Dia Mundial da Metrologia: entrevista com Michael Kühne diretor do BIPM

Um dos principais executivos da área de metrologia no mundo, o professor Michael Kühne, diretor do Bureau Internacional de Pesos e Medidas (BIPM), concedeu entrevista ao Na Medida, em comemoração ao Dia Mundial da Metrologia. Ele fala do passado, do presente e do futuro da ciência em um mundo globalizado.

Na Medida: Qual a importância atual da metrologia?Michael Kühne: Metrologia, a ciência das medições, é uma palavra que o cidadão comum, provavelmente, desconhece. Mas basta uma explicação para que ele, rapidamente, perceba sua importância. A indústria moderna não poderia existir sem a capacidade de compreender e controlar processos que, muitas vezes, precisam de medidas exatas e confiáveis. Além disso, é necessário saber se uma determinada engrenagem fabricada no Brasil e outra na Alemanha vão se encaixar, por exemplo. Também há o desejo de proteger a saúde, a segurança e o ambiente em que vivemos. Todas demandam medições confiáveis e cada vez mais exigentes e precisas. Há décadas, um inspetor do governo poderia decidir se as emissões da fábrica eram aceitáveis apenas olhando se saía fumaça preta ou não da chaminé. Hoje, esta análise de poluentes é feita por partes de milhão e, às vezes, até por bilhão. Estas medições são sempre um desafio.

NM: Como o senhor avalia a relação entre a sociedade e a metrologia? MK: A ciência e a sociedade são inseparáveis. Ao longo da história das grandes civilizações, percebemos que todas tinham um entendimento muito bom de metrologia. Basta analisar as obras de egípcios, gregos, romanos e constatar que levaram o tema a sério. Não é possível construir pirâmides, grandes edifícios, pontes, viadutos, sem medir muito bem. Nas oportunidades de crescimento, com a revolução industrial, a capacidade de medição foi testada. Assim, nasceram os primeiros Institutos Nacionais de Metrologia na Alemanha, nos Estados Unidos e no Reino Unido, no início do século 20, seguidos por outros países industrializados. Hoje, são grandes as exigências sobre a metrologia e não apenas ligada à necessidade de medições precisas, mas à comparação de resultados, essencial na economia global. Este é o Ano Internacional da Química. As expectativas das sociedades em relação a alimentos e água potável seguros se tornam fatores essenciais para a expansão da metrologia química.

NM: Como a ciência tem contribuído para a evolução da metrologia?MK: A ciência e a metrologia também são inseparáveis. A metrologia propicia avanços científicos, até porque não entendemos de muitas coisas a menos que possamos quantificá-las em números, o que significa medi-los. Por outro lado, novos avanços na ciência são explorados pela comunidade metrológica. Podemos usá-los para desenvolver técnicas de medição totalmente novas. O desenvolvimento da física quântica, no início do século XX, por exemplo, teve um efeito profundo, permitindo o desenvolvimento de padrões de medição com maior precisão, um verdadeiro salto qualitativo, embora tenha demorado algum tempo. A urgência de tempo, aliás, é um tema recorrente no domínio da metrologia, porque avançar é complicado e complexo, exige as melhores mentes para aplicar seus conhecimentos cuidadosamente. Isso é muito frustrante para aqueles que fornecem o financiamento, pois querem ver hoje os resultados de amanhã. NM: O que está impulsionando a química?MK: Há uma demanda crescente dos cidadãos quanto a segurança dos alimentos, qualidade do ar e água. Paralelamente, a proteção do meio ambiente tornou-se assunto de discussão diária. Não podemos esquecer a contribuição da indústria química para a nossa prosperidade. Os benefícios surgem de várias maneiras: novos materiais, fertilizantes e pesticidas. A necessidade de desenvolver referências químicas estáveis para servir de base para medições foi parte do programa de institutos nacionais de metrologia desde a sua criação, há mais de um século. Da mesma forma, a necessidade de equivalência internacional das medições químicas levou ao desenvolvimento de uma extensa série de comparações para permitir a equivalência dos materiais de referência certificados e dos métodos de referência. A rastreabilidade dos resultados das medições químicas de tais referências é uma base forte para a confiabilidade e a aceitação internacional em domínios tão variados como saúde, segurança alimentar, ambiente, ciência forense e qualidade do ar.