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Roda de conversa
Cemaden promove discussão sobre “Risco, Vulnerabilidade e Raça: Perspectivas Futuras”
Debater como risco e vulnerabilidade se intensificam nas intersecções de raça, identidade territorial e condição socioeconômica foi o foco da Roda de Conversa "Risco, Vulnerabilidade & Raça: Perspectivas Futuras", ocorrida no dia 28 de novembro, com transmissão pelo Canal YouTube do Cide_Cemaden. O evento foi organizado pela Comissão de Inclusão, Diversidade e Equidade (Cide), do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta a Desastres Naturais (Cemaden) — unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
A abertura da Roda de Conversa foi feita pela tecnologista do Cemaden, Regla Somoza, presidente da Comissão Comissão de Inclusão, Diversidade e Equidade (Cide), do Cemaden, que ressaltou a importância do diálogo entre as lideranças e especialistas de comunidades tradicionais, de racismo ambiental e pesquisadores do Cemaden. “Quando a ciência encontra a ancestralidade, emergem soluções transformadoras”, afirma a presidente da comissão.
A roda de conversa foi moderada pelo pesquisador do Cemaden, Allan Iwama, idealizador do evento.
Desagregação de gênero e raça devem entram nos dados das perspectivas de vulnerabilidade climática
Thaynah Gutierrez Gomes, assessora de Clima e Racismo Ambiental no Geledés-Instituto da Mulher Negra, vem trabalhando na organização do movimento negro, liderado por mulheres negras, há 37 anos, tanto em nível nacional, como internacional. Trabalha na agenda climática e socioambiental, a partir da perspectiva do combate ao racismo ambiental. Informa que já existe a rede por adaptação antirracista, criada em 2023, com 50 organizações da sociedade civil.
“Para nós é a centralidade que vai garantir uma agenda transformativa, transformacional para a adaptação climática”, afirma Thayna Gomes e complementa: “É essencial se posicionar, quando falamos sobre essa perspectiva de raça, riscos e vulnerabilidades, olhando a crise climática. Toda essa construção social do risco — a partir desse passivo histórico e social das desigualdades sociais — marginalizaram, expulsaram e excluíram as comunidades negras, indígenas, quilombolas e demais comunidades tradicionais.”
A ativista ressalta que a vulnerabilidade é subestimada se ignorar os dados da desagregação de gênero e raça, explicando a tendência de colocar todas as pessoas de um território com o mesmo grau de vulnerabilidade. “As populações que já são historicamente marginalizadas estão passíveis de morrer primeiro, de perder mais bens materiais e imateriais. De perder a sua cultura e os seus modos tradicionais de vida.” Destaca, também, que para se construir uma política pública é necessário partir de um horizonte de priorização, para que de fato garanta vida digna e sobrevivência a essas comunidades. Cita exemplos de ações locais nas periferias e formas de remoção forçada, e processos de realocação, que deveriam ocorrer com um planejamento e participação ativa da comunidade.
União das comunidades tradicionais e acesso à universidade
Patrícia da Silva Santos, da Coordenação compartilhada do Fórum de Comunidades Tradicionais, explica que a entidade tem a composição de três povos: caiçaras, indígenas e quilombolas, que resolveram unir suas forças para pensar a estratégia de defesa territorial, para além de sua cultura. Atua na região de Ubatuba, no litoral norte paulista e no litoral sul fluminense. O fórum integra um programa da Fiocruz
“Para as questões de riscos e vulnerabilidades dentro de nossos territórios — para um povo que já tem um contexto social, marcado pelo racismo e pela desigualdade históricos e estruturais — já não chamamos tragédia climática, porque ela é provocada.”, afirma Patrícia Santos. Salienta que as tragédias têm sido anunciadas: “Existe o monitoramento que nos avisam. Mas para onde a gente vai? É muito importante pensar as políticas públicas de interesse para essa população que tem sido marginalizada. Saber o tipo de política pública que ainda precisa ser feita e acompanhar o que está sendo executada”.
A militante que se identifica como caiçara fala da importância da preparação de conhecimentos para a luta e defesa dos direitos das comunidades tradicionais, além da inserção nas discussões e participação ativa. Informou os cursos de iniciação científica e pós-graduação sobre gestão de risco, pela Universidade Federal Fluminense. Nesses cursos, os participantes elaboram um projeto para suas comunidades. Informou, também, outro curso em Ubatuba, de Licenciatura em Educação no Campo, pela Universidade Federal do ABC. “Foi pensando nessa população de caiçaras, indígena e quilombolas que a universidade criou os cursos para dar acesso à universidade, sem disputar com outras pessoas. Além disso, há um percentual para educadores ou quem já trabalha com educação”, informa Patrícia Santos
Conflito territorial, além das vulnerabilidades e riscos ambientais
Julio Garcia Karai Xiju da Coordenação compartilhada do Fórum de Comunidades Tradicionais e membro da Comissão Guarani Yvyrupa, relata que, em seminários, tem discutido os vários pontos sobre mudanças climáticas, pelo olhar das comunidades tradicionais de seu território. Relata que vive numa área conflituosa, dentro do município de Angra dos Reis (RJ), além das vulnerabilidades dos desastres ambientais.
“Falamos sobre garantias dos territórios. Os desastres ambientais são consequências das atividades como desmatamento, venda de água, venda de terra e da chegada de grandes empreendimentos.”, afirma Julio Xiju. Explica que luta para garantir a preservação ambiental territorial, nessa linha de organização social das populações tradicionais dos indígenas, quilombolas e caiçaras. “O desafio da luta é enfrentar os projetos de lei que impactam diretamente as comunidades tradicionais”, destaca. “Precisamos garantir os direitos das comunidades tradicionais nos territórios em que vivem. Como a pesca, fazer a roça, a farinha, a demarcação das terras indígenas. Também, a garantia da titulação da área dos quilombolas, garantia de uso sustentável e direito da população caiçara.”
Julio Xiju informou sobre a participação direta no projeto chamado “Povos”, onde foi realizada a cartografia social das comunidades sociais. “Nós mesmos elaboramos o nosso mapeamento, material muito importante para nossa luta”, afirma. “Mapeamos nosso território e até as ameaças e riscos. Tudo pela luta de garantir os territórios. Acredito que o trabalho de mapeamento foi muito bom, porque nós participamos da elaboração.” Salienta, ainda, que, além da vulnerabilidades e risco, o território necessita de ações de preservação ambiental. “Vivemos da água, vivemos do fogo, vivemos do ar e vivemos da terra. Precisamos cuidar desses quatros elementos, que estão relacionados com a vida dos seres humanos.”
A íntegra a Roda de Conversa "Risco, Vulnerabilidade & Raça: Perspectivas Futuras" está disponível no Canal YouTube Cide_Cemaden, pelo link:
https://www.youtube.com/@cide_cemaden
Fonte: Ascom/Cemaden (MRO)