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Daiara Tukano fala sobre colar sagrado do seu povo que faz parte do acervo do Museu/Funai
Durante gravação para a série documental “Somos Museu”, realizada no dia 17 de março na Casa Kariok do Museu/Funai, Daiara Tukano falou sobre a emoção que sentiu ao entrar em contato pela primeira vez com o colar com pingentes de quartzo branco, que faz parte do acervo do Museu/Funai.
Daiara explicou que a peça é um ente para seu povo e que suscita uma memória familiar. “Meu pai me contou que quando tinha seis anos, viu seu avô jogando no rio um colar como esse e outras peças de uso pessoal”. O objetivo era evitar que fossem tomadas pelos missionários.
Anos depois, ao se deparar com um exemplar do colar numa exposição permanente no Museu/ Funai, Daiara diz que chorou muito. E explica que, para os povos indígenas, peças como essa são o sagrado, têm energia, história e memória, não são simples objetos.
O colar, esclareceu, é de propriedade das famílias, sendo passados de geração em geração, mas hoje somente são encontramos em museus. Daira afirma que 82% dos objetos tradicionais de seu povo estão em instituições museais fora do Brasil e nem 1% deles se encontra nas aldeias.
Diante desse cenário, ela enfatizou a necessidade de se discutir uma política de repatriação que possibilite trazer de volta as peças e documentos que foram retirados arbitrariamente do território, além de políticas públicas de reparação pelas violências sofridas contra a memória, a identidade, a língua e os modos de vida dos povos indígenas. “Essas violências sistêmicas resultantes de séculos de desumanização nos colocam num lugar de muita vulnerabilidade, de muita violência, destaca.
“Somos Museu”
Artista visual, educadora, comunicadora, Mestre e pesquisadora em direitos humanos e integrante do Conselho Nacional de Cultura, Daira Tukano quis gravar sua participação na série nas dependências do Museu/Funai, pois, segundo ela, a instituição tem uma história muito especial.
“Este museu foi criado pelo Darcy Ribeiro e foi o primeiro museu da América Latina dedicado à salvaguarda, preservação e defesa das nossas culturas. Não é simplesmente um museu etnográfico. Foi criado para que as nossas culturas continuem vivas”, enfatizou.
A série documental é produzida em parceria pela Hungry Man com a Fundação Roberto Marinho e deve ir ao ar em 2026. Contará com 13 episódios de 26 minutos. Cada episódio abordará temas como regeneração, memória, inovação, coexistência, território, ação, ancestralidade, entre outros. Entre os entrevistados estão profissionais como curadores, artistas, acadêmicos, museólogos e membros ativos das comunidades locais.
De acordo com os produtores, a série Somos Museus” “busca informar, popularizar e democratizar o acesso aos museus, transformando esses espaços em pontos de conexão vivos e vibrantes com o público”.