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COMEMORAÇÃO
Escola de Inteligência completa 25 anos
A Escola de Inteligência (Esint) da ABIN completa 25 anos nesta quinta-feira – 29 de maio. A semana repleta de eventos em celebração à data foi encerrada nesta manhã com o descerramento da placa alusiva aos 25 anos desde sua criação. A placa ressalta que “a Esint é referência na formação de servidores comprometidos com a ética, a legalidade e os valores democráticos, fortalecendo a Atividade de Inteligência de Estado profissional, transparente e fiel ao interesse público”.

Nas palavras da diretora da Escola, Anna Cruz, “encontramos na Esint o DNA que nos faz profissionais de Inteligência, retiramos daqui os cromossomos que nos dão nossos traços distintivos das demais carreiras, que nos irmanam, a todos nós, no sobrenome ‘servidor da ABIN’”.
Para o diretor-geral da ABIN, Luiz Fernando Corrêa, a Escola tem o papel de tornar perenes os valores da Agência. “Os valores de uma instituição se consolidam com o passar das gerações e se interiorizam com a formação e constante atualização. A Escola de Inteligência é a garantia do olhar permanente sob esses valores e, a partir deles, a ABIN se reposiciona”, declarou.
As realizações da Esint ao longo dos últimos 25 anos refletem a integração entre a Escola e a sociedade brasileira. A Esint tem inovado ao promover a publicação de documentos estratégicos de Inteligência, pesquisas, cursos, parcerias, dentre outros, que em comum elevam o patamar da ABIN, ao colocar a instituição a serviço do Estado.

Documentos públicos
A Esint deu mostras de seu amadurecimento ao publicar pela primeira vez na história da ABIN documento de caráter público dedicado a analisar uma série de desafios apresentados à Atividade de Inteligência. Eles foram apontados na obra “Desafios de Inteligência - Edição 2025”, sendo os cinco principais desafios para a Inteligência no Brasil: segurança das instituições democráticas; segurança cibernética; resiliência de setores estratégicos; mercados ilícitos e crime organizado transnacional; espionagem e interferência externa.
Ainda com relação a documentos especiais voltados ao público externo, a Escola realizou uma série de publicações nos últimos anos contribuindo para transparência pública, como o livro “Memórias da Pandemia”. A obra narra os detalhes do trabalho de Inteligência feito pela ABIN para apoiar o combate à emergência sanitária no período de 2020 a 2021. Nas suas 224 páginas, o livro traz relatos de servidores, gráficos e imagens de relatórios.
Nessa mesma linha, foi publicado o livro “Inteligência na Democracia”, organizado em capítulos escritos por profissionais de Inteligência e acadêmicos, reunidos em um esforço de reflexão sobre o passado e o futuro da atividade no Brasil. As contribuições tratam de temas relevantes para a Inteligência, como a relação entre Inteligência e regimes políticos, controle, cooperação interagências, o papel da Inteligência na democracia, o ensino da atividade, o debate público sobre a agenda de Inteligência e desafios tecnológicos.
No âmbito do Projeto de Reformulação da Arquitetura e Modernização da Doutrina de Inteligência, concluindo um trabalho de anos de revisão e aprimoramento doutrinário, a Escola lançou nova edição da “Doutrina de Inteligência” em 2023. Pela primeira vez a Doutrina se tornou pública e disponibilizada no site da ABIN para acesso de todos.
Como parte do esforço contínuo da Esint para aproximar a ABIN da sociedade e fomentar a cultura de Inteligência, todas essas publicações encontram-se à disposição do público na internet (gov.br/abin).
A Revista Brasileira de Inteligência (RBI), criada em 2005, também foi repaginada, passando a aceitar contribuições a qualquer momento e a adotar o modelo de publicação contínua, no qual os artigos aceitos são disponibilizados imediatamente no site da própria revista: rbi.abin.gov.br.
História e pesquisa
Criado em 2006, o Museu da Inteligência conta a história da Atividade de Inteligência no Brasil e mostra ao público o trabalho realizado pela ABIN em diferentes áreas. É recorrente a visita de profissionais da segurança pública e defesa civil e nacional em cursos de formação ou aperfeiçoamento, bem como de grupos de estudantes de escolas de ensino fundamental e médio e de faculdades. O museu também ganhou um tour virtual, de fácil acesso no site da ABIN.
Por meio do ABIN Convida, a Esint promove mensalmente encontros entre os servidores da Agência e acadêmicos, estudiosos e agentes políticos para discussão sobre temas de relevância para a Inteligência e para o Brasil. Uma das diretrizes que orientam os encontros é a interação com a sociedade, visando ao fortalecimento da democracia e ao aprimoramento da Atividade de Inteligência. O último encontro, realizado na quarta-feira, 28 de maio, promoveu debates em meio à construção do Fórum de Escolas do Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin).
O Núcleo de Pesquisa em Inteligência (Nupi) foi instituído pela Política de Pesquisa da Escola de Inteligência para promover os esforços de pesquisa em Inteligência da Esint. O Nupi organiza-se em grupos de pesquisa nas linhas de Estudos de Inteligência, Temas de Inteligência e Estudos de Futuro, contando com mais de 80 pesquisadores associados da sede e das superintendências.
Artigo da diretora da Esint
Escola de Inteligência: passado e futuro
"O curso de uma história de milhões de anos da humanidade foi profundamente impactado pelo cultivo da terra e o disciplinamento de seus tempos, o que permitiu, há cerca de dez mil anos, que as pessoas se aldeassem, dominassem uma área, estabilizassem suas vidas num local. Gosto de imaginar que uma outra revolução aconteceu naquele mesmo instante, embora os livros a datem - eu me divirto avaliando que erroneamente - na Antiguidade Clássica, na Academia de Atenas, ou nos mosteiros medievais.
Na minha convicção, a Escola surgiu junto com a agricultura, de uma analogia óbvia logo identificada por alguma alma sensível entre a pá que lavra a terra e a palavra que lavra mentes; o arar dos campos para a florada de alimentos, o arejar de cabeças para a nutrição de ideias; o alimento compartido fazendo crescer civilizações, o conhecimento partilhado para o mesmo propósito.
Tão logo homens e mulheres tiveram um endereço fixo, penso que construíram uma parede meeira para um lugar privilegiado, separado mas contíguo, onde se podia pensar livremente, falar daquelas novas experiências e aprimora-las com crítica sincera e ação cotidiana. Assim, na minha crença, a Escola é uma criação do Neolítico e somos nós todos filhos dela, pedras um pouco polidas apenas porque ela existe.
A Escola da Agência Brasileira de Inteligência é um poucochinho mais nova que isso: a Esint completa 25 anos também polindo dúvidas lascadas - e “lascada” em minha terra natal tem um sentido peculiar, que aqui também cabe.
Ainda não termino minha comparação com eras tão remotas, porque não somos mais homens e mulheres pré-históricos e muito menos a-históricos: porque somos sujeitos conscientes de nossa inscrição histórica, precisamos ainda mais da Escola.
A redefinição das expectativas sobre a atividade de inteligência no regime democrático brasileiro após décadas de uma vivência autoritária foi moldada pela opinião pública e pelos estudiosos deste campo, mas as expectativas só puderam virar realidade profissional porque uma Escola criada no início do ano 2000 recrutou régua e compasso, projeto pedagógico e servidores para essa mudança.
Na Esint não se repete a façanha de Paulo Freire, ensinando a ler em 40horas, afinal recebemos adultos ingressos de concursos públicos, todos com formação de escol, mas nos comprometemos que em nossos individuais 30, 40, por vezes 50 anos de serviço público estaremos continuamente reaprendendo a ler o mundo, com a paixão de Angicos.
Nos últimos 25 anos, revoluções várias, globais, seguiram seu curso. Elas afetaram e afetam, pervasivas, modos de vida, organização de poder e também a maneira como indivíduos aprendem, o conteúdo que deve ser aprendido, o papel dos professores - no entanto, algo não muda: a Escola é proeira na navegação desses tempos de incerteza, impõe a si o dever de não dormir e ter o primeiro olhar para gritar aos demais “terra a vista” e guiar-nos ao solo, ainda que nem sempre muito firme.
Em meio a muitas analogias, elas mesmas bichinhos criados em Escolas como recursos didáticos, concluo agora com uma esplanada de constatações objetivas: a atividade de inteligência para assessoramento na tomada de decisões informada e soberana é crescentemente necessária para fazer frente a desinformação, manipulações e concentração de poder; o ensino e a pesquisa sobre essa atividade são fundamentais para sua profissionalização e seu exercício com correção técnica e ética; a iniciativa de extensão da Esint é mecanismo de aproximação e de entendimento mútuo entre a sociedade brasileira, os agentes políticos, os acadêmicos e os praticantes da atividade; a evolução doutrinária é condição de prática segura e atualizada; o registro histórico é uma responsabilidade social inegociável - nada disso existirá sem Escola, que precisa de reconhecimento não apenas afetivo, mas também orçamentário, social e político (se quisermos, mesmo, sair das cavernas da ignorância)".
Anna Cruz
Diretora da Esint
