Notícias
Pesquisa da Fundaj sobre a tragédia de Brumadinho se destaca na 6ª Expedição Científica do Baixo São Francisco
Passados quase cinco anos da tragédia de Brumadinho, na Grande Belo Horizonte, os riscos de contaminação ainda são grandes. Por isso, no último domingo (26), durante as atividades da 6° Expedição Científica do Baixo São Francisco, em Penedo/AL, o professor Neison Freire ministrou palestra sobre a pesquisa intitulada “Monitoramento Geoespacial do risco de contaminação do Rio São Francisco pós-Brumadinho”.
Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), mas atualmente cedido ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de Alagoas, Neison coordenou, no mesmo ano da tragédia, essa pesquisa da Fundaj. "A apresentação do nosso trabalho na Expedição Científica teve grande repercussão entre os pesquisadores no Baixo São Francisco. Na transmissão ao vivo pelo Instagram da UFAL, foram alcançadas mais de 2,5 mil contas. Foi um debate rico e interessante, mesmo acontecendo num domingo à noite", afirmou Neison Freire.
O professor explicou que, para a pesquisa, foram utilizados parâmetros geofísicos e análise de imagens de satélite. "Com isso, conseguimos concluir que, no dia 12 de março de 2019, ou seja, menos de dois meses depois do rompimento da barragem em Brumadinho, parte dos rejeitos do desastre chegou à represa de Três Marias, o maior reservatório do sistema Furnas/Cemig, no Alto São Francisco. Desde então, vem se diluindo e, certamente, contaminando, de alguma forma, esse imenso recurso hídrico, que é uma das caixas d'água do sistema do Rio São Francisco, das grandes hidrelétricas."
Segundo ele, a pesquisa também chegou à conclusão que novos desafios surgem para a Ciência. "Isso no sentido de formular novos métodos, novas metodologias para a detecção nos grandes lagos do sistema. E certamente esse material, somado a uma série de outros eventos, inclusive da mineração no Alto São Francisco. Por exemplo, quando nós estivemos lá, eu e a pesquisadora Beatriz Mesquita, detectamos que existem pequenos acidentes que não saem na mídia por serem pequenos, mas o somatório deles preocupa", esclareceu.
Neison destacou ainda a importância das pesquisas realizadas pela Fundação Joaquim Nabuco. "Já são quase quatro anos da publicação da pesquisa, dos resultados e do artigo publicado na revista 'Ciência e Natura'. De lá pra cá, já houve outros desdobramentos através de parcerias. Ou seja, é imprescindível que a gente integre as nossas pesquisas com outras instituições", enfatizou.
Por isso, fez questão de lembrar que, na próxima semana, no mesmo município de Penedo, será realizado o Seminário "Governança Ambiental Municipal na Região Costeira do Rio São Francisco". O evento tem como objetivo divulgar e discutir os resultados da pesquisa "Participação e Governança Ambiental Municipal: Territórios Costeiros", coordenada pela Fundaj, por meio da Diretoria de Pesquisas Sociais (Dipes), em parceria com a Universidade de Pernambuco (UPE) e o Instituto Federal de Alagoas (IFAL).
Expedição Científica
A 6ª Expedição Científica do Baixo São Francisco (@expedicao_saofrancisco) é realizada pela Universidade Federal de Alagoas, em parceria com mais de 30 instituições. São cerca de 100 expedicionários diretamente envolvidos, entre pesquisadores e equipe de apoio, que percorrerão 8 cidades (Piranhas, Pão de Açúcar, Traipu, São Brás, Igreja Nova, Penedo, Piaçabuçu e Propiá/SE), ao longo de 10 dias, até a foz do Rio São Francisco.
"Como nós estamos na Expedição do Baixo São Francisco, interessa a toda a bacia qualquer coisa que aconteça no Alto São Francisco porque repercute nas outras regiões hidrográficas e se torna essencial desenvolver novas pesquisas que possam avaliar esses impactos sobre o Rio São Francisco. Inclusive, a pesquisa aponta novas tecnologias que poderiam ser utilizadas, como o sensoriamento remoto hiperespectral da água", explicou. A imagem hiperespectral coleta e processa informações de todo o espectro eletromagnético. O objetivo da imagem hiperespectral é obter o espectro de cada pixel na imagem de uma cena, com a finalidade de encontrar objetos, identificar materiais ou detectar processos.
Histórico da tragédia
Já são quase cinco anos da maior tragédia ambiental da história do Brasil. No dia 25 de janeiro de 2019, a barragem da Mina Córrego do Feijão, da mineradora Vale, em Brumadinho, na Grande Belo Horizonte, rompeu-se, causando a morte de 272 pessoas e gerou uma série de impactos sociais, ambientais e econômicos ao espalhar resíduos de minério pela bacia do Rio Paraopeba.