Notícias
Fundaj celebra o centenário de Manuel Correia de Andrade
Poucos intelectuais brasileiros tiveram uma produção acadêmica tão profícua quanto Manuel Correia de Andrade, autor de mais de 100 livros na área das humanidades. A obra desse geógrafo, historiador, professor e pesquisador, nascido há exatos 100 anos, reverbera até a atualidade. Sua importância é refletida nos estudos que se baseiam em sua obra, como também nos prêmios e títulos recebidos em vida e após o seu falecimento, em 2007, aos 84 anos.
Dada a magnitude dessa ilustre figura, a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) se alegra em fazer parte da sua trajetória de vida. Em 1984, Manuel Correia de Andrade assumiu a Coordenação-Geral do nosso Centro de Estudos da História Brasileira (Cehibra), onde deixou um grande legado. Betty Lacerda, que foi pesquisadora de um projeto coordenado por Manuel Correia de Andrade na Fundaj, em 1986, hoje ocupa o mesmo cargo que um dia foi do seu mestre. “Eu devo a minha trajetória, a minha capacitação, a minha formação como pesquisadora, como gestora, a ele. Manuel sempre foi uma pessoa muito generosa”, conta a coordenadora-geral do Cehibra.
Como reconhecimento aos projetos desenvolvidos por Manuel na Fundaj, a casa prepara uma série de homenagens que marcam o seu centenário de nascimento. Uma série de vídeos, 100 ao todo, serão produzidos para celebrar a vida e a obra deste importante intelectual. O material poderá ser acompanhado nas redes sociais da Fundaj.
Além disso, o Seminário Nacional “A terra e o homem: Centenário de Manuel Correia de Andrade”, realizado em parceria com a Fundaj, está sendo realizado até a próxima sexta-feira (5), no campus Recife da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O evento amplia as discussões sobre a vida e a obra deste importante pesquisador das ciências humanas, abordando questões sobre as relações entre a terra e o homem dentro da perspectiva da análise regional.
Biografia
Neste mesmo dia 3 de agosto, em 1922, nascia Manuel Correia de Andrade. Natural de Vicência, na Zona da Mata Norte de Pernambuco, o jovem que se tornaria um dos principais pensadores das ciências humanas do Brasil passou a infância ao lado dos pais e dos oito irmãos no engenho Jundiá, onde observava a dinâmica dos trabalhadores da cana e as hierarquias presentes naquele espaço.
Toda essa bagagem da infância refletiu-se em sua futura produção e formação acadêmica, cujo primeiro passo foi dado na Faculdade de Direito do Recife, a partir de 1941. A trajetória intelectual de Manuel seguiu na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, atual Universidade Católica de Pernambuco, onde ingressou, em 1943, na turma pioneira do Curso de Geografia e História. A esta altura, a obra Gilberto Freyre já exercia forte influência em Manuel.
Vinte anos depois, já formado um experiente historiador e geógrafo, Manuel lançou o grande marco da sua bibliografia: o livro “A terra e o homem no Nordeste: contribuição ao estudo da questão agrária no Nordeste”. Publicada às vésperas do golpe de 1964, a obra foi proibida pelo governo militar por quase dez anos e foi um dos motivos que levou Manuel a ser preso, juntamente com a sua militância política e sua participação em programas de educação de adultos e de apoio a pequenos produtores rurais desenvolvidos no governo de Miguel Arraes.
Quando iniciou a vida docente em cursos secundários, suas aulas já recebiam alunos ilustres, como Agamenon Magalhães, Ariano Suassuna, Epitácio Pessoa, Clarice Lispector, José Lins do Rego, Celso Furtado e Waldemar de Oliveira. Em 1952, ingressou como docente na UFPE, onde participou da criação do Programa Integrado de Economia e Sociologia-PIMES, que originou os Mestrados de Economia e Sociologia. Foi nessa mesma instituição que, após a sua aposentadoria, recebeu o título de Professor Emérito da Universidade, figura entre um dos principais pensadores das ciências humanas do Brasil.
Manuel foi também pesquisador da Sudene e do CNPq; professor da USP, UNESP, e de universidades ao redor do mundo; além de coordenador-geral do Centro de Estudos da História Brasileira (Cehibra), da Fundaj.
Defensor da interdisciplinaridade nas ciências humanas, o autor é uma referência para o debate de temas como a questão agrária, planejamento regional, geopolítica, questões ambientais, estrutura fundiária e história das revoltas populares.