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Pesquisadores avaliam chuvas intensas em 2021 na bacia do rio Juruá (Amazônia), as causas e impactos das inundações
O estudo sobre as causas e os impactos da inundação ocorrida em 2021 na Bacia do Rio Juruá - nos estados do Acre e do Amazonas (oeste da Amazônia) - apresenta resultados indicando que a magnitude das inundações e seus impactos na região podem estar associados às mudanças climáticas induzidas por atividades humanas.
Os pesquisadores apontam que as chuvas extremas sobre a Bacia do Rio Juruá, ocorridas entre dezembro de 2020 e março de 2021, registraram um valor acumulado de 1.329 mm, atingindo 48% acima da precipitação média de dezembro a março. Isto ocasionou a inundação de 25 km² de área urbana e 1.150 km² de áreas de pastagem, prejudicando a mobilidade da população e contribuindo para a contaminação de solos agrícolas utilizados para subsistência.
O trabalho científico foi realizado no âmbito da parceria Ciência para Serviços Climáticos Brasil (CSSP-Brasil) - que reúne cientistas de instituições nacionais, como o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) - e internacionais, como a Universidade de Viena (Áustria) e a Universidade de Oxford (Reino Unido).
Na pesquisa, estima-se que 61% da probabilidade de ocorrência de um evento tão extremo pode ser atribuída à influência antrópica no clima. Essa influência pode estar relacionada às atividades humanas que alteram a natureza e contribuem para a emissão de gases do efeito estufa, como o desmatamento, a poluição ou a urbanização. Além disso, a pesquisa aponta que um evento dessa magnitude, que deveria se esperar a cada 107 anos, tem agora uma recorrência de 42 anos.
O estudo nessa região foi iniciado no Workshop sobre “Secas e Inundações e seus impactos no Estado do Acre, sudoeste da Amazônia”, realizado na sede do Cemaden, no final do ano de 2023.
“É importante ressaltar a grande relevância de encontros com essa característica, nos quais diversas instituições convergem em um objetivo comum, aproximando cientistas de diferentes disciplinas e profissionais, que atuam em órgãos locais, como a Defesa Civil e as secretarias de saúde.”, afirma o hidrólogo da Sala de Situação do Cemaden, Alex Ovando e complementa: “Trata-se de um esforço coletivo em busca de evidências científicas que possam subsidiar a tomada de decisões e a implementação de ações coordenadas diante de um cenário marcado pelo aumento da frequência de eventos extremos, como inundações, secas e ondas de calor no País”.
Para Liana Anderson, pesquisadora do Cemaden, a quantificação dos elementos das mudanças climáticas e seus impactos para a ocorrência de eventos extremos são fundamentais para o planejamento estratégico de medidas de adaptações necessárias na emergência climática. “A expectativa é que no futuro possamos atribuir responsabilidades frente aos prejuízos socioeconômicos e ambientais causados pelas mudanças no clima, visando forçar um caminho de desenvolvimento sustentável”, ressalta Anderson.
O estudo foi publicado em maio deste ano, no International Journal of Disaster Risk Reduction da Editora Elsevier, intitulado “Attributing the 2021 Juruá River Floods to Climate Change: Evidence, Impacts, and Adaptation in the Brazilian Amazon” (Atribuindo as cheias do rio Juruá em 2021 às mudanças climáticas: evidências, impactos e adaptação na Amazônia brasileira). A pesquisa completa está disponibilizada no link:
https://doi.org/10.1016/j.ijdrr.2025.105530
Fonte: Ascom/Cemaden (MRO)