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Situação Atual e Projeção Hidrológica para o Sistema Cantareira 07/03/2025 Ano 11 Nº 102
Esta edição do boletim traz um resumo da situação referente ao mês de fevereiro de 2025, e projeções hidrológicas de março a setembro de 2025. Ao final de fevereiro, os reservatórios do Sistema Cantareira estavam com 60% de seu volume útil, um aumento de 8% em comparação ao mês anterior. No entanto, esse valor é inferior ao registrado no mesmo período de 2024, quando o armazenamento era de 76%. Com a situação atual de armazenamento, os reservatórios do Sistema Cantareira encontram-se na faixa de operação “Atenção” (armazenamento entre 40% e 60%)[1], cuja máxima vazão de extração para o atendimento da demanda hídrica da região metropolitana de São Paulo é 31 m³/s. Em fevereiro de 2025, a média de extração para o abastecimento da região metropolitana de São Paulo foi, de aproximadamente, 32 m³/s. Ainda em fevereiro, a contribuição do reservatório da Usina Hidrelétrica (UHE) Jaguari, localizado na bacia do rio Paraíba do Sul, para o reservatório do rio Atibainha, que faz parte do Sistema Cantareira, foi de cerca de 6,6 m³/s. É importante destacar que essa contribuição, proveniente da interligação entre os sistemas, ficou desativada por um longo período e voltou a operar em maio de 2024, conforme a Resolução Conjunta ANA 1.931/17.
A precipitação e a vazão registradas no Sistema Cantareira, no mês de fevereiro foram equivalentes a 86% e 89% da média histórica do mês, respectivamente. Atualmente, o Sistema Cantareira encontra-se classificado em seca hidrológica de intensidade moderada, de acordo com o Índice Padronizado Bivariado Precipitação-Vazão (TSI) nas escalas temporais de 6 e 12 meses. Em comparação com o mês anterior, a situação de seca hidrológica no Sistema Cantareira se desintensificou, particularmente na escala temporal de 12 meses. Embora na escala de 6 meses a condição de seca tenha permanecido na mesma faixa de classificação do mês anterior, o valor numérico do TSI tornou-se menos negativo.
Com relação às projeções hidrológicas a partir do modelo PDM/CEMADEN (Probability-Distributed Model/CEMADEN) (Tabela 01), as simulações indicam que, no cenário hipotético de precipitação na média histórica, a vazão afluente média aos reservatórios do sistema Cantareira, no último mês chuvoso desta temporada oscilará em torno de 40 m³/s, o que corresponde a 69% da média histórica deste período. Ainda, considerando o cenário de precipitações na média histórica, o modelo hidrológico projeta um armazenamento no sistema, no final de março, de 62%, na faixa de operação “Normal”. Para um horizonte de tempo maior, entre abril e setembro de 2025, o modelo indica vazão média de 28 m³/s, correspondente a 95% da média histórica, e armazenamento no final de setembro de 2025, de 52%, na faixa de operação “Atenção”.
Ressalta-se que esses cenários podem ser modificados de acordo com mudanças na vazão de interligação com a bacia do rio Paraíba do Sul, bem como as extrações do Sistema a serem praticadas pelo operador, nos próximos meses.

- Tabela 01. Projeções de vazões médias entre o período de março a setembro de 2025 e volume armazenado no final de março e setembro de 2025, considerando cinco cenários de precipitação: 50% e 25% abaixo da média histórica, na média histórica e 25% acima da média histórica e cenário crítico. As faixas de operação do reservatório estão de acordo com a resolução conjunta da ANA/DAEE Nº 925/2017. Nessas simulações, foi considerado o aporte de 5,13 m3/s proveniente da interligação do Sistema Paraíba do Sul para Sistema Cantareira, de acordo com a Resolução conjunta ANA 1.931/17.
Situação atual do Sistema Cantareira
A precipitação acumulada durante os meses chuvosos de outubro de 2024 a fevereiro de 2025, baseado nas redes pluviométricas que cobrem as sub-bacias de captação do Sistema Cantareira (Figura 1), incluindo 26 pluviômetros do CEMADEN e 7 pluviômetros do DAEE/ SAISP[2], foi 953 mm (9722 mm). Esse valor corresponde a 1% (3%2) acima da média histórica deste período (945 mm), e 85% (87%2) da média histórica para a estação chuvosa, compreendida entre os meses de outubro a março (1119 mm).
No mês de fevereiro de 2025, penúltimo mês chuvoso desta temporada, a precipitação acumulada foi 171 mm (1672 mm), equivalente a um valor de, aproximadamente, 86% (84%2) da média histórica para este mês (199 mm).

- Figura 1: Mapa de localização das sub-bacias de captação do Sistema Cantareira incluindo Jaguari-Jacareí, Cachoeira, Atibainha, Paiva Castro (contornos em preto), juntamente com a localização dos pluviômetros operantes nesta região, sendo 21 do CEMADEN (pontos verdes) e 7 do DAEE/ SAISP (pontos magentas).
O Sistema Cantareira encontra-se classificado em condição de seca hidrológica de intensidade moderada, de acordo com o Índice Padronizado Bivariado Precipitação-Vazão (TSI) para as escalas temporais de 6 e 12 meses (TSI-6 = -0,93 e TSI-12 = -1,28, respectivamente) (Figura 2a e 2b). De acordo com o TSI, em comparação com o mês anterior, a situação de seca hidrológica no Sistema Cantareira se desintensificou, especialmente na escala temporal de 12 meses, período em que a condição era de seca severa. Embora na escala de 6 meses a condição de seca tenha permanecido na mesma faixa de classificação do mês anterior, o valor numérico do TSI tornou-se menos negativo. Destaca-se que, embora a bacia tenha apresentado condições de normalidade em alguns períodos desde a crise hídrica de 2014, como entre maio de 2016 e maio de 2017 e entre março de 2023 e fevereiro de 2024, o Sistema Cantareira enfrentou, nos demais períodos após 2014, uma condição de seca, com intensidade variando de fraca a excepcional.

- Figura 2. Índice Padronizado Bivariado Precipitação-Vazão (TSI) para o Sistema Cantareira, nas escalas temporais de 6 (a) e 12 (b) meses, entre janeiro de 1981 a fevereiro de 2025. A linha vermelha pontilhada indica o limiar entre uma condição de seca hidrológica fraca e moderada à excepcional.
A média de vazão afluente aos reservatórios do Sistema Cantareira (Sistema Equivalente + Paiva Castro), entre os meses chuvosos de outubro de 2024 a fevereiro de 2025, de acordo com dados da SABESP[3] e da ANA[4] foi, de aproximadamente, 34 m3/s. Esse valor corresponde a 72% da média histórica deste período (47 m3/s), e 70% da média histórica para a estação chuvosa, compreendida entre os meses de outubro a março (49 m3/s). Para o mesmo período, a extração total média dos reservatórios foi 35 m³/s, enquanto a média de extração de água do Sistema Cantareira para o elevatório Santa Inês (Qesi), que abastece a região metropolitana de São Paulo, foi 30 m³/s.
No mês de fevereiro, a vazão média afluente registrada foi, de aproximadamente, 57 m3/s, o que representa, cerca de 89% da média mensal histórica (64 m3/s). Adicionalmente, em fevereiro de 2025, Qesi foi de, aproximadamente, 32 m3/s, e a vazão de jusante (Qjus), que contribui com as bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (Região do PCJ), foi de, aproximadamente, 1 m³/s. Juntas, estas duas vazões representam a extração total do sistema Cantareira, que foi de, aproximadamente, 33 m³/s. A extração total do Sistema Cantareira se manteve estável comparativamente ao mês anterior.
Ainda em fevereiro, o aporte médio da interligação alcançou 6,6 m³/s. É importante ressaltar que a operação da interligação, suspensa desde 27 de dezembro de 2022, quando os reservatórios do Sistema Cantareira estavam com apenas 39% de sua capacidade total, foi retomada em 17 de maio de 2024, mantendo uma média mensal de 7,5 m³/s até novembro de 2024, de acordo com o Ofício OA 008/2024. O Sistema operou no dia 28 de fevereiro de 2025 com, aproximadamente, 60% do volume útil total, na faixa de operação “Atenção” (nível de armazenamento entre 40% e 60%), de acordo com o estabelecido pela Resolução conjunta ANA/DAEE Nº 925/2017. O volume atual no Sistema Cantareira representa um aumento de 8% em relação ao final do mês passado, quando o Sistema também estava classificado na faixa de operação "Atenção". Adicionalmente, o nível atual é inferior ao registrado no mesmo período de 2024, quando alcançava 76% e se enquadrava na faixa de operação "Normal" (nível de armazenamento entre 60% e 100%). Em comparação com o período pré-crise, em fevereiro de 2013, quando o volume era de 57%, a situação atual representa uma condição ligeiramente melhor (Figura 3).
[2] DAEE / SAISP: Departamento de Águas e Energia do Estado de São Paulo / Sistema de Alerta a Inundações de São Paulo.
[3] SABESP: Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo/Situação dos Mananciais.
[4] ANA: Agência Nacional de Águas.
Previsão de chuva
A região da bacia de captação do Sistema Cantareira se encontra, em teoria e levando em conta a época do ano, dentro do período chuvoso, caracterizado por precipitações relativamente frequentes e abundantes. Contudo, em função do comportamento das precipitações nas últimas semanas, a estação chuvosa pode estar sofrendo um encerramento ou declínio antecipado. Especificamente para os próximos 10 dias (Figura 4), as previsões do modelo GEFS/NOAA (50x50 km) indicam probabilidade de chuva na forma de pancadas, especialmente a partir dos dias 09 e 10 de março. Para a segunda semana (Figura 5), também são esperadas algumas precipitações, provavelmente com volumes totais próximos ou inferiores à média histórica para esta época do ano.

- Figura 4. Previsão de precipitação acumulada em milímetros (mm) nos próximos 3 (esquerda) e 10 (direita) dias para a bacia de captação do Sistema Cantareira, segundo a previsão do modelo numérico GENS/NOAA. A área da bacia de captação do Sistema Cantareira é indicada no centro da figura com linha preta espessa.

- Figura 5. Previsão de precipitação em milímetros (mm) acumulados (esquerda) e sua respectiva anomalia em relação aos valores climatológicos (direita) para a segunda semana de acordo com o modelo numérico GENS/NOAA.
Projeções de vazão afluente para os próximos meses
A Figura 6 apresenta as médias mensais de vazão afluente observada e, na sequência, projeções de vazão usando a média dos membros de previsão (06 a 15 de março de 2025) e, a partir do dia 16 de março foram considerados cinco cenários hipotéticos de precipitação: média histórica (1981-2024), 25% acima da média, 25% e 50% abaixo da média histórica e cenário crítico (mês chuvoso: março de 2012; e meses secos: abril a setembro de 2024).As simulações indicam que, no cenário de chuva na média histórica, a vazão afluente média, correspondente ao último mês chuvoso de 2025 será em torno de 40 m³/s, o que representa 69% da média histórica para este período. Para os cenários de precipitações 25% e 50% abaixo da média histórica, as simulações projetam vazões da ordem de 32 m3/s (55%) e 26 m3/s (44%), respectivamente. No cenário de precipitação crítica, ocorrido em 2012 (44% da média histórica), o modelo hidrológico aponta vazão média em torno de 29 m3/s, correspondente a 50% da média do período. Adicionalmente, em um cenário de chuvas mais otimista, 25% acima da média histórica, o modelo indica vazão média de 48 m3/s, equivalente a 81% da média histórica deste período. Destaca-se que, em todos os cenários de precipitações, o modelo hidrológico projeta vazões inferiores à média histórica para o período.
Considerando um horizonte de tempo maior, entre os meses secos de abril a setembro de 2025, de acordo com as projeções, para o cenário de chuva na média histórica, a vazão afluente ficará em torno de 28 m³/s, equivalente a 95% média histórica para este período. Nos cenários de precipitações 25% e 50% abaixo da média histórica, as simulações apontam vazões da ordem de 19 m³/s (65%) e 12 m³/s (42%) da média, respectivamente. Em um cenário de chuvas 25% acima da média histórica, o modelo projeta uma vazão média vazão média de 36 m³/s, caracterizando um valor de 25% acima da média histórica deste período. Um resumo de tais valores também podem ser visualizado na Tabela 1.

- Figura 6. Histórico (linhas contínuas) e simulação de vazão média mensal (em m³/s) afluente ao Sistema Cantareira (linhas tracejadas) considerando a previsão e cinco cenários de precipitação: 50% (verde) e 25% abaixo da média histórica (azul claro); na média histórica (cinza) e 25% acima da média histórica (azul escuro) e cenário crítico (laranja). As linhas espessas representam as vazões médias mensais observadas, de acordo com a SABESP: média histórica (preto); mínimos mensais (marrom); série de outubro de 2023 a setembro de 2024 (magenta); e série de outubro de 2024 a fevereiro de 2025 (roxo).
Projeções de volume armazenado para os próximos meses
A Figura 7 apresenta as projeções da evolução do volume útil armazenado nos reservatórios do Sistema Cantareira utilizando: (i) previsão e projeções de vazão afluente; (ii) vazão de extração para a estação elevatória Santa Inês (Q esi) de acordo com as regras condicionais estabelecidas pela Resolução conjunta ANA/DAEE Nº 925/2017 (foram aplicados valores médios entre as faixas); (iii) aporte médio de 5,13 m3/s proveniente da interligação entre o Sistema Paraíba do Sul e o reservatório Atibainha durante os meses de março a setembro de 2025, conforme a Resolução Conjunta ANA 1.931/17 e; (iv) vazão defluente (Q jusante) para as bacias do PCJ (rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí) de 4,9 m³/s e 9,4 m³/s para estação chuvosa e seca, respectivamente, valores médios referentes ao período de 2023/2024.
Considerando um cenário hipotético de precipitação na média histórica, por exemplo, as projeções indicam que, os reservatórios estariam no final da temporada chuvosa de 2024/2025 (março de 2025) na faixa de operação “Normal” (armazenamento entre 60% e 100%), com 62% do seu volume útil” (Tabela 01). Por outro lado, nos cenários de precipitação 25% e 50% abaixo da média, os reservatórios continuariam, no final de março, na faixa de operação “Atenção”, com 60% e 59% do volume útil, respectivamente. Adicionalmente, para o cenário de precipitação crítica, igual ao ocorrido em 2012, o volume projetado pelo modelo hidrológico no final de março é de 59% da capacidade total do sistema, também na faixa de operação “Atenção”. Em contrapartida, no cenário de chuvas mais otimista, 25% acima da média histórica, o modelo indica que os reservatórios estariam no final de março de 2025 na faixa de operação “Normal”, alcançando um valor de 64% da capacidade total.
Considerando um horizonte de tempo maior, para o cenário hipotético de precipitação na média histórica, as projeções indicam que, os reservatórios estariam no final do horizonte de projeções (30 de setembro de 2025), na faixa de operação “Atenção”, com 52% do seu volume útil. Nos cenários de precipitação 25% e 50% abaixo da média, os reservatórios estariam, no entanto, ao final de setembro, nas faixas de operação “Alerta” (armazenamento entre 30% e 40%) e “Restrição” (armazenamento entre 20% e 30%), com 38% e 27% do volume útil, respectivamente. Adicionalmente, para o cenário de precipitação crítica, igual ao ocorrido em 2024 (35% da média histórica), o volume projetado pelo modelo hidrológico no final de setembro é de 29% da capacidade total do Sistema, também na faixa de operação “Restrição”. Em um cenário de chuvas mais otimista, 25% acima da média histórica, o modelo indica que os reservatórios estariam até o final do horizonte de projeções na faixa de operação “Normal”, alcançando um valor de 65% da capacidade total, em 30 de setembro.
Salienta-se que, para o cenário de precipitação igual a média histórica, entre abril e setembro de 2025, o volume armazenado no Sistema Cantareira, no final do horizonte de projeção (setembro), estaria na mesma faixa de operação que à atual, e em um patamar ligeiramente superior comparativamente ao registado no mesmo período de 2024 (51%, faixa de operação “Atenção”).
É importante destacar que, esses cenários podem ser modificados de acordo com mudanças na vazão de interligação com a bacia do Rio Paraíba do Sul, bem como as extrações do Sistema a serem praticadas pelo operador, nos próximos meses.

- Figura 7. Projeções de armazenamento do Sistema Cantareira (linhas tracejadas) para cinco cenários de precipitação: 50% (verde) e 25% (azul claro) abaixo da média histórica, na média histórica (cinza) e 25% acima da média histórica (azul escuro) e cenário crítico (laranja). Nessas simulações foi considerada uma vazão média de aporte da interligação com a bacia do rio Paraíba do Sul de 5,13 m³/s, entre fevereiro e setembro de 2025, de acordo a Resolução conjunta ANA 1.931/17. A linha magenta mostra a evolução do armazenamento observado do Sistema Cantareira de outubro de 2023 a setembro de 2024 e a linha roxa no período outubro de 2024 a fevereiro de 2025. As faixas coloridas referem-se às faixas de operação do reservatório de acordo com a resolução conjunta da ANA/DAEE Nº 925/2017.
