Uma pesquisa de doutorado desenvolvida no IRD/CNEN por Marilice de Araújo Silva Valverde, sob orientação dos professores Eduardo de Paiva e de João Emílio Peixoto, ambos do Programa de Pós-Graduação em Radioproteção e Dosimetria do IRD, mostrou que os programas nacionais de qualidade em mamografia do Inca e do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR), bem como os avanços técnicos nos equipamentos digitais contribuíram de forma significativa para a otimização das doses de radiação aplicadas às mulheres no Brasil, de 2012 a 2023. As informações obtidas podem apoiar gestores, profissionais da radiologia mamária e autoridades de saúde na definição de políticas públicas para o rastreamento do câncer de mama, contribuindo para maior segurança e eficácia no diagnóstico precoce da doença.
“Estudo comparativo das doses e do risco carcinogênico para diferentes estratégias de rastreamento mamográfico” foi apresentado em 26 de agosto de 2025, com banca formada por especialistas da área nuclear, física médica e radiologia, do Instituto Nacional de Câncer (Inca/Ministério da Saúde), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do próprio IRD/CNEN. A pesquisa ressaltou a necessidade de ampliar os programas de garantia de qualidade nos serviços de mamografia no Brasil, com foco na otimização das práticas e no monitoramento contínuo das doses recebidas pelas pacientes.
A mamografia é o principal exame para a detecção do câncer de mama, permitindo identificar alterações ainda em estágios iniciais, antes mesmo do aparecimento de sintomas. O diagnóstico precoce aumenta significativamente as chances de tratamento e cura. "A mamografia de rastreamento é realizada em mulheres assintomáticas. Já a mamografia diagnóstica é realizada em paciente com sinais ou sintomas na mama ou em paciente que necessita de acompanhamento, após cirurgia ou laudos com achados provavelmente benignos", explica a pesquisadora.
Nos sistemas de mamografia digital que utilizam mamógrafos analógicos (sistema CR), a queda nas doses de radiação esteve ligada às ações de certificação de qualidade e ao uso de placas de imagem de nova geração. Já nos sistemas de mamografia digital direta (sistema DR), a redução ocorreu graças à combinação de programas de qualidade e inovações tecnológicas, em especial os tubos de raios X com alvo de tungstênio, que apresentaram desempenho superior em relação aos modelos com alvo de molibdênio ou ródio. Em média, a redução das doses foi de 8,6% nos sistemas CR e de 26% nos sistemas DR.
A análise também demonstrou uma redução nos riscos de câncer de mama radioinduzido e nas mortes associadas para mulheres submetidas a exames de rastreamento em sistemas digitais DR, sobretudo nos equipamentos mais modernos que usam tubos de raios X com alvo de tungstênio. Por outro lado, os sistemas CR avaliados não mostraram evolução na redução dos riscos ao longo do tempo, reforçando a importância da modernização tecnológica no setor.
O câncer de mama é o tipo de câncer mais comum em mulheres. Trata-se de uma doença heterogênea que abrange uma diversidade de tipos histológicos de tumores, desde os mais lentos, com baixo potencial de progressão e risco, até os tumores mais letais, de rápido crescimento. A pesquisadora destacou, em seu trabalho, dados do Atlas da Mortalidade das Mulheres Brasileiras, de 2024, que assinala tendência crescente de morte por câncer de mama feminino. Em 2002, a taxa bruta da mortalidade feminina pela doença foi de 9,93 mortes por 100.000 mulheres. Após 20 anos, em 2022, foi de 17,52 mortes para cada 100.000 mulheres, correspondendo a um aumento de 76,4% .