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Encerramento da exposição “Elas” celebra legado para a sociedade, debate acervo institucional e homenageia artistas na Fundaj
Uma reflexão sobre a visibilidade feminina e as lacunas no acervo institucional da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj). Após ocupar o primeiro andar do Museu do Homem do Nordeste (Muhne) por 16 meses, a exposição “Elas: onde estão as mulheres nos acervos da Fundação Joaquim Nabuco?” chegou ao fim na segunda-feira (15/12). Realizado na sede da Fundaj, em Casa Forte, o evento de encerramento da mostra foi marcado por uma palestra da historiadora, antropóloga, curadora e imortal da Academia Brasileira de Letras Lilia Schwarcz, além de uma homenagem a dez artistas cujas obras foram expostas na mostra e o lançamento oficial do catálogo da exposição.
Inaugurada em 15 de agosto de 2024, “Elas: onde estão as mulheres no acervo da Fundação Joaquim Nabuco” marcou a reabertura do primeiro andar do Muhne, fechado desde 2008, e serviu como um exercício de autocrítica institucional. A exposição reuniu mais de 400 itens sob responsabilidade da instituição — entre publicações, vídeos, fotografias, pinturas, discos de vinil, rótulos comerciais e outros — criados por mulheres ou que representam identidades femininas. Todos os itens vieram de aquisições e doações de entidades e acervos pessoais, a maioria sob a guarda do Centro de Estudos da História Brasileira (Cehibra) e do Muhne.
Visita à exposição e ao Gabinete da Presidência
Antes da conferência, Lilia Schwarcz foi recebida pela presidenta da Fundaj, Márcia Angela Aguiar, em seu gabinete, acompanhada do coordenador-geral do Muhne, Moacir dos Anjos, da historiadora Cibele Barbosa e do museólogo Henrique Cruz. A imortal da Academia Brasileira de Letras também visitou a exposição “Elas: onde estão as mulheres nos acervos da Fundação Joaquim Nabuco?”, onde pôde ficar de frente com as pinturas, fotografias, documentos, videoartes, esculturas e textos curatoriais reunidos no Muhne. Para a historiadora, o fato de esta ser a primeira vez em que a Fundaj exibe uma exposição sobre com recorte de gênero e de sexo em primeiro plano “é muito revelador dos novos momentos que a gente vive e também revelador, por outro lado, sobre as políticas de esquecimento e apagamento”. “Achei a exposição impressionante, não só pela quantidade de documentos que eu desconhecia, mas também pela qualidade dos documentos e a qualidade expográfica. É um grande feito da Fundação Joaquim Nabuco”, concluiu.
Palestra com Lilia Schwarcz
Com a Sala Calouste Gulbenkian lotada, a mesa de abertura do evento contou com a participação da presidenta da Fundaj, Márcia Angela Aguiar; do diretor de Memória, Educação, Cultura e Arte (Dimeca/Fundaj), Túlio Velho Barreto; da coordenadora-geral do Cehibra, Nadja Tenório; e do coordenador-geral do Muhne, Moacir dos Anjos. Em suas falas, eles ressaltaram a relevância da mostra para a instituição e para o debate sobre o que é ser mulher no Brasil.
A presidenta da Fundaj celebrou a conclusão do ciclo expositivo e o que ele representa para a sociedade. “Não há como ignorar a grandeza que foi a exposição ‘Elas’ por retratar justamente as mulheres e dar essa visibilidade. É uma entrega importante da Fundação Joaquim Nabuco à sociedade num momento em que o país, lamentavelmente, apresenta um aumento de casos de feminicídio. Essa exposição também tem um sentido político ao mostrar que temos que valorizar e reconhecer o trabalho das mulheres brasileiras”, afirmou Márcia Angela.
O diretor da Dimeca/Fundaj, Túlio Velho Barreto, relembrou a renovação da exposição de longa permanência, que deve ocupar também o primeiro andar do Muhne, onde estava montada a “Elas”. “Essa exposição foi a primeira iniciativa da Dimeca/Fundaj assim que a gente assumiu a gestão. Como é a minha primeira experiência com exposição de grande porte, é um momento muito significativo fechar a ‘Elas’”, disse.
A programação de encerramento da exposição foi seguida pela palestra “Imagens da branquitude nos acervos da Fundaj”. Conduzida pela antropóloga Lilia Schwarcz — que também é professora na USP e na Universidade de Princeton, nos EUA —, a atividade contou com mediação da historiadora Cibele Barbosa, do Cehibra. A conferência teve influência do trabalho mais recente de Schwarcz, “Imagens da branquitude”, que dialoga com a mostra por tratar sobre ausências, mas incluindo também discussões sobre o racismo epistêmico e visual nos acervos institucionais.
Entre as reflexões trazidas pela professora a partir da análise dos acervos, está, por exemplo, o fato de as mulheres e pessoas negras serem maiorias transformadas em minorias em suas representações. “Os museus andam num momento de rever a suas políticas de arquivo e de exposição. De rever a sua política como identidade mesmo. Porque, mais do que tomar os arquivos pelo que eles têm, é preciso pensar no que os ativos fazem e no que os ativos produzem e como é possível, criticamente, que a gente inverta esse tipo de conhecimento e produza contramemórias.”.
Homenagens às artistas com obras expostas
O evento também homenageou dez mulheres com obras presentes na exposição. A honra foi concedida às artistas Jandira Rodrigues da Silva, Roberta Barbosa Guimarães, Marliete Rodrigues da Silva, Cleonice Otília da Silva, Maria Santina da Silva, Edinalva do Vale Silva, Natalice da Silva Souza, Ana Elizabeth Lisboa Nogueira Cavalcanti, Ana Elisabete de Gouveia e Elizângela Maria do Nascimento, conhecida como Elizângela das Palafitas. A solenidade foi conduzida pela historiadora Rosilene Farias, do Museu do Homem do Nordeste, que destacou a trajetória de vida de cada uma das homenageadas e suas obras de maior destaque na exposição. Em seguida, elas receberam um certificado em reconhecimento às suas contribuições para a “Elas” e um exemplar do catálogo da mostra.
Lançamento do catálogo
A programação foi encerrada com o lançamento oficial do catálogo “Elas: onde estão as mulheres no acervo da Fundação Joaquim Nabuco?”. A publicação da Editora Massangana, traz, em suas 256 páginas, fotos, textos e documentos sobre a exposição.Participaram deste momento os organizadores — Silvia Barreto, o chefe do Serviço de Estudos Museais, Henrique Cruz, e a historiadora Rosilene Farias —, junto à historiadora Cibele Barbosa e a coordenadora do Centro de Documentação e Pesquisa (Cdoc/Cehibra), Sylvia Couceiro. O projeto editorial é do coordenador da Editora Massangana, Cristiano Borba, junto a Hélter Pessôa e Hiago Henrique, este último também responsável pelo projeto gráfico. O Muhne, o Cehibra e a Editora Massangana são vinculados à Dimeca/Fundaj.