ABIN na COP30
Em novembro, quando os olhos do mundo se voltarem para Belém, no Pará, onde será realizada a 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30) — a mais importante Conferência Global sobre Mudança do Clima —, não estarão em jogo apenas acordos climáticos, mas também a capacidade do Brasil de assegurar que o evento ocorra de forma segura, organizada e soberana.
É um trabalho complexo e, sobretudo, estratégico, que envolve antecipação de cenários complexos multifatoriais. É função dos serviços de Inteligência antecipar riscos e oportunidades, em prol dos interesses do Estado brasileiro e da autonomia informacional das autoridades brasileiras. No Brasil, essa função está a cargo da Agência Brasileira de Inteligência, que leva para a COP30 a experiência de assessoramento em outros grandes eventos ocorridos no país.
Além das atribuições de coleta e análise de informações estratégicas assessorar as principais autoridades do país na tomada de decisões e na antecipação de riscos, também é competência da ABIN a Contrainteligência – ou seja, a prevenção, identificação, avaliação, obstrução e neutralização de ações de espionagem, interferência externa, sabotagem e outros atos executados por atores adversos que representem ameaça a interesses do Estado e da sociedade; ao processo decisório; e à salvaguarda de conhecimentos, informações e dados sensíveis.
Inteligência como assessoramento estratégico
O papel da Inteligência em um evento como a COP30 é produzir conhecimento oportuno que subsidie decisões do governo brasileiro em dois eixos essenciais: assessoramento em temas estratégicos da agenda negociadora e assessoramento estratégico em segurança, infraestrutura e logística do evento.
A ABIN atua no acompanhamento de pontos críticos para a infraestrutura relacionada ao evento e para a mobilidade urbana, na avaliação de vulnerabilidades e na identificação de fontes de ameaças, intencionais ou não, à COP30. É um trabalho articulado com outros órgãos da estrutura governamental nos níveis federal, estadual e municipal.
Antes, durante e depois
Antes do evento, as ações da ABIN concentram-se na produção de análises prospectivas e de assessoramento aos órgãos responsáveis pela organização do evento. Isso inclui a identificação e o acompanhamento de riscos às infraestruturas críticas, a identificação de ameaças potenciais, como ciberataques e ações de grupos extremistas violentos, além do mapeamento do ambiente internacional de negociação e de assuntos estratégicos para o posicionamento brasileiro na agenda negociadora.
Durante a COP30, o foco passa para o acompanhamento em tempo real, com o estabelecimento do Centro Local de Inteligência. A Inteligência acompanha as alterações no ambiente de risco e os eventos que possam impactar a segurança, a mobilidade ou a fluidez do evento. Dentro desse escopo, é papel da Inteligência de Estado fornecer alertas e atualizações constantes às autoridades governamentais para tomada de decisões rápidas.
Após o evento, o trabalho não cessa. Como órgão de assessoramento estratégico, a ABIN analisa as discussões e decisões da Conferência que possam impactar a posição do Brasil no cenário climático internacional.
Infraestrutura e logística
Garantir que a cidade de Belém comporte a chegada de milhares de pessoas, entre autoridades e sociedade civil, envolve uma série de desafios. A Inteligência atua no assessoramento antecipado sobre riscos à infraestrutura, avaliando a resiliência dos sistemas de abastecimento de água, energia, transporte e comunicações. Também realiza análise de ameaças cibernéticas, que podem comprometer desde sistemas de controle aéreo até redes de comunicação governamentais. Não se trata apenas de evitar ataques, mas de antecipar gargalos logísticos que podem impactar a realização adequada do evento.
Segurança
Em um ambiente internacional que reúne chefes de Estado, negociadores e sociedade civil, a gestão de riscos à segurança das pessoas é central. A ABIN tem o papel de monitorar possíveis ameaças terroristas, ações de grupos extremistas — com base nas diretrizes da versão atualizada do Protocolo de Prevenção de Ameaças do Extremismo Violento— e eventos que possam gerar riscos para a sociedades civil e para a logística do evento.
Agenda climática
Uma das funções mais sensíveis da Inteligência em eventos como a COP30 é assessorar o governo em temas estratégicos da própria agenda climática, o que envolve avaliação do cenário global e a construção de cenários sobre os desdobramentos dos acordos e deliberações. A Conferência é ambiciosa nas metas de financiamento climático, por exemplo. O Brasil terá o desafio de conciliar anseios externos com os seus próprios interesses, de modo a integrar as soluções para as questões climáticas e, ao mesmo tempo, manter a sua soberania.
Soberania e imagem
A atuação da ABIN na COP30 é um componente essencial de promoção da soberania nacional. Sem um sistema robusto de Inteligência de Estado, o Brasil fica mais vulnerável a dinâmicas e pressões externas, ataques a infraestruturas, incidentes logísticos e narrativas que possam comprometer sua imagem do país no cenário internacional.
A COP30 será, sem dúvida, uma grande vitrine para o país – com lente de aumento em desafios de infraestrutura e logística, em questões securitárias e na capacidade de articulação do país para acordos climáticos. O sucesso do Brasil na condução do evento com segurança, organização e protagonismo também está associado ao trabalho silencioso e indispensável de sua Inteligência de Estado.