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Fundação celebra “As 7 vidas de Edson Nery da Fonseca”
O escritor e bibliotecário de Edson Nery da Fonseca (1921—2014) poderia ser reconhecido pai da Biblioteconomia no Brasil. No próximo dia 6, se vivo estivesse, o autor de “Introdução à Biblioteconomia” (Briquet de Lemos, 2007) e um dos principais especialistas na obra do sociólogo Gilberto Freyre completaria seu primeiro centenário de vida. Por ocasião desta marca, a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), por meio da Diretoria de Memória, Educação, Cultura e Arte (Dimeca), lança uma programação semanal de atividades: de 30 de novembro a 6 de dezembro. Dentre os destaques, a Exposição fotográfica “As 7 vidas de Edson Nery da Fonseca”, que versa entre a paixão do homenageado por felinos e sua versatilidade.
“As setes vidas de Edson Nery da Fonseca se manifestam nas sete faces de um autor devoto do catolicismo, de Gilberto Freyre, da literatura, das bibliotecas e da poesia. Não menos na virtude com que exerceu a docência universitária e a administração pública”, aponta o diretor da Dimeca, Mario Helio. Edson foi superintendente do Instituto de Documentação (atual Centro de Documentação e Estudos da História Brasileira), da Fundaj, recorda o diretor. “Foi também um dos conferencistas e leitores de poesia mais brilhantes do país, teve entre seus grandes amigos, além de Gilberto Freyre, Otto Maria Carpeaux, Antonio Houaiss, Manuel Bandeira, Cassiano Nunes, David Mourão-Ferreira e tantos outros.”
A partir desta terça-feira (30), a série documental “As 7 vidas de Edson Nery da Fonseca” ganha um episódio diário virtualmente, no canal da Fundaj, no YouTube, sempre às 17h. São depoimentos sobre nuances do homenageado, divididos por quem conviveu ou tem alguma relação com sua obra e legado. Na data do aniversário propriamente, a comemoração ganha a Rua de São Bento, em Olinda, onde ele viveu os últimos anos de sua vida. Um concerto de música erudita ocupa o Mosteiro de São Bento, às 17h. Na sequência, às 18h, o Ateliê Arte Machê Café, número 90 da Rua de São Bento, acolhe a exposição homônima, com curadoria de Mario Helio e Karla Veloso e registros da jornalista e fotógrafa Malu Didier.
No mesmo número 90, Edson Nery da Fonseca viveu. Neste endereço, os gatos estavam nas paredes, em quadros, pesos de papel, estátuas, chaveiros e bibelôs de toda sorte. A casa do bibliotecário pernambucano foi um verdadeiro templo felino. Eram mais de 1.800 enfeites sobre o tema e não podiam faltar eles, claro. A intimidade do homem símbolo da Biblioteconomia no Brasil foi dividida com mais de 50, com destaque todo especial para Daminha, Rosinha, Chiquinha, Princesa e Fernando. Em vida, ele revelou o motivo da paixão à revista Piauí. “Minha mãe gostava de gatos e ela morreu muito jovem, com 52 anos. Dias depois a gata dela, Catuxa, morreu de desgosto. Achei muito leal.”
Quem foi Edson Nery da Fonseca?
Na profissão pela qual é reconhecido até os dias atuais, o pernambucano registra marcos como a criação da Biblioteca Central, da Universidade de Brasília (UnB), onde formatou também o curso de Biblioteconomia. Colaboradora do Programa Memória do Mundo, da Unesco, a socióloga Gilda Verri lembra que foi convidada para cursar o mestrado na UnB por sugestão de Nery. “A partir do convívio com ele minha admiração por seu trabalho com bibliografia (disciplina de Ciência da Informação) cresceu. Ele trouxe para o país questões bibliográficas no campo das Ciências e das Humanidades”, destaca Verri, que também é formada em Biblioteconomia.
No Distrito Federal, Nery da Fonseca tem sua assinatura também no acervo da biblioteca do Palácio da Alvorada. O projeto foi confiado a Antônio Houaiss e Francisco de Assis Barbosa, mas coube a ele a compra, tombamento e catalogação dos exemplares. Na cidade natal Recife, ele fundou o primeiro curso de Biblioteconomia do Nordeste e reformou as bibliotecas da Faculdade de Direito e da Escola de Engenharia. Autor de “Introdução à Biblioteconomia” (Briquet de Lemos, 2007), o bibliotecário foi um forte defensor da informatização dos acervos, ainda que muitos colegas o criticassem por acreditar que a modernização acabaria com o valor do livro.
Professora especializada em necessidades específicas, Lúcia Fonseca de Melo é sobrinha do homenageado e recorda a paixão do tio pelos livros. “Ele sempre preservou a paixão pela leitura. Aos 92 anos, ainda pedia que comprássemos seus livros”, conta, ao revelar que os novos títulos precisavam ser destacados da capa e entregues em parcelas menores para que ele pudesse segurá-los. Antes de vender sua coleção para o empresário Ricardo Brennand, em 2001, o bibliotecário reuniu um volume de 11.700 livros. Nas coleções, títulos de Salvador Dalí, Manuel Bandeira, Fernando Pessoa e T. E. Lawrence, além, claro, de Gilberto Freyre.
Dentre os seus orgulhos de Nery da Fonseca, estava o título de maior especialista da obra do sociólogo e escritor Gilberto Freyre. Mas não apenas. Foi também amigo pessoal do autor de “Casa Grande & Senzala” e idealizador da Fundaj por 47 anos. Pela Editora Massangana, da Casa, ele lançou os títulos “Um livro completa meio século” (1983), um ensaio sobre o maior clássico freyriano, e “Em torno de Gilberto Freyre” (2007), publicado 20 anos após a morte do mestre de Apipucos. Ao todo, dedicou 135 ensaios à obra de Gilberto Freyre. Muitos deles presentes no título “O Grande sedutor: escritos sobre Gilberto Freyre de 1945 até hoje” (Cassará Editora, 2011).
Programação
Virtual
Série documental "Edson Nery da Fonseca"
30 de novembro
17h — Episódio 1: A vida de um/a gato/a freyriano/a, bem situado/a e mestiço/a, equilibrando-se nos antagonismos
01 de dezembro
17h — Episódio 2: A vida de um/a gato/a bibliotecário/a é aprender a tirar de letra os males dos humanos e as agruras do mundo
02 de dezembro
17h — Episódio 3: A vida de um/a gato/a religioso/a é um misterioso adagio e andante, cheia de fraternidade e amor pra dar e receber
03 de dezembro
17h — Episódio 4: A vida de um/a gato/a crítico/a literário/a é um livro aberto, cheia de aventuras e apenas o sonho como concessão à rotina
04 de dezembro
17h — Episódio 5: A vida de um/a gato/a servidor/a público/a é o gosto de afagos (no ego), que nunca se aposenta
05 de dezembro
17h — Episódio 6: A vida de um/a gato/a escritor/a é uma transfusão de magia de gotokoneko
06 de dezembro
17h — Episódio final: A vida de um/a gato/a homem/mulher é familha, partilha, uma forma de solidão abarrotada
Presencial
17h — Concerto erudito no Mosteiro de São Bento
18h — Exposição “As 7 vidas de Edson Nery da Fonseca”
Ateliê Arte Machê Café (Rua de São Bento, 90. Sítio Histórico de Olinda)
Serviço
As 7 vidas Edson Nery da Fonseca
Virtualmente
De 30 de novembro a 6 de dezembro
Horário: 17h
Transmissão no canal da Fundaj, no YouTube
Presencial
6 de dezembro, segunda-feira