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Casa Rui no Capanema: momento histórico para a cultura brasileira
- Foto: Marcela Canéro
Na tarde desta terça-feira (20), o Palácio Gustavo Capanema, no Centro do Rio de Janeiro, foi reaberto ao público após uma década fechado, em um evento que simbolizou a retomada das políticas culturais no Brasil. O edifício modernista, restaurado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), passa a abrigar instituições como o próprio Iphan, a Biblioteca Nacional, a Fundação Nacional de Artes (Funarte) e a Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB), que contará com um espaço permanente no local.
A cerimônia contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, da ministra da Cultura, Margareth Menezes, do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, além de artistas, autoridades e representantes do setor cultural. A ocasião marcou também a retomada da Ordem do Mérito Cultural (OMC), principal honraria pública do setor, suspensa desde 2019, e que este ano homenageou 112 pessoas físicas e 14 instituições.
“A cultura tem um papel extraordinário na defesa da democracia. Porque a cultura de um povo é uma força coletiva tão poderosa, que estará sempre na linha de frente contra qualquer regime de exceção”, destacou o presidente Lula.
Segundo o presidente, “a democracia também não será plena enquanto o povo brasileiro não tiver acesso e participação na cultura de seu país. A cultura é uma força coletiva, revolucionária, que mantém viva a esperança e a liberdade do nosso povo", completou.
Para a ministra Margareth Menezes, o retorno do edifício à vida pública tem um significado histórico e simbólico profundo: “O Palácio que o governo anterior tentou vender, hoje está de volta ao povo brasileiro. E só estamos aqui porque resistimos. Porque houve quem lutasse para mantê-lo em pé, público, democrático”, disse.
O evento integrou a programação comemorativa dos 40 anos do Ministério da Cultura, criado em 1985, e teve como tema “Cultura é Democracia”. Como destacou o presidente Lula: “Democracia é mais do que o direito de escolher quem governa. É acesso pleno à saúde, à educação, à cultura. É um país em que todos e todas podem viver com dignidade e expressar sua identidade.”
O prefeito Eduardo Paes também celebrou a reativação do Palácio: “O Rio de Janeiro tem a vocação de ser a parte que reúne o todo. Quando defendemos a cultura, defendemos a verdade do Brasil. O Capanema é símbolo da nossa modernidade, da nossa coragem e da capacidade de sonhar com o futuro”, afirmou.
Fundação Casa de Rui Barbosa no Capanema
A FCRB amplia sua atuação com o novo espaço no Capanema, descentralizando atividades e reforçando seu papel na promoção da cultura, da memória literária e das políticas culturais. A sede da Cátedra Unesco de Políticas Culturais e Gestão passa a funcionar no local, reafirmando o compromisso da Fundação com a produção de conhecimento e o pensamento crítico no campo das políticas culturais. Estão previstas atividades formativas, seminários, cursos, exposições e eventos acadêmicos que aproximam o público da literatura brasileira e da história cultural do país.
Entre os destaques está a criação de um espaço expositivo dedicado ao Arquivo-Museu de Literatura Brasileira (AMLB), com foco na relação entre modernismo, literatura e memória. A proposta homenageia a trajetória de Carlos Drummond de Andrade, que atuou como chefe de gabinete de Gustavo Capanema no próprio edifício e foi o idealizador do AMLB, tendo doado seu acervo pessoal à Fundação. A ocupação da FCRB resgata, assim, uma conexão histórica e simbólica entre o poeta, o modernismo e as instituições culturais brasileiras.
Segundo o presidente da FCRB, Alexandre Santini, a presença da instituição no edifício representa um compromisso com o futuro: “Retomar o Capanema é retomar um projeto de país que valoriza a cultura, a educação e o patrimônio público como bens coletivos e direitos de todas as pessoas”, afirmou.
O restauro do edifício recebeu investimento de R$ 84,3 milhões por meio do Novo PAC, com intervenções que incluíram a modernização das instalações elétricas, hidráulicas, climatização, sistema de combate a incêndio, além da restauração de luminárias, persianas, mobiliário original e dos jardins de Burle Marx. Obras de arte do acervo, como as de Cândido Portinari e esculturas de Bruno Giorgi, também estão sendo restauradas.
Reerguido, restaurado e reocupado, o Palácio Gustavo Capanema volta a ser um centro simbólico da cultura brasileira — um espaço de memória, futuro e resistência.