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Primeiro dia do Seminário Desafios da Democracia Brasileira movimentou o público com o tema “Guerra Cultural”
O primeiro dia do Seminário Desafios da Democracia Brasileira na Fundação Casa de Rui Barbosa foi marcado por uma importante e potente discussão. O evento propôs uma análise aprofundada da Guerra Cultural como estratégia política e ideológica no Brasil contemporâneo. O debate buscou elucidar as origens e a retórica desse fenômeno - como o ressurgimento das novas formas de populismo de extrema-direita - e suas implicações para a democracia e as instituições nacionais.
A conferência de abertura Democracia por um triz: Guerra Cultural e Terrorismo Doméstico, com o professor João Cezar de Castro Rocha, deu um robusto panorama sobre como as forças antidemocráticas se articulam para elaborarem suas estratégias e se posicionarem nas trincheiras desse conflito: “Na guerra cultural, a extrema-direita se apropria de discursos e de conceitos com a finalidade de virá-los pelo avesso, por meio do metódico esvaziamento de seu conteúdo original. Não é difícil entender a razão pela qual a invenção sistemática é um instrumento poderoso na criação do caos cognitivo.”, concluiu.
Na sequência, a mesa de debates Guerra Cultural e o Desafio Democrático recebeu o advogado e ex-deputado constituinte Aldo Arantes, a professora de Relações Internacional da UFRRJ Maria Villarreal, o professor e pesquisador da FCRB Christian Lynch e o cientista político e professor da UnB, Luís Felipe Miguel.
Para Aldo Arantes, a maior ameaça que pesa sobre a democracia é a guerra cultural. De acordo com o advogado e ex-deputado, trata-se de uma luta ideológica do neofascismo, “onde a disputa de ideias se dá mais no plano da emoção, do ódio, da violência do que no plano da razão”, classificou. Arantes também pontuou que: “A guerra cultural visa substituir uma concepção de democracia por uma concepção reacionária e negacionista. Essa concepção nega a ciência, a história, nega a verdade dos fatos. Para a direita autoritária não existem fatos, mas interpretação ideológica dos fatos.”.
Maria Villarreal chamou a atenção para a realidade onde essas narrativas ideológicas se traduzem em ações concretas: “Só para citar alguns exemplos, o Ministério das Mulheres foi fechado na Argentina, no Panamá e no Equador. Tivemos recentemente a eliminação de ministérios da cultura e a reestruturação de ministérios na área ambiental. Nós estamos assistindo a um processo de reorganização das prioridades, onde esse discurso negacionista acaba sendo incorporado e concretizado para se tornar política pública.”.
Apresentando um contexto histórico, Christian Lynch traçou uma linha temporal e política, que incluiu noções de Estado e cristianismo para entender as origens da Guerra Cultural. “Sua origem encontra lugar nessa ideia de que é necessário restaurar o primado de uma ordem cristã no mundo e que é preciso agir de forma intransigente, contra tudo, na verdade, tudo que representa a sociedade moderna.”.
Finalizando o debate, Luís Felipe Miguel pontuou que o que alimenta a Guerra Cultural é a erosão de consensos. De acordo com o cientista político, “Em particular o consenso que organizava a disputa política por meio de uma gramática de direitos. No caso brasileiro, essa foi a grande conquista da Constituição de 1988. Com todas as suas contradições e limites, a Constituição de 1988 abriu o caminho para que se pudesse organizar a disputa política por meio de uma linguagem que evocasse direitos. E é isso que vai se perdendo com o avanço da extrema-direita.”.
Ao reunir pesquisadores, intelectuais e formuladores de pensamento crítico, a Fundação Casa de Rui Barbosa reafirma seu compromisso histórico com a defesa da democracia, da cultura e do livre debate de ideias. A realização de uma discussão dessa magnitude em sua sede reforça o papel da instituição como centro de pensamento e produção de conhecimento comprometido com o fortalecimento das instituições democráticas e com a promoção de um ambiente intelectual voltado à compreensão dos desafios contemporâneos do Brasil.
O Seminário Desafios da Democracia Brasileira da Fundação Casa de Rui Barbosa conta com o apoio da Associação Juízas e Juízes Para a Democracia, do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos (IBEP), da Associação Nacional dos Especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governamental (ANESP) e do Centro de Estudos Nacionais Autônomos (CENA).
Sobre o Programa Rui Barbosa e o Tempo Presente (Pro-Rui)
O Pro-Rui é uma iniciativa da Fundação Casa de Rui Barbosa dedicada à pesquisa, debate e difusão de questões centrais do mundo contemporâneo, como diversidade cultural, transição ecológica, desigualdade social, novas tecnologias, governança democrática e transformações geopolíticas. O programa promove seminários, colóquios, cursos, conferências e pesquisas em parceria com instituições de ensino e pesquisa do Brasil e do exterior, funcionando ainda como espaço de intercâmbio internacional e estímulo à produção de novas ideias e interpretações sobre os desafios do presente. Suas atividades também abrangem a disseminação de resultados junto à comunidade acadêmica e à sociedade por diversos meios, reforçando a missão da Fundação de fomentar a cultura, a pesquisa e o pensamento crítico.