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Tecnologista do Ibict profere conferência de encerramento da 16ª ConFOA
No dia 11 de setembro, o tecnologista do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), André Appel, proferiu a conferência de encerramento da 16ª Conferência Lusófona de Ciência Aberta (ConFOA), realizada em Goiânia.
Com o tema “O valor do diamante no mercado da comunicação científica”, a conferência aconteceu no auditório da Escola de Formação de Professores e Humanidades da PUC Goiás e abordou o histórico do Acesso Aberto Diamante, seus desafios e potenciais, enfatizando sua importância como uma alternativa equitativa na comunicação científica.
O Acesso Aberto pode ser compreendido em três vertentes: tecnológica (relacionada às plataformas e infraestruturas digitais), ativista (impulsionada por ideais de compartilhamento e acesso livre ao conhecimento) e de modelo de negócio comercial.
O Acesso Aberto Diamante (Diamond Open Access) refere-se a um modelo de publicação acadêmica no qual periódicos e plataformas não cobram taxas nem de autores nem de leitores, posicionando periódicos e plataformas como um bem comum no ecossistema da pesquisa científica.
O movimento de Acesso Aberto tem raízes que remontam ao início dos anos 1990, com a proposta de uso eficiente da internet para disseminação de trabalhos por pesquisadores. O Brasil possui iniciativas pioneiras como Bioline (1993) e SciELO (1998), que já praticavam um modelo similar ao Acesso Aberto Diamante — sem custos para autores ou leitores — muito antes da formalização do termo.
Em 2002, com a Declaração de Budapeste, foi fixado o nome do movimento e a ideia dos commons (bens comuns), inspirada no conceito de copyleft e código aberto, promovendo a disponibilização e reutilização de criações intelectuais com atribuição de crédito. A segunda edição da Cúpula Global de Acesso Aberto Diamante, realizada em 2023, reforçou a ideia do periódico diamante como um bem comum, alinhado às recomendações da UNESCO e com compromissos com a diversidade, equidade e inclusão.
Durante sua apresentação, Appel compartilhou os resultados de um estudo realizado por ele e uma equipe de pesquisadores, ainda não publicado. O estudo foi baseado em dados do OpenAlex e levantamento de dados (survey) com editores e revelou características importantes dos periódicos diamante no Brasil como tamanho e diversidade, distribuição geográfica, áreas de conhecimento e idiomas.
“O estudo revela que o Brasil se destaca no cenário diamante, junto com a Indonésia, diferentemente do cenário com APCs (que cobram taxas de publicação), em que Reino Unido, Suíça e Holanda concentram as publicações”, diz Appel.
Para o especialista, os periódicos de Acesso Aberto Diamante possuem imenso valor, mas enfrentam diversos desafios, que vão desde questões operacionais, falta de estatísticas de acesso, sustentabilidade econômica e dependência do trabalho voluntário, até a necessidade de reconhecimento e adaptação a sistemas de avaliação.
A criação de infraestruturas compartilhadas e a melhoria da qualidade dos metadados na origem para facilitar a indexação por ferramentas agregadoras, são vistas por Appel como essenciais para fortalecer o modelo e reduzir a dependência de bases de dados comerciais. “Precisamos criar elos locais, mas que estejam muito bem alinhados às infraestruturas globais. Eu acho que esse é um dos aspectos mais importantes porque pode fazer a diferença no contexto das revistas diamante”, reflete André Appel.
A estratégia mais eficaz para fortalecer o modelo, segundo o palestrante, é trabalhar em políticas locais de Acesso Aberto, como as de universidades, que estejam bem alinhadas e compartilhadas com infraestruturas globais. Exemplos como a Fiocruz, no Brasil, mostram que políticas locais robustas facilitam a indexação e dão visibilidade à produção, evitando a dificuldade e onerosidade de acordos nacionais.
André Appel é tecnologista do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict). É bibliotecário, gestor da informação e mestre e doutor em Ciência da Informação pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia e Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGCI-Ibict/UFRJ). Atua desde 2007 em pesquisas sobre comunicação científica, periódicos científicos, acesso aberto e gestão da informação em ciência e tecnologia.