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XX Encontro de Escritores e Artistas Indígenas: quatro dias de imersão na cultura indígena
O XX Encontro de Escritores e Artistas Indígenas, realizado no Rio de Janeiro entre os dias 15 e 18 de outubro, celebrou 20 anos de atividades com uma programação que destacou a produção cultural indígena. O evento, que contou com a parceria do Museu Nacional dos Povos Indígenas (MNPI), reuniu mais de 30 representantes de diversos povos.
Durante a realização do encontro, a nova diretora do Museu Nacional dos Povos Indígenas, Juliana Tupinambá, abordou a importância do reconhecimento territorial dos povos indígenas e a necessidade de preservação das culturas dos povos: “o principal fruto desse evento é a possibilidade de gerar políticas públicas que visem a promoção e valorização dos escritores indígenas”, afirmou.
A programação foi distribuída em dois espaços culturais da cidade. Os três primeiros dias foram sediados no Museu de Arte do Rio (MAR), e o último dia ocorreu na Fundação Casa de Rui Barbosa.
O Museu de Arte do Rio acolheu as atividades focadas no debate e na reflexão sobre a cultura e a literatura indígena.
No dia 15 de outubro, quarta-feira, a abertura oficial foi marcada pela conferência “Vozes Ancestrais: o tênue fio entre literatura e oralidade”, conduzida por Daniel Munduruku. O escritor destacou a oralidade como ferramenta de manutenção da memória e afirmou que a literatura indígena transcende a escrita, sendo uma expressão da própria existência. Em seguida, o Coral Guarani de Maricá realizou uma apresentação musical.
À tarde, a mesa “Literatura indígena e o arquivo-museu” debateu sobre a relevância da preservação museológica e reuniu o Presidente da Biblioteca Nacional, Marco Luchesi, o Diretor da Fundação Casa de Rui Barbosa, Alexandre Santini, o artista Gustavo Caboco e a escritora e advogada Fernanda Kaingang, com mediação de Naine Terena. O debate abordou a relação entre a produção literária e artística indígena, além da memória institucional, discutindo a representação e o protagonismo dos povos indígenas em espaços como museus e arquivos.
Alexandre Santini anunciou que Daniel Munduruku, curador do evento, escritor, educador e fundador do Selo Uka Editoria, será o primeiro autor indígena a compor o acervo da Fundação Casa de Rui Barbosa, a partir da doação de um acervo pessoal ao Arquivo-Museu de Literatura Brasileira (AMLB).
No segundo dia, 16 de outubro, quinta-feira, a mesa "Contar Histórias, Escrever Vidas" foi composta por Ademario Payayá, Lucia Tucuju e Yaguarê Yamã/Maraguá. Os escritores compartilharam suas vivências e ressaltaram como o processo de escrita nasce durante a troca de experiências, de narrativas compartilhadas nas comunidades. A dificuldade de aquisição de literatura indígena que existia antes da entrada no mercado editorial desses escritores também foi destaque, bem como a necessidade de divulgação e promoção da cultura dos povos indígenas para toda a sociedade.
Na parte da tarde,ocorreu a mesa “Conversa sem Palavras: ilustração Indígena em Foco”, com a poeta e artista plástica Moara Tupinambá, Lúcia Tucuju, especialista em literatura infantil e juvenil, e o escritor e artista plástico Uziel Guayné. O encontro se concentrou na importância da arte visual e da ilustração como linguagem e forma de expressão cultural, discutindo o papel da imagem na narrativa indígena.
O terceiro dia de atividades no MAR manteve o foco nos debates e lançamentos de livros. Este dia contou com a participação de jovens lideranças e autores, como Ytanajé e Danielle Munduruku, que integraram as mesas de conversa, sinalizando a continuidade da produção literária e artística entre as novas gerações.
A primeira mesa, "Literatura e Academias: o Diálogo (Im)Possível?", reuniu intelectuais e escritores indígenas com vasta experiência no cruzamento entre o saber ancestral e o conhecimento formal. O debate, mediado por Lívia Jacob, colocou em pauta os desafios e as oportunidades da inserção da literatura indígena no ambiente universitário e nas estruturas de pesquisa.
A segunda mesa, "Vozes Femininas na Literatura e Arte Indígenas" foi composta por um painel de escritoras e artistas de diferentes etnias, a sessão, mediada por Gleycielli Nonato, celebrou a potência da criação feminina e a centralidade das mulheres na preservação e na inovação cultural. A mesa se dedicou a discutir como as mulheres indígenas estão usando a literatura e a arte para reescrever suas histórias e trazer à luz as perspectivas e os conhecimentos femininos de seus povos. A presença de nomes que atuam tanto na literatura quanto nas artes visuais, como Auritha Tabajara e Auá Mendes, ilustra a relevância e a interdisciplinaridade da produção cultural indígena.
O encerramento aconteceu no sábado, dia 18, na Fundação Casa de Rui Barbosa, em Botafogo. Este dia foi dedicado a uma etapa cultural aberta ao público, com foco em atividades para todas as idades. A programação incluiu oficinas de ilustração, contação de histórias com Dauá Puri, Fundador e Curador do Museu da Cultura Puri, apresentações musicais e uma feira de artesanato e de livros indígenas. O formato buscou promover a interação direta com o público, oferecendo um dia de imersão na cultura dos povos indígenas.
O vigésimo Encontro promoveu o debate sobre a diversidade de conhecimentos e expressões culturais de vários escritores e artistas indígenas.
O evento foi fruto de uma parceria da Funai, por meio do Museu Nacional dos Povos Indígenas, com a Secretaria de Formação, Livro e Leitura (SEFLI/Minc), a Fundação Biblioteca Nacional, a Fundação Casa de Rui Barbosa e o Programa de Pós-Graduação em Literatura da UFF.