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Julho Amarelo: evolução do tratamento da hepatite C no SUS mostra como políticas públicas baseadas em evidências transformam vidas
Ao longo dos anos, o Brasil tem se destacado no enfrentamento à doença com uma política pública ampla, que permite acesso às mais diversas opções de tratamento, baseada em evidências científicas e em ações integradas de prevenção, diagnóstico e tratamento. A trajetória de mais de duas décadas mostra que as decisões orientadas pela ciência podem transformar profundamente o cuidado à população e mudar o rumo de uma doença silenciosa que já foi considerada uma sentença.
Desde a publicação do primeiro Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) da hepatite C, em 2000, o país consolidou o acesso gratuito ao tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS), promovendo equidade e organização no cuidado. Nesse período, o Ministério da Saúde tem adotado medidas estratégicas para aprimorar continuamente esse tratamento, incorporando novas terapias conforme evoluem as evidências científicas.
Essa evolução foi marcada por uma das transições terapêuticas mais bem-sucedidas da saúde pública recente: a substituição de medicamentos injetáveis, com baixa taxa de resposta e importantes efeitos adversos, por antivirais de ação direta, com tratamentos orais, de curta duração e com taxas de cura superiores a 95%. Essa mudança foi viabilizada pelo processo estruturado de Avaliação de Tecnologias em Saúde (ATS), que garante a incorporação de medicamentos seguros, eficazes e sustentáveis para o SUS.
A fala do presidente da ONG Grupo Otimismo do Rio de Janeiro e representante de pacientes, Carlo Norberto Varaldo, durante a análise do último medicamento avaliado pela Conitec para tratamento da Hepatite C, é bem representativa de como se deu a evolução do tratamento no SUS para pacientes.

O medicamento em questão, a terapia combinada com Sofosbuvir/velpatasvir/voxilaprevir foi incorporada naquele ano, em 2022, e é apenas um dos marcos de uma longa trajetória que transformou a vida de quem vive com a doença no país.
Da primeira diretriz à revolução terapêutica
Com a criação da Conitec, em 2011, esse processo passou a contar com avaliações estruturadas, que consideram eficácia, segurança, a sustentabilidade do sistema de saúde e participação social.
Desde 2015, a Comissão teve papel central na mudança de paradigma do tratamento da doença no SUS. Foi nesse ano que houve a recomendação de incorporação dos antivirais de ação direta (DAAs), como sofosbuvir, daclatasvir e simeprevir. Pela primeira vez, o sistema público passou a oferecer tratamentos totalmente orais, com duração de 12 semanas e altas taxas de cura. A decisão, baseada em sólida revisão de evidências, marcou o abandono progressivo da interferona, tratamento padrão até o momento, mas com efeitos colaterais importantes e baixa efetividade.
O Ministério da Saúde seguiu, então, atualizando o protocolo conforme as evidências evoluíam. Foram incorporadas, entre 2017 e 2022, novas combinações altamente eficazes, como ledipasvir + sofosbuvir, elbasvir + grazoprevir, glecaprevir + pibrentasvir e sofosbuvir + velpatasvir.
Em 2022, o MS publicou um marco no tratamento, com a recomendação a inclusão da terapia combinada com o sofosbuvir + velpatasvir + voxilaprevir, medicamento citado na fala do paciente Carlos Norberto. Essa opção terapêutica é destinada a pacientes que não responderam aos tratamentos anteriores. Com isso, o SUS passou a contar com todas as possibilidades terapêuticas reconhecidas pela comunidade científica internacional, cobrindo eventuais lacunas e consolidando o país como referência global no enfrentamento da hepatite C.
Ações integradas e compromisso com a eliminação
O Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente (SVSA), coordena uma resposta ampla à hepatite C, aliando vigilância epidemiológica, ações de prevenção e programas intersetoriais. Em 2024, foi lançado o Programa Brasil Saudável, que estabelece metas ambiciosas para o enfrentamento de 14 doenças socialmente determinadas, incluindo as hepatites virais — entre elas, diagnosticar 90% dos casos de hepatite C e tratar 80% das pessoas com indicação, até 2030.
A definição e a atualização dos protocolos clínicos são baseadas em processos técnicos que contam com a participação social e o monitoramento do horizonte tecnológico, o que permite antecipar inovações e garantir um acesso mais rápido e eficiente. Esse compromisso com a ciência, com a escuta da população e com a sustentabilidade do sistema público tem colocado o Brasil como referência internacional na resposta à hepatite C.
Vinte e quatro anos após o primeiro PCDT, o SUS está mais preparado para dar respostas necessárias para quem passa pelo diagnóstico da doença. Essa história é uma prova concreta de como políticas públicas bem desenhadas, orientadas pelas melhores evidências e com foco na população, têm o poder de transformar doenças antes devastadoras em condições curáveis.