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Museu/Funai comemora o Dia Internacional dos Povos Indígenas com festival de cinema
O jardim do Museu/Funai foi palco do Festival Cine Pindorama, de 7 a 9 de agosto, na semana em que se comemorou o Dia Internacional dos Povos Indígenas. Durante o evento, houve rezo, cantos, torés e debates sobre temas como ancestralidade, direitos indígenas, pertencimento, rituais e também os desafios enfrentados pelos povos indígenas, especialmente por aqueles que vivem em contexto urbano.
O objetivo do festival foi promover o acesso à cultura indígena por meio das telas de cinema. O evento foi produzido pela Flores& Filmes Tribais, em parceria com o Ponto de Cultura "Coletivo Indivisual" e contou com o apoio institucional do Museu.
Durante os três dias, o público assistiu a exibições ao ar livre de filmes, animações, documentários e participou de rodas de conversa, todas mediadas por Ana Maria Kariri, líder indígena do Povo Kariri, da Paraíba, escritora premiada e multiartista.
No dia 7, Ana Kariri abriu o evento ressaltando a importância da celebração da cultura indígena. Convidou os presentes para, reunidos, participarem de um rezo, um ritual tradicional visando atrair harmonia e proteção para a realização do festival.
O documentário “Virou Brasil”, exibido neste primeiro dia, abordou os impactos e transformações que o Povo Awá-Guajá, do Maranhão, enfrentou com a chegada da cultura não indígena em sua região. Foram exibidos também os curtas “Caminho dos Gigantes” e “O Dilúvio Maxakali”.
Ao final das exibições participaram da roda de conversa Dauá Puri, do Museu da Cultura Puri, a cantora indígena Lívia Kariri , e Luiz Mayô, indigenista e cineasta. Dauá abordou o trabalho que vem desenvolvendo para reafirmação de seu povo, que foi considerado extinto e para valorização de sua cultura. Lívia contou sua história como uma indígena em processo de retomada e falou sobre os caminhos que percorreu para se reconectar com sua origem indígena. Já Luiz Mayo falou sobre seu trabalho com os povos indígenas e sobre as possibilidades oferecidas pelo audiovisual.
No 8 dia, o documentário "Mokoĩ tekoá peteĩ jeguatá / Duas aldeias, uma caminhada" destacou a identidade cultural e a realidade contemporânea do povo Mbyá-Guarani. Sob a perspectiva do olhar indígena, o filme apresentou a espiritualidade, a música e memória dos anciãos. Elementos como grafismos, canções e danças foram registrados nesse documentário como formas de linguagens do povo Mbyá-Guarani.
A roda de conversa neste dia contou com a participação de Niara do Sol, educadora ambiental que trabalha com hortas comunitárias, da escritora e atriz Lucia Tucuju, e do cantor, compositor e multi-instrumentista Lucas Kariri. Niara falou sobre o trabalho que desenvolve com crianças e comunidade para consciência e educação ambiental e sobre a criação de hortas comunitárias. Lúcia Tucuju iniciou declamando uma poesia de sua autoria e contou um pouco sobre seu trabalho como escritora, atriz e agora como diretora teatral, sempre abordando a temática indígena. Já Lucas Kariri fez algumas apresentações musicais e contou sobre sua trajetória com uma pessoa indígena em contexto urbano, a convivência com o preconceito e a caminhada no mundo artístico.
O encerramento aconteceu sábado, 9 de agosto, Dia Internacional dos Povos Indígenas, com a exibição das animações “Mitos indígenas em travessia” e Pajerama”, seguida do documentário “Wapté Mnhõnõ – Iniciação do Jovem Xavante”, que apresenta este ritual do Povo Xavante, do Mato Grosso, e seus significados.
Participaram da roda de conversa o Cacique Carlos Tukano, liderança indígena histórica, conhecido por sua atuação em defesa dos direitos indígenas no Rio de Janeiro, o cineasta Álvaro Guarani e a artista indígena maranhense Maiara Astarte. Carlos Tukano falou da importância mundial do Dia 9 de agosto e da importância de um do festival como o Cine Pindorama estar sendo realizado no Museu/Funai. Álvaro Guarani destacou a importância das políticas públicas voltadas para a capacitação dos povos, afirmou que “o acesso à cultura fortalece estrategicamente os territórios”, e destacou que o protagonismo indígena no cinema cresceu muito com a produção de conteúdo produzido pelos indígenas como agentes das suas próprias histórias. Já Maiara Astarte contou sobre sua trajetória profissional no audiovisual e ressaltou a importância de as mulheres indígenas estarem ocupando esse espaço de narrativa.