de atividades culturais, sempre considerando a necessidade de proteger os saberes tradicionais e garantir sua sustentabilidade.
Coordenação/Setor Responsável
Atualmente a Coordenação de Divulgação Científica - CODIC atua na realização de pesquisas em Etnologia Indígena, Indigenismo, Etnohistória, Antropologia, Linguística entre outros. A Coordenação de Técnico-Científica - COTEC é responsável pela implementação de programas e ações voltados a pesquisas e divulgação científica, além de implementar o desenvolvimento de instrumentos de pesquisa e consulta para a disseminação dos registros históricos e culturais do acervo. O Serviço de Estudos e Pesquisas - SEESP, vinculado à CODIC, é responsável por organizar cursos, oficinas, seminários, encontros e outras atividades científicas, além de atender pesquisadores e estudantes universitários.
Matriz FOFA
Planejamento do Programa
Questões Centrais
Como articular a pesquisa com as demais atividades do Museu, visando a divulgação de seus resultados de forma acessível e garantindo a participação dos povos indígenas em todas as suas etapas?
Objetivo geral
(para os próximos 5 anos)
Promover a valorização e a disseminação do conhecimento, através do desenvolvimento de um ecossistema de pesquisa sustentável e inclusivo, garantindo a proteção dos saberes indígenas e o acesso equitativo à informação, instituindo as linhas de pesquisas institucionais.
Objetivos específicos
(para os próximos 5 anos)
Estabelecer diretrizes que garantam que a instituição atue na divulgação da pesquisa científica sobre e com os povos indígenas, promovendo a co-criação de conteúdos com comunidades indígenas e adaptando a infraestrutura tecnológica e metodológica para atender às suas demandas e aos mais altos padrões de pesquisa;
Estabelecer parcerias com organizações e pesquisadores indígenas para co-desenvolver conteúdos de divulgação científica que reflitam as pesquisas desenvolvidas na instituição;
Consolidar o Museu como um centro de excelência em pesquisa e valorização das culturas indígenas, promovendo a formação de novos pesquisadores e artistas indígenas, fortalecendo a defesa de seus direitos territoriais e fomentando o diálogo intercultural.
Plano de Ação
Prazo de execução de meta - Curto prazo: 1 ano; Médio prazo: 3 anos; Longo prazo: 5 anos