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Museu/Funai participa da 23ª Semana Nacional de Museus
O Museu/Funai participou da 23ª Semana Nacional dos Museus, realizada de 12 a 16 de maio de 2025, debatendo o tema “Museus Indígenas no Território”. Criados e geridos pelas comunidades indígenas, esses museus salvaguardam terra, língua e saberes, projetando as vozes dos povos indígenas no espaço público. Tornam-se motores de desenvolvimento local — fortalecem vínculos, geram renda e protegem a natureza.
Durante a semana falamos sobre o surgimento e a multiplicação desses museus a partir dos anos 1990. Um levantamento feito pela Rede Indígena de Memória e Museologia Social identificou 43 instituições museais indígenas distribuídas nos seis biomas brasileiros.
De acordo com a professora Joana Munduruku, consultora Unesco que participou da construção do Plano Museológico do Museu/Funai, a criação de museus pelos povos indígenas decorre da necessidade de manterem preservados seus conhecimentos, práticas tradicionais e de contar suas histórias na ótica de seus anciãos, utilizando uma metodologia própria de seus povos, instrumento que contribui para o fortalecimento de suas identidades culturais.
Já o professor José Ribamar Bessa Freire afirma que os povos indígenas “não aceitam mais passivamente que os museus construídos pelos não índios tenham o monopólio do discurso histórico que lhes diz respeito. Querem deixar de ser apenas um objeto ‘musealizável’, para se tornarem também agentes organizadores de sua memória”.
Os primeiros museus indígenas no Brasil foram o Magüta, do Povo Ticuna/AM, criado em 1990, e o Museu Kanindé/CE, em 1995. Segundo o professor Alexandre de Oliveira Gomes, eles surgiram em contextos de lutas políticas e conflitos vivenciados por esses povos. “Eles precisaram recontar a história a partir de suas perspectivas e os Museus serviram a esse propósito, explica.
De 12 a 16 de maio, o Museu/Funai publicou uma série de cards sobre o tema, promoveu um debate online, no dia 13, que reuniu Kassia Lod, do Museu Kuahí, Joana Munduruku, que ajudou a idealizar o Museu Iny Heto, Ronaldo José, do Museu Indígena Kapinawá, Heraldo Alves, do Museu Indígena Jenipapo Kanindé, e Isaac Amajunepa, do Museu do Povo Balatiponé, que será inaugurado em breve.
No dia 15, alunos da professora Lilian Gomes do Curso de Museologia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) visitaram o Museu para uma conversa sobre o tema com servidores, e, no dia 16 de maio, foi realizada uma roda de conversa com Dauá Puri, idealizador e gestor do Museu da Cultura Puri. O evento contou com mediação de Paulina Vieira do Nugep/Unirio, e das professoras de Lilian Gomes, da Unirio, e Letícia Freire, da UERJ.
Museu da Cultura Puri
Durante a Roda de Conversa, Dauá falou sobre seu povo e a trajetória que levou à criação do Museu, entremeando sua fala com canções e acompanhamento da plateia. Relatou que os Puri têm vivido numa luta contra os efeitos do processo de colonização e que sua avó lhe deu a atribuição de juntar os integrantes de seu povo dispersos pelo país.
No início dos anos 2000, em meio ao fortalecimento do movimento indígena no Rio de Janeiro, Dauá iniciou um projeto de contação de histórias para vencer preconceitos dos moradores que os viam como desocupados. Mas o preconceito permeava também representantes de outros povos indígenas, que afirmavam que o Povo Puri não existia.
Nesse momento, Dauá foi para Minas Gerais reunir material de acervo, referências bibliográficas e aprendeu uma primeira música em Puri. Surgia aí a semente do futuro museu, que foi instalado em seu apartamento da Aldeia Vertical, localizada no Estácio, na área central do Rio de Janeiro.
Reforçando a ideia de museu vivo, após dar boas-vindas à Dauá, a diretora do Museu, Fernanda Kaingáng, destacou que a cultura dos povos indígenas não está desvinculada do território. E lembrou que no Museu/Funai “podemos pensar como demarcar territórios a partir das nossas culturas, das nossas memórias”.