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ABIN apresenta Desafios de Inteligência para 2026
Na semana de comemoração do 26º aniversário da ABIN, a Inteligência brasileira torna público o documento “Desafios de Inteligência – Edição 2026”, publicação que antecipa os riscos diretos e indiretos à segurança do Brasil para o próximo ano.
A ABIN destaca cinco desafios para a Inteligência em 2026: segurança do processo eleitoral, transição para a criptografia pós-quântica, ataques cibernéticos autônomos com agentes de inteligência artificial, reconfiguração das cadeias de suprimento globais e interferência externa por atores não estatais.
A série Desafios de Inteligência, que teve início em 2025, é realizada por uma coprodução envolvendo analistas da ABIN, especialistas de universidades, instituições de pesquisa e agências governamentais. A presente edição foi elaborada a partir de consultas prévias estruturadas a especialistas sobre clima, tecnologia, demografia, saúde, migrações, situação internacional e regional. Destaca-se a contribuição dos pesquisadores integrantes da Rede de Pesquisa em Inteligência Estratégica, estabelecida em maio de 2025 pela Escola de Inteligência (Esint).
Ao elaborar documentos como este, a ABIN busca cumprir a missão de zelar pela segurança da sociedade brasileira, ao contribuir para o debate e a formulação de políticas de Estado resilientes e para a projeção dos interesses nacionais em um mundo em transformação. Para tanto, produz conhecimento especializado sobre riscos, vulnerabilidades e ameaças — focos da atuação dos órgãos de Inteligência.
A publicação está disponível para download no repositório da Enap no link abaixo:
https://repositorio.enap.gov.br/handle/1/9285
O que esperar de Desafios de Inteligência 2026
A análise parte da constatação de que o mundo atravessa um período de profunda reconfiguração, impulsionado pela confluência de três transições globais interdependentes — climática, demográfica e tecnológica.
O documento examina as implicações de cada uma dessas transições para a segurança nacional, demonstrando como as mudanças no clima, na estrutura populacional e na tecnologia geram riscos e oportunidades sistêmicas. Em seguida, avalia a nova dinâmica do sistema internacional e suas repercussões para o entorno estratégico sul-americano, um espaço cada vez mais permeável às disputas geopolíticas globais. Por fim, aprofunda a análise sobre desafios de Inteligência específicos e de alta criticidade que deverão concentrar atenções e recursos por parte da Inteligência brasileira em 2026.
A atualização não implica que os desafios apontados no ano anterior deixaram de ter relevância. Pelo contrário, o aprofundamento das análises evidencia sua persistência e transversalidade, como é o caso do enfrentamento dos mercados ilícitos e do crime organizado, tema destacado na edição passada. Os acontecimentos do fim de 2025 confirmam os riscos apontados na edição anterior e evidenciam o papel central da Inteligência para o enfrentamento do crime organizado.
Leia o resumo dos desafios apontados para 2026:
Segurança do processo eleitoral 2026
Ameaças nesse sentido incluem ações de deslegitimação do modelo eleitoral, campanhas de desinformação (com manipulação por meio de ferramentas tecnológicas), ações de interferência externa e aprofundamento da polarização social (com instrumentalização político-eleitoral de diversos segmentos da população), além da atuação do crime organizado e de potenciais ações de extremismo violento.
Transição para a criptografia pós-quântica
Embora ainda em desenvolvimento, computadores quânticos têm potencial para resolver classes específicas de problemas muito mais rapidamente que as máquinas usadas atualmente. Essa capacidade compromete, em particular, grande parte da criptografia de chaves públicas utilizada hoje, o que altera pressupostos de segurança em larga escala. Adversários podem armazenar hoje comunicações e dados protegidos pelos algoritmos atuais e decifrá-los no futuro, quando computadores quânticos possuírem capacidade computacional suficiente. Informações de longo prazo de sensibilidade — diplomacia, defesa, fontes e métodos de Inteligência, dados pessoais — permanecem valiosas por anos ou décadas.
Ataques cibernéticos autônomos com agentes de inteligência artificial
A transição de ferramentas de IA de meras facilitadoras de atividades cotidianas e/ou repetitivas para agentes ofensivos autônomos capazes de operar — planejar, executar e adaptar ataques sem intervenção humana contínua — estabelece um novo e perigoso paradigma de ameaça para setores estratégicos e infraestruturas críticas.
Reconfiguração das cadeias de suprimento globais
As cadeias globais de suprimentos, ou também cadeias globais de valor, constituem um dos elementos centrais da organização econômica contemporânea. Elas se caracterizam pela fragmentação internacional da produção em etapas dispersas geograficamente, coordenadas por grandes corporações transnacionais, de acordo com vantagens comparativas em custos, acesso a insumos e capacidades tecnológicas.
Interferência externa por atores não estatais
Como atores não estatais, mas ligados a territórios e estruturas legais, burocráticas e repressivas de natureza estatal, as big techs atuam tanto com interesses próprios quanto, em arranjos complexos, como vetores de influência de seus países-sede. O Brasil possui um mercado digital robusto, mas ainda busca maior autonomia no desenvolvimento, na produção e na implementação de tecnologias críticas para reduzir a dependência em relação a tecnologias, conhecimentos e inovações controlados por atores externos. Nesse contexto, a arquitetura de dependência tem nas big techs um de seus pilares, impondo-se ao Brasil um desafio multifacetado de soberania.