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Ativista Indígena fala sobre as dificuldades enfrentadas pelos jovens que deixam suas aldeias
Ana Trumai é uma jovem liderança do Povo Trumai, do Território Indígena do Xingu. Ela foi a entrevistada da primeira live realizada pelo Centro Audiovisual (CAud), unidade do Museu/Funai situada em Goiânia e voltada à formação em técnicas de produção e edição de mídias digitais e exibição de produções feitas por indígenas. A live foi realizada no canal do Museu/Funai no YouTube e foi aberta pelo chefe do CAud, Thiago Ikeda.
Estudante de Medicina Veterinária na Universidade Federal de Goiás (UFG), Ana foi entrevistada pela servidora do CAud, Sílvia Mattos. Durante a conversa, ela falou sobre a família, a vida na aldeia, as dificuldades que os jovens indígenas enfrentam para estudar e trabalhar na cidade, sobre sua atuação como ativista do Movimento das Mulheres Indígenas do Território do Xingu (MMTIX), entre outros temas.
Ana nasceu no Território Indígena do Xingu e foi morar em diferentes locais acompanhando os pais. Mas mudou-se sozinha para Goiânia, cidade onde atualmente estuda, para ingressar na universidade. Em paralelo às adversidades comuns aos jovens que chegam sozinhos a uma cidade grande, Ana Trumai teve de enfrentar um desafio a mais: “na universidade tive um contato muito escancarado com o preconceito”, afirma.
Outro obstáculo encontrado no ambiente acadêmico é o fato de o ensino superior não contemplar a realidade dos povos indígenas, nem valorizar seus saberes tradicionais. “A universidade me direciona para oportunidades de conhecimento, mas não encontro um projeto voltado para as necessidades do meu povo”, explica. Perguntada sobre seus objetivos após a formatura, ela disse que pretende voltar para sua comunidade e colocar em prática seus conhecimentos.
Em 2024, Ana foi uma das monitoras da exposição “Xingu Contatos”, que inaugurou o CAud. Idealizada pelo Instituto Moreira Salles, a mostra abordou a história das imagens no território indígena do Xingu, com ênfase na produção audiovisual indígena contemporânea.
A jovem conta que a experiência foi enriquecedora, permitindo um intercâmbio cultural. “É um espaço para todos os povos indígenas. Tive oportunidade de conhecer outras culturas e pude dialogar e conhecer a realidade de outros territórios”. Ela afirma que a experiência também a ajudou a superar o medo de falar com o público. “Eu me senti à vontade”, revela.
Ana Trumai disse que sua família está abrindo uma nova aldeia e precisa de apoio para suprir questões básicas, uma delas é o acesso à água. Sílvia Mattos perguntou se procede a informação de que as nascentes que nascem fora do Território Indígena do Xingu têm sido contaminadas por agrotóxicos e ela confirmou: “não podemos mais consumir a água do rio Xingu”.
A respeito de sua atuação no Movimento das Mulheres Indígenas do Território do Xingu, fundado em 2019 para articular e unir as mulheres indígenas visando sua participação nas decisões políticas, tanto dentro como fora de suas aldeias, Ana contou que ingressou no Movimento no final de 2024 e está aprendendo com aquelas que vêm atuando há mais tempo. “O movimento é fundamental para as mulheres e meninas dentro do território, pois permite sentar com os homens para conversar sobre os assuntos que nos afetam”, esclarece.
Ela contou também que tem participado das discussões sobre a construção do Plano Museológico do Museu/Funai.
A conversa durou pouco mais de uma hora e está disponível no Canal do Museu/Funai no YouTube.